[2] Bananas e cebolas

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Wilhelm revirava o omelete com seu garfo, de vez em quando, timidamente, pegando um pouquinho e levando à boca ou beliscando o suco de laranja.

Simon estava sentado na cadeira à sua frente, ambos na mesa da cozinha/sala da casa do cacheado. O relógio de ponteiro pendurado na parede branca provavelmente indicava 10:25 da manhã. Wilhelm não tinha certeza sobre essa informação, pois desaprendeu a ler relógio de ponteiro desde o dia que ganhou seu primeiro celular.

Porém agora ele teria que reaprender, já que seu aparelho telefônico ainda não exibia para si o horário - apenas o cronômetro, que estava na marca das vinte e duas horas e trinta e sete minutos da última vez que ele verificou, o que fora poucos segundos atrás.

O lar continuava calmo e parcialmente silencioso, por mais que agora também contasse com a presença de Linda, mãe de Simon. 

Quando a mesma chegara uma hora atrás, acabou interrompendo, sem querer, o momento que o casal (Wilhelm ainda não tinha certeza se podia chamá-los assim, ainda não fazia ideia do que eles eram ou o que estava acontecendo) estava tendo, chamando eles para ajudá-la a guardar as compras. Porém, logo depois que avistou o loiro, disse espantada que ele parecia “pálido e abatido”… e que aquilo só podia ser fome.

Simon fazendo café da manhã para si com certeza não era uma das coisas que o príncipe imaginava presenciar algum dia.

Desde que todos foram para a cozinha, os dois não trocaram mais nenhuma palavra sobre o comportamento bizarro do loiro. Na verdade, eles quase não trocaram nenhuma palavra sobre qualquer coisa. As últimas foram “não precisa, Simon, eu nem to com fome”, “só senta e fica quieto, você prefere suco de laranja ou uva?” e finalmente  “laranja.”

Agora, sentados um de frente para o outro, ambos por algum motivo se sentiam completamente desconfortáveis. Porém, o desconforto por parte do loiro parecia maior, visto que ele estava evitando a todo custo olhar para o cacheado, como se estivesse envergonhado e se sentindo ameaçado. Linda estava sentada no sofá, assistindo o que quer fosse que estivesse passando no maior canal da Suécia naquele horário. Era seu último momento de paz e descanso antes que se afundasse nos preparativos da ceia pelo resto do dia.

Aliás, Wilhelm já tinha a confirmação: realmente era véspera de Natal.

De repente, Simon se levantou. Não aguentava mais. Não aguentava mais ficar mais de vinte minutos parado na frente do outro e eles não dizerem ou fazerem absolutamente nada. O clima estava tão tenso e estranho que ele se sentia pressionado a fazer algo, fazer qualquer coisa que fosse.

Então, caminhou até a cesta de frutas. 

Wilhelm o observou com os cantos dos olhos, enquanto levava o copo à boca e dava um pequenino gole no suco. Não era como se a comida de Simon estivesse ruim, o que com certeza não era verdade; ele só definitivamente não estava no clima para comer naquele momento.

Simon parou em frente à cesta, observando suas opções: laranjas, um cacho de uvas e um cacho de banana. Estreitou os olhos e massageou o queixo com a destra, pensativo, mesmo que fosse uma decisão nada difícil.

Quando este retornou à mesa, Wilhelm levantou seus olhos - enquanto mastigava mais uma garfada do omelete - e o avistou com uma banana em mãos.

O cacheado tornou a se sentar, dando uma breve espiada em sua mãe para ter certeza que a mesma permanecia concentrada na televisão. Ao confirmar que sim, voltou a direcionar seus olhos ao loiro à sua frente que, finalmente, em todos esses vinte minutos sem contato visual, não desviou o olhar ao ser encarado. Porém, a expressão no rosto de Wilhelm ainda era indecifrável para si - e inclusive indecifrável para o próprio Wilhelm, pois sentia que o mais baixo tinha alguma intenção escondida por trás daquilo e não fazia a menor ideia de como se sentia a respeito.

Um ótimo NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora