Prólogo

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Talking with my lawyer

She said, "Where'd you find this guy?"

I said, "young people fall in love

With the wrong people sometimes."

(Ashe – Moral of the story)

- Ele não pode fazer isso! - Eduardo bateu com as mãos espalmadas sobre o balcão entre eles, enquanto Pedro tomava um gole do vinho barato que ele comprou com os últimos dez reais que tinha na carteira. - Ele nem aparece nos vídeos, pelo menos metade do dinheiro é seu por direito! - Ele continuou, declarando o óbvio, mas Pedro só suspirou e deu de ombros.

- Eu não estou discordando de você, Edu, eu só estou relatando o que ele me disse: ele não vai me dar nem um centavo. A produtora é dele, os equipamentos são dele, o dinheiro dos filmes caem direto na conta dele, então é tudo dele. Palavras dele, inclusive. - Ele bebeu outro gole de vinho direto da garrafa. Até então ele estava bebendo num copinho pequeno oferecido por Eduardo – ele não era um pirata –, mas rapidamente o copinho se provou pequeno demais para aplacar sua dor, então... Estilo pirata de repente não parecia tão ruim assim.

- Você tem que processar esse babaca, Pedro, isso não pode ficar assim. - Marina interveio. Ela estava sentada ao lado dele num banco alto junto ao balcão da cozinha, então ele se virou para ela com o cenho franzido.

- Você não me ouviu dizer que eu gastei meus últimos dez reais nessa garrafa de vinho? Eu tenho, tipo, vinte e quatro centavos no meu bolso. E é só. Eu não posso contratar um advogado, eu não tenho dinheiro nem pra comer! - Ele levantou a voz por um minuto, mas rapidamente retomou o controle e se desculpou. Seus amigos não tinham culpa pela situação em que ele se encontrava, eles até tentaram avisá-lo que Bruno era problema, mas ele não quis ouvir na época. - E quer saber? Que se foda. Ele pode engolir a porra toda se quiser, os vídeos, o dinheiro, a produtora, eu tô pouco me fodendo. - Não era verdade, é claro. Bem, em parte. Ele realmente não ligava para os vídeos, o dinheiro, a produtora, mas ele ligava para o Bruno. Ele daria qualquer coisa se pudesse ficar com ele.

O que era uma tremenda burrice, é claro. Mas ele não ia ganhar nenhum prêmio pelas suas habilidades de tomar boas decisões.

- Ainda assim não é justo. Quer dizer, eu sabia que o cara era um babaca, mas eu pensei que ele teria a decência de te dar alguma coisa, sabe? Vocês ficaram juntos por mais de três anos, ele fez uma montanha de dinheiro com a sua bunda nesse tempo todo. Como ele pode simplesmente te chutar e não te dar nem um centavo? Depois de toda grana que você rendeu pra ele? É bizarro, o cara é um psicopata, na boa mesmo. - O rosto de Marina estava vermelho de raiva, o que fez Pedro sorrir um pouco. Era bom saber que ele era amado por alguém, mesmo que não tivesse sido o melhor dos amigos nos últimos anos.

Esse pensamento fez 'Pedro fechar os olhos por um minuto, um sentimento de culpa subindo por sua garganta. Ele não conseguia lembrar a última vez que tinha telefonado para um dos amigos – talvez no aniversário de Eduardo, quase dois meses mais cedo. Eles costumavam ser inseparáveis, os três. Os três mosqueteiros, por mais brega e tosco que soasse. Por anos, aqueles dois eram a única família que ele conhecia, mas quando Bruno entrou em sua vida, tudo mudou.

Maldito Bruno.

Pedro costumava pensar nele como seu próprio super-herói – realmente parecia que ele tinha vindo para salvá-lo, afinal de contas. Pedro tinha dezessete anos quando eles se conheceram, ele estava vivendo de favor na casa dos tios havia sete anos àquela altura, depois que seus pais morreram. Seus tios claramente nunca gostaram da ideia de receber um garoto de dez anos em casa, não quando eles já tinham outros três filhos para criar e o dinheiro era curto. Tinha tanta gente naquela casa que era fácil para Pedro escapar, seus tios nem percebiam sua ausência.

Prazer, culpa e uma pitada de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora