[1] Território desconhecido

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Um fino feixe de luz amarelado era projetado sobre a bochecha e o olho esquerdo de Wilhelm, fazendo seus cílios louro escuros brilharem como ouro.

Seu despertar foi calmo, tranquilo. Não havia nenhum barulho desagradável, nem dor nas costas ou na nuca; foi como se ele tivesse dormido em cima de um algodão gigante no lugar mais silencioso do mundo, onde só o que era ouvido era o cantar de alguns pássaros pela manhã.

Remexeu-se no colchão, porém ainda continuou na mesma posição que havia adormecido, de costas para cima e com braços e pernas estirados em sentidos contrários. Sentia que boa parte de sua canela e pé estavam para fora do móvel, o que não fez muito sentido para si já que ele tinha posse de uma cama solteirão e dificilmente seu corpo não caberia inteiro em cima dela.

Por esta pequena confusão em sua mente, Wilhelm finalmente abriu seus olhos - e essa sua confusão apenas se tornou ainda maior por, ao que suas pupilas se acostumaram com a pequena claridade e seu cérebro processou as informações recebidas, a primeira coisa que ele avistou foi um aquário abastecido com água.

Seu corpo inteiro deu um breve pulo sobre o colchão, que aparentemente não era o seu, e ergueu sua cabeça, agora com o cenho franzido, os lábios entreabertos e seus olhos semicerrados, fitando intensamente o recipiente - o que não era uma tarefa tão fácil, considerando que não tinha muita claridade no ambiente e ele tinha acabado de acordar.

Após longos segundos de reflexão, o que demorou mais que o usual já que seu corpo já estava despertado mas seu cérebro não, ele finalmente se convenceu de que aquela visão se tratava de Oski, Olle e Felle.

Os três peixinhos dourados de Simon.

Wilhelm subitamente se contorceu e se ergueu na cama, agora sentando ali e virando seu rosto freneticamente ao redor enquanto observava e identificava o local em que estava. Depois de uma análise em 360 graus que durou quase um minuto, ele teve sua segunda confirmação insana em pouco tempo: ele estava, definitivamente, no quarto de Simon.

Sua mão rapidamente foi parar no topo de sua cabeça, coçando seu couro cabeludo como se quisesse arrancar sua madeixas loiras dali. Se há alguns segundos atrás ele estava sonolento e parcialmente adormecido, agora sentia como se alguém tivesse empurrado vinte xícaras de café expresso por sua goela abaixo.

Seus olhos ainda corriam pelos detalhes do cômodo quando, de supetão, Wilhelm decidiu se levantar da cama e tropeçou em algo que depois percebeu ser seus tênis, que estavam jogados pelo chão, quase fazendo seu corpo se unir a eles pela falta de equilíbrio. Avistou, também, suas roupas penduradas na maçaneta do guarda-roupas de Simon, e só aí que percebeu também estar usando apenas um samba-canção azul marinho e um par de meias brancas.

Na verdade, era muita coisa para perceber e absorver naquele momento, pois Wilhelm se sentia completamente fora de órbita e absolutamente nada naquela situação parecia fazer o menor sentido.

Quando fora dormir horas atrás, ele estava em seu quarto, em sua cama. Em Estocolmo. Há longos quilômetros de distância de onde acabara de acordar.

Levou ambas as mãos às suas têmporas, pressionando e massageando ali enquanto cambaleava pelo quarto com seus olhos arregalados e expressando a mais genuína confusão. Será que ele havia finalmente surtado de vez e perdido a completa sanidade? Ou será que ele estava apenas dentro de um sonho lúcido? Mas se aquilo tudo era apenas uma projeção inventada pelo seu cérebro, por que até o cheiro do lar de Simon, que ele não sentia há tempos, parecia tão real sob seu nariz?

Sem raciocinar muito, pois fora inundado com um mar de informações sem lógica e dúvidas, Wilhelm instintivamente se dirigiu à saída do cômodo e abriu a porta sem delicadeza, esperando que alguma coisa aconteceria, ou que algo diferente aguardasse por trás dela.

Um ótimo NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora