Segunda-feira
Acordei às oito da manhã com o despertador a tocar. "Tenho de mudar este toque" afirmava nos meus pensamentos, pelo facto da música calma de Beethoven. Peguei no telemóvel e decidi meter Turkish March de Mozart, o que me fez levantar da cama alegre e bailar enquanto escolhia qual o vestido mais formal que pudesse usar para a avaliação de hoje.
Não sabia a que horas seria a minha avaliação, provavelmente uma das últimas, se seguirem a ordem alfabética, como o costume. Só fui informada que começava às dez horas, que era a hora onde devia estar presente. Eu e mais duzentos alunos iriam ser avaliados, por isso tenho a certeza que aquilo ia, no mínimo, durar até às 16 horas ou no máximo até às 18 horas. Pousei o vestido na cama, vesti o meu roupão e calcei as pantufas, caminhando até à cozinha onde a minha mãe havia preparado as suas panquecas da sorte.
[...]
Com a roupa já vestida e a higiene feita, acabava a minha leve maquilhagem e analisava-me a mim no enorme espelho do meu quarto. Eu estava bonita, pelo menos apresentável; hoje os pensamentos negativos não podiam interromper a minha avaliação.
"Trixie?" ouvi a sua doce voz após as três batidas na porta "Podes tocar mais uma vez para mim?"
E assim foi, retirei rapidamente o violino da mala compatível e situei-o debaixo do meu queixo, abrindo a minha folha com a pauta musical e, delicadamente, a música foi-se formando e as notas completando-se. A minha postura era elegante e as notas audíveis eram tanto alegres como tristes.
"Vais arrasar o júri." ela opinou e sorriu orgulhosa.
[...]
"Não tens frio com esse vestido?" Zack interrogou-me, enquanto segurava no volante do carro "Bom dia."
"Bom dia." eu sorri nervosa "Obrigada."
"Não tens de quê." e assim partimos.
[...]
Chegámos ao sítio da avaliação, era um grande salão com por volta de 500 cadeiras, ou talvez mais, para os próprios alunos e os seus parentes e amigos terem a visualização de todas as avaliações. Cada aluno tocara uma música rápida e lenta escolhida por si.
Toda a gente já se encontrava instalada, e as audições começaram precisamente às dez horas.
"Nervosa?" sussurrou ele.
"Um bocado, mas passa." dizia tentando regular a minha respiração. A sua mão veio ter com a minha e entrelaçou-se com a mesma, o seu polegar esfregava-se nas costas da minha, tentando reconfortar-me.
"Vai correr tudo bem." falou novamente, com o mesmo tom de voz, sempre virado para a frente. Olhei para ele e um sorriso formou-se na sua cara, sem ele ter tido a necessidade de sequer olhar para mim.
[...]
"Toma." disse Zack, após quatro horas de avaliações, e sem eu sequer ter apresentado. "Eu sei que gostas de saladas quando estás nervosa, então fui pedir ali ao buffet."
"Obrigada."
[...]
"Trixie Swearford, da Bermighan French Conservatoire." falou o senhor do meio.
Na mesa do júri haviam três professores dos melhor conservatórios de Inglaterra: Ackley Jackson, o homem que me havia chamado; Upton York, que aparentava ter menos idade que Ackley e estava à esquerda do mesmo e Johanna Wadley, uma senhora também já de idade, na ponta direita da mesa.
"Toque a primeira música" falou ela "Por favor."
"Eu como música mais acelerada irei tocar Dance of The Little Swans por Tchaikovsky."
Os meus dedos deslizaram pelas cordas e a música foi-se produzindo, eu continuara a achá-la linda. Esta música deixara-me alegre e abstraía-me de tudo e de todos, exceptuando uma pessoa que estaria naquele público. Zack. Sem notar, a música havia acabado, e toda a gente aplaudia como fizeram a todos os outros alunos.
"E a próxima?" questionou-me o Sr. York.
"Vou tocar uma versão do Hallelujah, em que a música original é cantada por Leonard Cohen."
E assim foi, imaginei a minha mãe à minha frente, a bater sucessivamente e ritmicamente com o pé no chão, marcando o ritmo. Os meus lábios pintados de vermelho queriam sorrir, mas a minha cabeça não o permitia. Eu estava feliz com o que estava a fazer, e não me arrependo do que já havia aprendido. A música parou, isto é, terminou. Um último aplauso vindo de todos fez-me retirar do palco.
"Foste ótima!" elogiou-me Zack, o que me deixava com o espírito automaticamente mais alegre.
"Obrigada, outra vez."
[...]
Estava na cama, embrulhada nos meus cobertores e a beber a minha segunda chávena de chá, anotando no meu caderno, uma outra frase:
"Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate a náusea o apetite."
- William Shakespeare.