A visita

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Era sábado e a chuva havia caído a madrugada toda, sem dar trégua. O tempo permanecia totalmente fechado em um tom de cinza que fazia parecer noite.

Se não fosse a minha promessa na noite anterior, nada seria capaz de me tirar da cama, mas como eu preferia não quebrar promessas, me arrumei um pouco mais cedo do que o necessário, para não atrasar, queria chegar assim que se iniciasse o horário de visitas. A intenção era chegar cedo para ir embora cedo, não queria passar tempo demais, me sentindo desconfortável, em um ambiente com alguém que não possuo intimidade.

Me encarei no espelho por alguns segundos, ajeitando o casaco preto em meu corpo, o cabelo parcialmente preso, coloquei o cachecol de tricô creme ao redor do pescoço e peguei as chaves do carro, estava pronta para ir.

No caminho passei em uma lanchonete onde gostava de comer às vezes, sabia que o lanche era ótimo e queria ter certeza de que seria algo seguro, que não fizesse mal a Josie.

Saí do local com dois hambúrgueres duplos com batatas extra grandes e suco de laranja natural, como uma daquelas pessoas que se enchem de comida pesada depois bebem algo saudável.

Entrei no hospital tentando não demonstrar nervosismo, mas no fundo eu sabia que devia estar como uma fugitiva da polícia, andando furtivamente com uma sacola completamente suspeita entre os dedos, torcendo para que o cheiro de gordura não me entregasse.

Uma enfermeira, tão atenciosa quanto da última vez, mal olhou na minha cara quando cheguei informando sobre a visita a Josie Saltzman.

— Fica no 11º andar, quarto 208. - A mulher mal humorada apenas me indicou o andar e o quarto, tomando meu documento da mão e me entregando logo em seguida juntamente com um crachá de visitante. Tão gentil quanto um chute na canela.

O elevador parecia estar mais devagar do que o normal, mas era apenas um indício do meu nervosismo constante que eu gostaria de conseguir dominar. Queria conseguir controlar a vontade de ir embora apenas para não ter que lidar com uma pessoa diferente. As relações humanas eram assustadoras para mim. Os poucos amigos que tenho vieram da convivência da infância e Landon estava entre eles. Infelizmente.

— Quarto 208. - Balbuciei para mim mesma tentando seguir a sequência. 206, 207 e 208.

A porta estava entreaberta. Bom, ela estava me esperando, então não vejo problemas.

Empurrei a porta de madeira com as pontas dos dedos e me deparei com a garota dormindo. Havia um acesso em seu braço, sua perna esquerda estava engessada e havia algumas escoriações espalhadas por sua pele.

Apesar disso seu rosto parecia em paz. Dormia tão tranquilamente que se não fossem os machucados tão visíveis poderia jurar que nada havia lhe atingido.

Me sentei na poltrona ao lado da cama tentando não fazer barulho. Coloquei a mochila ao lado dos meus pés e aguardei. Não, eu não a acordaria para falar comigo.

Já era desagradável demais estar presa em um hospital, então longe de mim perturbar os poucos minutos de paz que ela tinha.

Isso era estranho, não era? Esperar sentada ao lado de alguém dormindo. E se ela acordar e me achar esquisita por isso. Talvez se eu não estiver olhando para ela a situação melhore.

Certo, agora já não sei a quanto tempo estou encarando essas botas de salto alto.

Eu deveria ter vindo com algo mais baixo.

Estava dispersa e impaciente, talvez essa sensação fosse um alerta de que eu não deveria estar ali. Qual é o sentido de visitar alguém que eu nem sequer conheço? Ainda mais considerando a situação com o ex namorado babaca que pode ter sido o responsável.

Negative - HosieOnde histórias criam vida. Descubra agora