Entre elas

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Hope POV

Meu coração parecia ter encontrado o caminho de volta à normalidade. A sensação de que ele iria sair pela minha garganta a fora havia passado, no entanto havia uma dor chata em meu corpo, causada pelos momentos de tensão aos quais fui submetida.

Sabia que em algum momento isso iria acontecer, Landon claramente não iria desaparecer para sempre, mas parte de mim apenas desejava que ele sumisse sem nunca mais ser encontrado. Ele me causou angústias, inseguranças e traumas que em mil vidas eu não sentia que seria capaz de lidar.

Olhando agora como uma telespectadora, era mais fácil enxergar o quanto da minha vida foi sugada por ele. Nem mesmo a minha arte ficou protegida. Eu que sempre tive facilidade e necessidade de expor meus sentimentos mais profundos de alguma maneira desenhando, possuía agora um bloqueio que parecia impenetrável, ainda que eu continuasse sempre tentando. Mesmo isso ainda sendo o meu refúgio, era também o meu castigo particular. Me consumia o fato de me sentir tão rasa em minha própria pele.

Já passava da meia noite quando finalmente me deitei em minha cama, após um longo banho quente, na tentativa falha de relaxar cada músculo meu que ainda parecia travado de tensão. Me peguei pensando na loucura que havia sido o meu dia. Maya novamente não dormiria em casa, eu estaria completamente sozinha e isso me deixava angustiada dessa vez.

Mandei uma mensagem para ela, contando o que havia acontecido, mas ela provavelmente estava em algum lugar sem sinal. Eu queria que ela estivesse em casa, pelo menos uma vez.

Abri no visor do meu celular a minha conversa com Josie, onde perguntou como eu estava e desejou uma boa noite. Ela achou que tinha sido bloqueada, custou muito convencê-la a acreditar que eu apenas tinha trocado de número sem avisar.

Respondi a mensagem, agradecendo mentalmente por não ter estragado tudo definitivamente com ela. A sensação de tê-la como amiga era reconfortante, assim como a sua presença, emanando sentimentos bons.

Talvez isso seja clichê demais, mas Josie parecia o tipo de pessoa iluminada, que esbanja essa luz por onde passa, ao contrário de mim, que me sentia constantemente na completa escuridão.

22 de dezembro de 2019.

O dia seguinte foi tranquilo, dentro da rotina de trabalho e estudos em casa. Sentia uma falsa calmaria depois da tempestade da noite anterior.

Andar sozinha, mesmo que por um curto espaço de tempo, estava me angustiando. Confesso que estava mais paranoica do que o normal, olhando ao meu redor o tempo todo. Me mantendo em pontos estratégicos de fuga, qualquer bobagem que me passasse a impressão de segurança, mesmo tendo consciência de que se ele realmente aparecesse eu entraria em choque.

Josie me mandou mais mensagens durante o dia, puxando assunto, mas eu tentei não transformar isso em parte da minha rotina. Evitei um pouco o celular. Respondi com maior espaço de tempo, não por indiferença, mas sim, eu sei que me comporto como uma idiota às vezes. É o preço que se paga.

Se minha mãe fosse viva teria bons conselhos para me dar, sobre ser eu mesma e manter firme as minhas vontades sem medo da decepção, no entanto, ela não estava mais ali por mim. O vazio deixado por sua ausência ainda doía profundamente, nem mesmo os mais esforçados da minha pequena família eram capazes de amenizar isso. E eu que achava que não ter pai seria o pior dos meus traumas.

Estava jogada no sofá da sala, aproveitando o máximo da minha preguiça noturna, quando Maya chegou apressada, batendo a porta do apartamento atrás de si e correndo em minha direção.

— Como assim aquele idiota te procurou e você não me ligou no mesmo instante?? - A irritação em sua voz só não era maior do que a evidente preocupação. - Eu teria acabado com a vida desse filho da puta. Você sabe que eu teria!

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2022 ⏰

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