Com os dedos suados, Dante apertou mais o guidão da sua motocicleta barata, desviou de alguns retrovisores pelo corredor da pista e ouviu lhe praguejarem por isso.
- Qual é, Dante, você já está atrasado! Eu te recomendei para a agência e se você ficar mal visto, eu fico também, e preciso desse emprego! - O loiro em cima da moto revirou os olhos ouvindo a voz do seu supervisor que reclamava pelos fones de ouvido.
- Tudo bem, Mark... Olha, eu preciso tanto quanto você e estou indo o mais rápido que posso. - Dante desta vez levou um retrovisor por desviar a atenção. - Ops...
- O que foi isso?!
- Te ligo depois. - O loiro desligou e olhou rapidamente para trás, por sorte, não bateu em mais alguns pela frente e todos os outros que furavam a fila da pista. - Droga, espero que ele não tenha gravado minha placa! - Desejou em voz alta. Olhou novamente o endereço no papel amassado em sua mão e percebeu que não estava tão longe dali.
Pelo que lembrava, se virava em empregos não efetivos sua vida inteira. Um orfão que cresceu sozinho no meio do caos de São Francisco não pode ter outra coisa além de uma vida turbulenta e sem um pingo de calmaria.
Sozinho era demais - talvez - pois tinha alguns colegas que podiam sair para beber aos finais de semana quando, finalmente, não estivesse trabalhando.
Após algumas curvas e quase batidas, o loiro desceu da moto velha e pegou o pacote que era para ser entregue. Deu passos rápidos subindo pela varanda da casa antiga e bateu na porta. Depois de dois minutos - ou menos - uma senhora de pele negra e olhos cor caramelo abriu a porta, seus cabelos possuíam alguns fios brancos e marcas de expressão deixadas pelo tempo se encontravam em seu rosto.
- Senhora Wood? Sua encomenda. - O loiro estendeu a mão com um sorriso.
- Não me chamo Wood, meu nome é Kate Jackson. - A mulher levantou uma sobrancelha para o jovem em sua frente que desmanchou seu sorriso. - Você pelo menos trouxe a minha encomenda?
- Hã... Sim, sim. - O jovem correu até a moto de novo e revirou pelo baú o pequeno envelope em nome de Kate Jackson. - Aqui, seu envelope. E por favor, assine aqui. - Dante também entregou um papel para a mulher que parou para ler antes de assinar. O jovem já estava com os pés inquietos já que pelo visto estava hiper atrasado para a primeira entrega.
Kate olhou Dante de cima abaixo percebendo sua pressa, então num suspiro apenas assinou o final da folha entregando para o jovem.
- Obrigado, Senhora Jackson. - Acenou com a cabeça e deu as costas, mas se virou novamente antes mesmo de Kate fechar a porta. - Ah, aliás, sabe onde fica este endereço? - Puxou um papel do bolso e mostrou para a mulher que arregalou os olhos.
- É do outro lado da cidade, rapaz, vejo que terá que criar asas. - Ironizou da situação. - É uma casa de ajuda para crianças de rua, eles só pedem encomenda quando está realmente precário, melhor se apressar. - Com isso, Kate bateu a porta.
- Porra! - Dante enfiou o papel no bolso colocando seu capacete e subindo na moto. Nunca, nem quando estava no orfanato fadado a leis restritas, nunca mesmo conseguia cumprir ordens que possuíam horário estipulado.
Se tornou uma péssima característica, foi condenado ao atraso.
Pegou o caminho mais rápido pela famosa ponte vermelha da California, Golden Gate Bridge - ou simplesmente, a ponte de São Francisco.
Acelerou mais sua moto que falhou por alguns instantes.
- Não falha agora não! - Acelerou mais e então, num erro fatal, desviou novamente a atenção fazendo sua moto atingir com tudo a lateral de um carro que mudava de faixa bem em sua frente.
O corpo de Dante voou por cima dos carros como uma trágica cena de filme, a parte de baixo de seu corpo bateu em um dos ferros da lateral da ponte antes de seu corpo cair até a água.
Talvez por um milagre não estivesse morto, mas através da água cinzenta e manchas de sangue que foram se misturando, percebeu que não estaria por muito tempo.
Suas pernas foram quebradas antes de cair e com certeza mais alguns ossos quebraram na queda, a dor se misturou com o medo que se tornou uma paralisia completa.
Não pode fazer nada além de deixar-se afundar e afundar cada vez mais. Dante piscou lento e viu turvo algo passar bem do seu lado, esforçou-se muito para virar, mas nada tinha. Agora novamente, do outro lado.
Dante já não tinha mais fôlego, estava tonto e cansado por tentar girar no próprio eixo a procura do que lhe rodeava.
"Ótimo, se não vou morrer afogado, vai ser um tubarão que vai me comer" Pensou desistindo de tentar, relaxando os músculos, rendendo-se ao cansaço.
Mas, antes que pudesse afogar-se com a água que começou a entrar em seus pulmões, sentiu uma corrente de água impulsionar seu corpo de volta para a superfície. Seu corpo foi jogado na areia como se o mar estivesse lhe cuspindo para fora.
Tossiu e colocou para fora toda a água que não lhe pertencia, recuperando o fôlego roubado de si.
Só depois disso, Dante virou os olhos para cima e viu, de forma indescritível, uma das mais belas paisagens que pudera ver. O céu estava roxo com um número infinito de estrelas e de brinde, via um planeta de uma distância absurdamente pequena, quinze vezes maior do que via a lua.
Arrastou seu corpo para trás assustado, então percebeu que suas pernas estavam funcionando e nenhuma dor residia em seu corpo. Seu ossos pareciam nunca ter sido quebrados.
- Eu morri. - Falou para si mesmo olhando para a palma de sua mão, estapeou o próprio rosto. Aquilo doeu, não estava morto. Olhou dessa vez para frente, viu montanhas e cachoeiras que nunca poderiam ser em São Francisco. - Onde diabos eu vim parar?
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O Roubo das Pedra de Ultroria
FantasyApós um acidente de moto que fez o corpo de Dante afundar na baía de São Francisco, o mesmo se viu perdido em um novo mundo, chamado Ultroria, após voltar para a superfície com uma ajuda marinha desconhecida. Lá possuíam cinco cidades e cada uma era...