Gerânio: sentimento

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Itachi percebeu e absorveu com facilidade a rotina de Sasuke.

Em poucos dias ele entendeu como o irmão mais novo levava sua vida além dos muros da mansão onde cresceu, sempre levantando mais cedo para deixar algumas coisas de casa em seus devidos lugares; depois ele abria a floricultura, e revelou ao mais velho que costumava almoçar por lá, sem de fato retornar ao segundo andar.

A exceção fora aberta somente porque Itachi estava ali, e a própria distância, apesar de não ter admitido, amoleceu o coração de Sasuke. Considerando como o mais velho cuidava de si, não era surpresa que Itachi estivesse quase de todo livre de qualquer orgulho e amarra que pudesse causar alguma inconveniência naquela convivência cheia de saudades.

Quando o horário de expediente chegava ao fim, Sasuke então fechava a loja e em casa finalizava o serviço geral de limpeza, cozinhava, e aos finais de semana lavava as roupas. Sempre cronometrado, como se estivesse em sintonia com o relógio, preciso como a um britânico.

Com Itachi fazendo parte de sua vida por algumas semanas, poucas coisas mudaram na rotina geral. Sasuke almoçava em casa, o que também lhe serviu como um teste para saber se conseguiria sustentar essa nova rotina, e o quão produtiva poderia ser, mas a grande mudança surgiu de verdade quando ele pode, por fim, estabelecer o espaço de seu café dentro da floricultura.

As mesas - redondas e pequenas, comportando até três cadeiras - ficaram distribuídas mais nas laterais, no entanto como toda a fachada de vidro era bastante grande, elas tinham visão para a rua, sem ficar com a passagem obstruída, sentindo-se sufocados. E o balcão onde Sasuke ficava - por ser largo o bastante -, comportava a máquina de cafés. Não havia muito mais do que algumas bebidas, mas esses detalhes foram se encaixando conforme ele entendeu o que poderia oferecer, até que uma tabela se montou acerca disso.

E o que se tornara um sonho realizado há alguns meses, vinham tomando formas mais detalhadas a cada dia passado.

- Era como você tinha imaginado?

Itachi perguntou aquilo que vinha tomando sua mente desde a ligação que revelou à família a nova vida de Sasuke. Em pouco tempo aprendeu a lidar com os clientes, e agora as flores não lhe eram mais estranhas. Tornaram-se íntimos, e Itachi sentiu que fazia parte novamente da vida de seu irmão.

- Eu acho que nunca é como a gente imagina. Porque a mente te dá o poder de pensar em tudo. - Ele costumava ficar atrás do balcão, acomodado sobre uma cadeira mais alta a qual conseguiu adquirir para não precisar passar dez horas em pé em quase totalidade, e vez ou outra fazendo algo no celular, ou folheando revistas da área. De repente, não era apenas somente o bairro que se mostrara antigo, mas velhos hábitos também. - Mas é muito parecido sim. Pelo menos o cheiro das flores me lembra do casamento.

Itachi era tão novo quanto Sasuke na ocasião. Mas diferente do caçula, que tinha maior liberdade para com Mikoto, Itachi precisava estar sempre ao lado do pai, que o apresentava para todos como seu primeiro filho, de modo que ele pouco tinha de lembranças doces da ocasião. Isso criava buracos em suas memórias da infância, mas essa era a única a qual mais lhe incomodava não ter maior conhecimento.

Porque era a mais marcante da vida de Sasuke. E se era importante para ele, automaticamente o era para Itachi.

Mas, infelizmente, ele não tinha nenhum momento eternizado na mente das feições admiradas e felizes do pequeno irmão, que naquele mesmo dia percebeu o que amava e gostaria de fazer. Era a fenda mais dolorida que lhe faltava.

- Não me lembro muito, o pai sempre nos separava em público.

Sasuke não esboçou alguma reação. Ele sabia, e abominava aquilo.

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