Capítulo único

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As madrugadas na ripa nunca eram silenciosas. Agora, as três da manhã, ainda era possível ouvir passos dos membros da gangue no andar de baixo, e passos de pequenos roedores no telhado. Também era possível, de uma maneira que ainda era inacreditável para Kaz, ouvir os sons de Inej enquanto ela dormia.

Kaz ja a viu dormir antes, quando as coisas eram mais difíceis para eles, para todos eles, naqueles tempos não era possível ouvir nem mesmo sua respiração, e saber que em seu momento mais vulnerável ela sentia-se confortável com ele ao ponto de baixar a guarda fazia seu coração doer.

Ele olhava para ela enquanto o sonho voltava a memória, ele sonhou com Jordie novamente, ultimamente seus sonhos com o irmão eram recorrentes, eles na fazenda, quando as coisas eram mais simples, eles dividindo um chocolate quente sentados em alguma calçada de Ketterdam.

Hoje ele havia sonhando com Jordie e Inej, Inej andava na corda bamba, em um espetáculo de circo, Kaz e Jordie, ainda crianças, estavam na platéia, extasiados observando a garotinha que parecia não ter medo de nada, em um certo momento ela se desequilibrou, as flores que adornavam seus cabelos caíram sobre o público, Jordie ao seu lado perdeu o fôlego e Kaz sentiu seu coração parar por um momento, com medo pela garota que nem conhecia.

Quando acordou ele viu que ela estava do seu lado, salva. Entre eles havia um amontoado de travesseiros que impedia que seus corpos se tocassem durante o sono, uma medida de segurança. As luzes da cidade se esgueiravam pelas frestas da janela iluminando os cabelos escuros de inej, eles brilhavam sob a luz e as mãos de Kaz coçavam para descobrir se eles eram tão macios quanto pareciam.

Em um movimento quase involuntário a mão direita de Kaz, despida da luva, avançou por cima das travesseiros e flutuou por um momento sobre a cabeça da garota, incerto. Tão perto, um único gesto e ele tocaria nela. Tão perto. Lentamente, quase hesitante, seus dedos tocaram os cabelos dela, seu toque foi carinhoso e cuidadoso e por um segundo ele teve medo de que ainda estivesse sonhando.

Ele tinha razão, os cabelos dela eram mesmo maciosos, Kaz quis rir. Quando, em seus sonhos mais loucos, ele, Kaz Brekker, estaria tocando Inej Ghafa tão livremente?

Seus dedos enrolaram um cacho dos cabelos dela e seus olhos se fecharam, curtindo a sensação. Sua respiração normalizou e ele adormeceu outra vez.

Na escuridão parcial Inej suspirou, sentiu a mão de Kaz em seus cabelos e sorriu.

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