A lebre sem vida na frente de Jungkook lhe dava náuseas. A essa altura, depois de tantos anos fazendo isso, deveria estar acostumado.
Não tinha muita opção, precisava prover alimento para si e para sua família, de preferência sem gastar o pouco dinheiro que sua mãe ganhava com muito esforço e trabalho braçal. Ainda assim, não só matar era angustiante, mas despelar o animal e limpar a carne para consumir também.
— Desculpa — sussurrou enquanto tirava o pelo com cuidado para não danificar, ele seria útil para produzir mantas quentes — Mas obrigado.
O cheiro metálico de sangue lhe incomodava e os espasmos pós-morte do animal lhe davam arrepios, no entanto, seria impossível alguém perceber. Poderia não ter se acostumado, mas certamente aprendeu a fingir que sim. E não falava sobre isso. Não com sua mãe, não com sua irmã. Na maioria das vezes, nem consigo mesmo. Qualquer mínima coisa que pudesse significar fraqueza estava profundamente enterrada dentro da sua própria consciência. Era como precisava ser se queria entrar na Guarda Real e aprendeu isso da pior forma.
Nos últimos meses estava caçando com mais frequência, visto que o recrutamento para a guarda chegava em seus momentos finais e ele precisava estar forte e saudável para se sair bem e ser selecionado. Havia abdicado de certos comportamentos por conta do recrutamento; primeiro das festas, depois das bebidas e, no último mês, de sexo.
Era difícil se esgueirar discretamente para transar com homens naquela vila, alguns comentários eram sempre proferidos aqui ou ali. Precisava ser discreto sobre sua sexualidade e fofoca era a última coisa que desejava.
Pior do que fofoca, era o maldito telefone sem fio.
Como dizem por aí: quem conta um conto, aumenta um ponto. O que poderia começar com um "vi Jeon saindo de um alojamento com um cara" com toda certeza terminaria em: "Jeon e o filho mais velho do Min estavam saindo do alojamento suados, consertando as vestes e cheios de sorrisinhos. Há quem diga que eles se beijaram ao se despedir. Nojentos". É.
Nunca lhe aconteceu porque já não estava nos holofotes dos bisbilhoteiros há um bom tempo; ele deixou de ter relevância alguns anos depois da morte de seu pai, quando a vila inteira percebeu que a família ficaria na mesmice dali pra frente e nada de interessante aconteceria novamente para ser comentado.
Mas agora estava na seleção para a guarda, várias pessoas tinham sido cortadas e ele continuava lá. Isso, por si só, atraía atenção. Assim sendo, a discrição era sua melhor amiga.
Uma pena, porque mesmo fazendo apenas um pouco mais de um mês, já sentia falta do sexo suado com o filho mais velho do senhor Min, de sair do alojamento cheio de sorrisinhos e de se despedir dele com um beijo.
Alguns rumores são verdadeiros, afinal.
— Tá fazendo o que aí, Kookie? — Jeon Hayun disparou ao aparecer na porta do cômodo, de onde via o irmão apenas parcialmente.
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Você sou eu, eu sou você [pjm + jjk]
FantasySerendipidade: ato ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão. Jeon Jungkook era um batalhador. Trabalhava duro para sustentar sua mãe e irmã, e tinha um objetivo em mente: entrar para Guarda Real. Isso garantiria o bem esta...