Alertas para homofobia, pensamentos suicidas, críticas políticas e casamento forçado.
(to the starts) the moon pleaded:
Stay.
1980
Soho, Westminster, Londres
Há muito tempo atrás haviam entendido que não iria acontecer. Não há tanto tempo assim. Para falar a verdade, ambos foram jovens incrivelmente insistentes. Talvez a melancolia nostálgica que apertava seu peito fosse uma das consequências por ter se obrigado a crescer tão rápido. Havia pensado que se deixasse sua juventude no passado, talvez algumas memórias ficassem lá também, talvez parte dos sentimentos em chamas de um adolescente fossem ser esquecidos, ou até mesmo apagados. Imbecil. Agora, Remus queimava como uma folha seca, não como um adolescente. A combustão crescia e machucava, se alimentando de toda e qualquer força que sobrasse. E muita coisa havia sobrado. Remus – e Sirius – ainda estava aqui, não mais bebendo cerveja barata, mas vinho; não mais sentados um ao lado do outro, mas cada um de um lado da mesa; não mais ansiosos para o que viria depois, mas consumindo cada momento como se fosse o último.
No pequeno restaurante discreto em um beco sujo de Soho, a luz amarelada pendente fazia o anel no dedo anelar da mão esquerda de Sirius brilhar. Era um anel preto – claro que era – e grosso, com pequenos diamantes encrustados formando a constelação canis major na parte de cima e, entrelaçado a ela, o ombro direito do caçador Órion na parte debaixo. Provavelmente era uma relíquia de família, mas Walburga – ou quem quer que tivesse mandado ornamenta-lo - não poderia ter sido ser um pouco mais criativa? Toda a sociedade bruxa já havia entendido qual era a tradição dos Black, não precisavam cravar em cada peça de roupa e bijuteria também. Remus estava cansado de encarar aquele anel. Claro que, no início, o moreno havia perguntado se não se sentiria melhor caso o tirasse. Não. Não faria diferença. E era perigoso.
Depois de várias tentativas haviam descoberto que terça à noite era o dia mais vazio na maioria dos restaurantes. Então, terça à noite virou o dia em que poderiam fingir que estavam sozinhos por algumas horas. James e Lily organizavam ocasionais jantares nos quais Remus ainda aparecia de vez em quando, mas Sirius não poderia se dar esse luxo. Ninguém falava sobre Black na presença de Remus, é claro. Na verdade, não costumavam conversar muito. Lily lhe serviria o jantar, ele agradeceria. James afirmaria diversas vezes que qualquer coisa que precisasse deveria pedir e eles o ajudariam imediatamente, ele agradeceria novamente. Se James se sentisse confiante o suficiente, diria que Sirius estava bem e que não deveria se preocupar, que haviam conseguido se encontrar naquele mês ou que ele parecia mais contente na última carta que havia enviado. Agradeceria, e talvez até sorrisse pelo esforço. Então, quando ambos não tinham mais nenhum assunto para tentar fazer Remus se distrair ou conversar um pouco, ele perceberia o desconforto e iria embora.
De qualquer forma, toda semana era Sirius quem pagava a refeição. Era como uma compensação por todo o dano psicológico que ele causava a Remus. Pelo menos, era o que o fazia se sentir um pouco melhor quando deitava do lado direito da cama de casal. Já havia passado da fase de se perguntar o que estava fazendo ali. Por mais que se sentisse morrer a cada dia, estava aonde deveria para garantir a segurança de todos, mas, especialmente, a de Remus. Não só porque o amava mais que a vida, mas sim porque sabia que se Walburga o entregasse para o Ministério após a união dos lobisomens a causa de Lorde Voldemort, ele seria feito de exemplo, tanto para mostrar 'que tipo de pessoa' os aurores depositavam sua confiança nestes tempos de crise, quanto para ser punido por não ter se registrado assim que atingiu a maioridade. Sirius não duvidava que também poderiam usá-lo para forjar algum tipo de efetividade na atividade - inexistente – de combate a ascensão de ideias supremacistas na comunidade bruxa. Criariam provas - não que os bruxos precisassem de provas para incriminar alguém que achassem que fosse inferior -, lincariam Remus à Greyback e aos ataques aos trouxas de toda e qualquer maneira que pudessem para mostrar que possuíam controle da situação dos desaparecimentos e assassinatos. A descredibilidade e corrupção atrelada ao Ministério não eram mais conversas da oposição. Após meses naquela penumbra de lutos e funerais, os bruxos que não haviam escolhido um lado – a maioria – queriam apenas que o problema fosse resolvido. E, para o Ministro, só havia uma solução para afanar o medo da população: lotar as prisões com aqueles que haviam sido pintados como o inimigo. Lobisomens, mestiços, e até abortos. Para se manter são, Sirius havia estudado e aprendido muito sobre política. Agora ele sabia que o Ministério era o culto legalizado para comensais da morte. Sabia quem ocupava os altos cargos. Sabia que a guerra não acabaria se fossem esperar uma ação da autoridade. E não haveria nada que pudesse fazer se a situação saísse de seu controle. Esta era a pior parte, agradecer pelo pior não estar acontecendo, se sentir grato por ser você que está na linha de tiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O herdeiro de mármore
Fanfic── ★ ── História autoral ── ★ ── Devido a uma chantagem, Sirius Black nunca fugiu de Grimmauld Place, mas como ajudar nos esforços de guerra sendo prisioneiro de um casamento forçado? Obra baseada nas músicas No Body No Crime e Right Where You Left...