Capítulo II

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Era mais um dia como todos os outros, eu e o Henrique havíamos nos transformado em grandes amigos e eu já tinha me acostumado com a nova escola. Pela primeira vez, minha vida estava ótima. E eu não sabia, mas estava prestes a mudar, e eu seria a caçadora, não a presa como sempre. Era recreio, estava uma tarde escura e eu e meu único amigo estávamos conversando sobre o que queríamos ser quando crescer, ele queria ser cantor, aquilo me chocou bastante, porque tipo, ele era bem tímido e introvertido, e nunca tinha falado nada sobre música comigo, eu achei intrigante, talvez ele esncondesse seu verdadeiro eu. Umas meninas estavam jogando verdade ou desafio, era uma brincadeira só de garotas, e uma delas resolveu me convidar. Como as garotas descoladas estavam lá, eu explodi de animação. Tipo, eu sempre quis falar com elas, e aquela poderia ser minha grande chance de fazer amigas, e entrar pro grupo das descoladas, eu não dava muito valor pro Henrique na época. Eu falei que sim na hora, eu estava muito, muito, muito animada pra jogar e saí correndo, depois disso, eu e Henrique nunca mais fomos amigos. Enfim, fui pra roda e sentei do lado de uma menina loira, bem alta, ela era ótima em esportes e sabia se maquiar muito bem, fazia parte do grupo das descoladas (não confunda com o grupo das bullys), e do lado de uma menina com corte Chanel preto, olhos castanhos, meias listradas e camiseta larga, ela era do grupo das góticas (não confunda com o grupo das e-girls, ou o grupo das depressivas!). A nossa sala era aquele tipo de sala que tinha vários grupinhos, tinha o grupo dos rockeiros, dos fãs de anime, dos estudiosos, dos funkeiros, das bullys, das descoladas, das e-girls, das góticas, das depressivas, das esportistas e das excluídas. Eu por exemplo, não fazia parte de nenhum dos grupinhos, mas com certeza o que mais se encaixava a mim era o das excluídas ou das depressivas. Uma menina girou a garrafa e caiu a Karen, que era a garota de cabelos cacheados pretos, rosto fino e tal, que encontrei no primeiro dia. Ela era uma das bullys, ela deveria perguntar pra uma garota chamada Rose, ela era bem quietinha e delicada.
-Rose, verdade ou desafio?
-Desafio
-Te desafio a tirar esse bumbum murcho aí do chão e sair do jogo, e não pode voltar.
-Q-que? Mas porque Karen? E-eu estou incomodando?
-Ah, já que perguntou, está sim. Seu bafo de peixe morto incomoda muito.
Rose cobriu a boca com as mãos e saiu correndo, vi lágrimas escorrendo do seu rosto, por algum motivo, não senti dó dela, achei que ela tinha merecido aquilo e comecei a rir, todos me encararam. As bullys sorriram, mas o resto ficou meio incomodado com o desafio e minhas risadas.
A garrafa girou de novo e caiu Mirela, ela deveria perguntar pra mim.
Eu sabia que ia dar ruim, e deu mesmo.
-Verdade ou desafio, Stella?
-V-verdade
-É verdade que você tem inveja da Karen e de mim?
Eu senti vontade de explodir dia vergonha, não podia falar a verdade.
-Que? Não! Porque você acha isso?
-Você fica tentando nos copiar e fica olhando a gente todo dia, admite invejosa.
-Que? Claro que não. Não teria inveja de duas idiotas igual vocês. Vocês só sabem pentear o cabelo e fofocar.
Essa foi uma mentira que eu contei que eu nunca vou esquecer, porque eu poderia ter me ferrado muito por causa disso, mas aconteceu tanta coisa que nem lembram mais disso. Mirela ficou brava e me encarou como se quisesse me matar, desse vez, todo mundo sorriu, menos a Karen e a Mirela.
-Hm, então você realmente acha que só sabemos fofocar e pentear o cabelo?-A Karen disse
-Acho sim! E daí?
-Hunft, podemos conversar em particular?
Eu senti meu sangue gelar, elas eram as bullys, é claro que eu levaria uma surra, me encolhi nas roupas lentamente e com um fio de voz disse
-Tá.
A gente foi pra um canto do pátio e Mirela segurou meu braço como se fosse quebra-lo.
-Escuta aqui, sua idiota. Se vc falar alguma coisa ruim sobre a gente de novo eu juro que vou...- Ela disse apertando cada vez mais meu braço. Eu a encarei e fechei a cara, puxei meu braço de volta e ela suspirou nervosa.
-Escuta, Stella, ou você entra pro nosso grupo, ou acabamos com você.- Disse Karen.
Eu me assustei, porque ela queria alguém como eu no grupo dela?
-Hmf, tá. Mas porque me quer no grupo?
A Mirela parecia mais assustada do que eu, ela estava quase branca de tão surpresa.
-O QUE? ESSA SEM-TETO NO MEU GRUPO? ELA NÃO TEM CHANCE!
A Karen a olhou com um olhar sério e disse
-Na real, o grupo é nosso, e eu convido quem eu quiser. Ela foi corajosa o suficiente pra encarar a gente, duvido que não seria uma boa Bully.
A Mirela estava assustada, brava, decepcionada e absolutamente sem palavras, porque tipo, a Karen tava certa, não tinha como negar. Mas eu me surpreendi, não achei que encarar duas patricinhas mudaria tanto minha vida. Karen mudou seu tom de voz
-Escuta, na real se não quiser não precisa entrar pro nosso grupo. Eu e a Mirela estamos sozinhas e precisamos de mais uma. Você é a única que teve coragem de encarar a gente, e vai ser bom ter você como aliada em vez de rival. Não vou acabar com você se não quiser participar, apenas não nos incomode mais.
-Hmf, eu aceito entrar nesse grupo idiota, mas só porque não tenho nada melhor pra fazer.
Era uma mentira, na real eu estava muito animada com o convite, finalmente teria amigos. Eu voltei pra falar com o Henrique, e já cheguei gritando.
-Henrique! Henrique! Você não vai acreditar! Mirela e Karen me convidaram pra participar do grupo das bullys! Não é demais? Terei mais amigos!
-Você aceitou? Você entrou no grupo das Bullys?- Ele respondeu, parecendo mais decepcionado do que animado por mim.
-Claro! Porquê não aceitaria?
-...
O silêncio de Henrique me atormentou, ele fez uma longa pausa e disse
-Fazer bullying é errado, elas machucam as pessoas. Você deveria saber disso. Não se envolva com elas, você não é como elas, sei que é uma boa pessoa.- Ah, como eu queria ter escutado ele.
-Sabe o que eu acho? Que você está com inveja de mim por ter mais amigos que você! Eu era uma sem teto até agora, e derrepente sou uma bully superdescolada! Você está é com inveja! Espere até eu ser a maior aluna daqui! Tchau perdedor!- Na hora eu tinha me achado tão debochada e incrível de dizer aquilo...Henrique era meu único amigo, a única pessoa que me acolheu, e, ainda sim, tive a coragem de chama-lo de invejoso. Nunca vou saber qual foi a reação dele, porque sai correndo antes que ele pudesse dizer alguma coisa. Eu não me importei com Henrique, eu era descolada agora. Fui até às Bullys e almoçamos juntas, era um novo começo, e eu poderia recomeçar também.

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