Você Tem O Amor

Sozinha

   Fui ao bar ontem com o Bradly após o ensaio. Sempre vamos para algum lugar quando terminamos de ensaiar, e na maioria das vezes é para um bar. Estava tudo bem, até sairmos do bar pela porta de trás para que ninguém nos visse bêbados - não seria uma boa receber fãs assim - e o Bradly roubou um beijo meu. Fiquei sem entender na hora, ele havia se desculpado, mas não acho que se arrependeu, pois não parava de me olhar e sorrir envergonhado. Nunca havia o visto assim. Me pergunto o que passava na sua cabeça, se ele queria fazer isso e estava bêbado o suficiente para tomar coragem... Prefiro não pensar nisso.

   Pensei em chamar a Florence para ir com a gente, então fui ao hotel que ela costuma se hospedar quando vem, mas a recepcionista me disse que ela não respondia, ela provavelmente estava dormindo, eles não puderam me deixar ir ao seu quarto.

   Estou de ressaca, mas não muito forte. Quero esquecer sobre o que aconteceu ontem, mas infelizmente terei que tocar nesse assunto com o Bradly, ele não pode fazer isso. Se isso cair na mídia, iremos nos encrencar com o Bobby, ele me mataria, sem contar que nós dois estamos comprometidos, isso podia prejudicar seu casamento com a Irana e meu relacionamento com a Florence. Não quero que ela saiba, não acho necessário. Foram apenas dois amigos bêbados que se beijaram, não significou nada, pelo menos, não para mim.

   Acordo com Asia me lambendo e Koji fazendo cócegas nos meus pés. Estão animados por verem sua mãe finalmente em casa. Hoje, decidi ter um dia normal: dirigir, ir ao mercado, talvez até sair com a Flo. Preciso disso, vai me fazer bem. Lavo o rosto para despertar. Vou até a sala de estar, meus pais e Natali estão tomando café da manhã.

- Bom dia! - exclamo.

- Acordou a margarida! - diz minha mãe.

- Pensamos que iria dormir fora.

- Eu e o Bradly não tínhamos reparado na hora, pai.

- Vai ensaiar hoje também? - pergunta a Natali.

- Tirei uma folga pra passar o dia com a Flo.

- Ué, ela não te disse que teria que voltar hoje?.

- Voltar? Pra onde? - indago surpresa.

- Londres. Ela me ligou hoje cedo, você estava dormindo e ela me pediu pra te avisar. Pensei que você tinha ligado pra ela quando acordou.

- Não, meu celular está desligado desde ontem à noite. Não acredito que ela fez isso.

- Talvez ela ainda esteja no hotel.

- Ela te falou o porquê teria que ir hoje?

- Não, ela não me disse nada.

   Pego minha bolsa e óculos de sol, e caminho até a porta.

- Pra onde vai? - pergunta minha mãe.
- Atrás dela. A Florence é fogo! - falo irritada.

   Chego no hotel e pergunto pela Florence, a recepcionista diz que ela havia ido embora um pouco mais cedo. Não acredito! O que deve tê-la feito querer ir assim? Eu espero que não seja o que estou pensando, não sei o que faria se fosse. Talvez eu esteja exagerando. Vai ver ela só precisou ir.

   O beijo de ontem ocupa minha mente agora. Só penso na possibilidade de algum holofote ter tirado uma foto bem no momento em que o Bradly me beijou. Não me lembro de ter notado nenhum paparazzi nos seguindo, mas eu estava tão bêbada, não posso confiar na minha intuição. Acelero o carro, pois a minha preocupação só aumenta, preciso falar com ela e descobrir o que a fez voltar sem ao menos me ver.

   Nunca dei motivos para Florence desconfiar de mim, mas esse seria um e tanto! Sempre admirei a forma com que ela lidava com o público achando que existe algo a mais entre eu e o Bradly. É normal que eles pensem isso porque nós havíamos decidido passar essa impressão, combinamos de, às vezes, manter os personagens do filme nos eventos e entrevistas para confundir o público. Bom, isso deu certo, mas agora não posso deixar de pensar na probabilidade do Bradly ter interpretado tudo errado, porque, antes de me beijar, rolou um clima entranho, ele estava rindo e, de repente, começou a me encarar, encarar meus lábios...