cap 1

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Sofia não conseguia se lembrar de quando havia tentado abrir aquela porta de madeira pela primeira vez. Deveria ter oito ou nove anos de idade, cinco a menos do que agora; e a vida era bem mais fácil naquela época. A risada de seu avô, alta e grave, res soava por todos os corredores do casarão onde ele morava, preenchendo-os de vida.

Tudo era motivo de riso: vô Nicolau talvez fosse um mago ou um gênio das Mil e uma Noites, um ser humano qualquer não seria tão interessante. Sem pre vestido de branco da cabeça aos pés, com uma barba ruiva pontuada por pelos brancos aqui e ali, como sal e pimenta vermelha, parecia muito mais um personagem do que uma pessoa de carne e osso.

Como de romances de fantasia. Nenhum hábito a agradava mais do que saber que em dezembro seu avó a buscaria na casa de seus pais com a velha caminho nete verde-água e que passariam dois meses juntos, estudando livros velhos e explorando os bosques que rodeavam a velha casa

Durante as férias, Sofia era deixada livre para satisfazer todas as curiosidades e perambular pela propriedade enquanto Nicolau trabalhava em seus ensaios e experiências As proibições sempre fo ram bem poucas: nada de passeios nos bosques à noite, tinha de devolver os livros na biblioteca em seu exato lugar e em hipótese alguma deveria en trar no único cômodo trancado da casa. Todas as advertências eram compreensíveis, claro, exceto a última, que a menina tentou burlar de todas as for mas possíveis.

A verdade seja dita: aquela porta parecia conter um segredo digno de seu tamanho e peso. Imensa, era decorada com figuras aladas borboleteando em torno de árvores carregadas de frutos, entalhados com capricho na madeira escura. A porta, apesar das inúmeras tentativas de Sofia para abri-la à força, nun ca havia cedido um milímetro, tão abalada com seus

a avore os três caminhos Onde histórias criam vida. Descubra agora