Capítulo III

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Estava tão frio e vazio como meus pensamentos
Minha mente rodeava das palavras que gritaram pra mim
Eu não queria ir pra casa, mas não tinha pra onde ir
Eu não tinha amigos
Eu não tinha ninguém pra pedir ajuda
Eu não tinha ninguém pra me acolher
Ninguém pra conversar
Eu era só uma criança
O vento batia forte e meus passos pesados eram a única coisa que quebrava o largo silêncio da minha rua
Estava tão distraída que meu casaco de tecido leve, que quase não esquentava, enroscou em um galho e rasgou
Sabia que me encrencaria por causa daquilo, se é que ela se importaria
As dúvidas explodiram na minha cabeça e lágrimas escorreram
Era tanto pra pensar
Agaixei com o casaco em mãos e afundei meu rosto nele, chorando
Eu sabia que aquilo não resolveria meus problemas, mas eu não sabia o que fazer
Eu era tão pequena, tão impotente
Nada me vinha a cabeça além de palavras que me disseram
Palavras doloridas
Como seria o rosto do meu pai me veio a cabeça
Eu lembrei de tudo que me machucou
Minhas mãos estavam avermelhadas com o frio, assim como meu rosto afundado nas lágrimas e no casaco rasgado
Então, acordei
Esse sonho não é bem um sonho, e sim uma lembrança confusa
A lembrança que começou tudo isso.
Fazia tempo que esse pesadelo não me vinha a cabeça, era uma memória horrível que queria esquecer. Eu me lembro como se fosse ontem
Eu sofria Bullying na escola, e nunca falei pra minha mãe por ela ser alcoólatra e nunca estar disponível, ninguém se importava comigo
Uma turminha, 5 garotos, faziam Bullying comigo.
Me chamavam de coisas tipo "sem-teto!" "Menina de rua!" "Mendiga" "cabelo de rato!" "bafo de peixe!" e diziam coisas do tipo "Sua mamãe não te dá roupas? Tadinha", "Coitadinha, precisa de caridade" "quer dinheiro? Pede pra mamãe!" "Seu pai te abandonou por que você é uma idiota!"
Aquilo me machucava muito, mais muito, eu não tinha culpa da minha mãe não me amar e do meu pai ter me abandonado, só queria uma vida normal como meus colegas de classe.
O menino que mais me incomodava chamava Théo, como eu odiava ele. Tudo que eu queria era acabar com a raça dele. Um dia ele roubou meus tênis na hora do recreio e jogou em cima dos fios da escola, não consegui pegar de volta nunca mais. Outro dia, ele pegou minha garrafa plástica de água, abriu e jogou tudo na minha cabeça.
“Haha, deveria me agradecer, você precisava mesmo de um banho, sem-teto!” suas palavras me machucavam muito. Eu sofri Bullying por 8 anos e me odiei por isso. Suas palavras afetaram muito minha autoestima. Eu me sentia mal com meu cabelo e roupas (até hoje me sinto mal quando uso uma roupa muito larga), talvez seja frescura e eu seja uma dramática chorona, mas acho que pensar nisso só vai me deixar mais chateada, mas, não consigo evitar pensar isso. Então, tento não me lembrar de quando eu sofria bullying, só pra não me sentir mal, mas na real eu sofri muito, teve um dia que um menino me bateu bem no nariz, sangrou muito. Eu levantei da cama ainda meio zonza em dúvida se eu estava na realidade ou não. Esfreguei meus olhos com força e os abri, encarei o armário que ficava na frente da cama e aos poucos entendi o que estava acontecendo. Tentei me convencer de que aquilo “era passado” e que “era só um sonho” mas na real, eu achava que poderia ser um sinal. Eu peguei meu despertador pra conferir o horário e eram quase 8 horas, minha aula era às 8:30, me atrasar poderia ajudar na minha reputação, então resolvi me atrasar. Não sei o que passou na minha cabeça que eu seria uma pessoa rebelde e descolada se me atrasasse, mas eu estava orgulhosa por me esforçar pra me enturmar com as descoladas. Fui até o banheiro na ponta dos pés e abri uma gaveta no armário embaixo da pia, remexi as coisas lá dentro tentando encontrar a maquiagem da mamãe. Eu encontrei e a peguei, passei um batom bem vermelho e um blush clarinho, eu arrumei as coisas na gaveta de novo pra ela não suspeitar de nada, prendi meu cabelo em um coque desengonçado, mas bonito, e coloquei a roupa menos largada e rasgada que eu tinha, era branca e tinha lantejoulas cinzentas, coloquei a calça jeans da minha mãe, que estava com cheiro de bebida alcoólica então tive que passar álcool gel nela, peguei minha mochila e fui pra escola.
Ok, Eu não parecia uma artista de Hollywood mas, eu estava bem melhor do que antes...Eu acho. Quando eu entrei na sala, o clima já parecia diferente, o Henrique voltou a ficar sozinho e Mirela e Karen vieram em disparada conversar comigo.
–Bleh, odiei essa blusinha, é muito sem graça– A Mirela disse derrepente.
–Pode até ser, mas o coque dela realmente deu uma mudada no visual. Ei, esse batom não combina com você, está tentando ser descolada?– A Karen disse abaixando o tom de voz. Eu corei porque me envergonhei de querer ser descolada. Ela sorriu e disse:
–Tudo bem, eu te ajudo.
Eu virei os olhos de volta pra ela com um sorriso aliviado. Ela me levou pro banheiro e tirou meu batom. Ela era tão bonita e delicada, eu me sentia incrível de estar com ela. Ela ajeitou minha maquiagem e eu realmente fiquei bonita, ela me emprestou uma camiseta e eu amei.

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2022 ⏰

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