Capítulo 10

427 51 14
                                    


Pela segunda vez em menos de um ano, Pedro teve que recolher os cacos para tentar se refazer.

Era cansativo, triste e decepcionante, mas aquela parecia ser sua sina nos últimos tempos. Ele começava a achar que o problema era ele, que ele era má pessoa, que estava sendo castigado ou sofrendo com o carma de outras vidas, porque que outra justificativa haveria? Parecia que todas as vezes que ele abaixava a guarda e permitia que alguém entrasse em sua vida, o destino zombava de sua cara. Parecia que nada de bom podia durar, por mais que ele se esforçasse.

Quando Pedro fechou a porta da frente, depois que Alex foi embora, ele encostou o rosto contra ela e esperou. Ele não saberia dizer por quanto tempo exatamente, mas ficou lá, com os olhos embaçados de lágrimas, com o ouvido pressionado contra a madeira, até suas pernas cederem. Ele ouviu os passos de Alex se afastando e tinha tanta, mas tanta certeza de que os ouviria voltando que não ousou se mexer por horas. Mas tudo que ele pôde ouvir em todo aquele tempo foi o som dos seus próprios soluços inconsoláveis.

Depois, silêncio.

Foi burrice sua, no fim das contas. Esperar. Ele que mandou Alex embora, afinal, então por que ficou lá plantado na porta como um idiota? Por que achou que Alex se importaria o suficiente para voltar, insistir, tentar um pouco mais? Era estupidez ficar lá, já não havia mais nada a ser dito. O mais velho disse que o amava e Pedro o colocou para fora, aquela foi sua resposta. Não havia pelo quê esperar. Alex não tinha motivos para voltar.

Eu te amo.

Se fechasse os olhos, Pedro conseguia ouvir as palavras claramente, como se Alex estivesse bem na frente dele. Eu te amo. Como música, como poesia. Pedro não mentiu quando disse que eram belas palavras, porque eram. De todas as gentilezas que ele ansiava ouvir, aquela era provavelmente sua favorita. Ele era grato por ter tido tempo de ouvi-la, ao menos uma vez, ainda que as circunstâncias não fossem ideais, ainda que ele não pudesse retribuir, embora quisesse tanto. Ainda que fosse agridoce. Pelo menos ele tinha aquela memória, aquelas palavras bonitas ecoando no fundo de sua mente.

Eu te amo.

Quando foi vencido pelo cansaço, já à noite, Pedro se levantou do chão e voltou pro apartamento dos amigos, decidindo passar mais alguns dias com eles. Não se sentia forte o suficiente para ficar sozinho naquele momento, ele precisava saber que tinha alguém ali por ele, pessoas que não o deixariam, independente de qualquer coisa, independente do seu passado, presente ou futuro, e eles já tinham provado isso mais de uma vez. Depois que perdeu os pais, os tios, Bruno e por fim Alex, ele só precisava da certeza e da serenidade de estar ao lado de Marina e Eduardo.

Ele contou pra eles o que tinha acontecido e os assegurou de que estava tudo bem, que pelo menos ele e Alex conversaram e ele pôde dizer tudo que estava entalado em sua garganta, que era a última coisa que ele precisava antes de seguir em frente. Embora estivesse devastado, daquela vez Pedro sabia que ficaria bem. Quando Bruno o deixou, ele levou tudo consigo, inclusive tudo o que Pedro tinha e o que ele era – ou o que ele achava que era. Por outro lado, quando Alex foi embora, seu coração ficou partido, mas ele ficou inteiro.

Ele só precisava de tempo.

Pedro só foi sair de casa pela primeira vez depois de um mês do vazamento das fotos. Àquela altura, não havia mais repórteres na porta do prédio e mais ninguém estava falando do assunto, era como se nada tivesse acontecido. Cecília estava certa, no fim das contas, e ele odiava admitir isso, mas já que ninguém disse nada além da nota oficial emitida pela empresa, nem nada novo surgiu, o assunto esfriou rapidamente.

A volta ao mundo real foi mais ou menos como ele previu: de maneira geral, as pessoas não o reconheciam na rua, ele podia fazer suas corridas e ir tomar um café em paz, a coisa só ficava um pouco esquisita quando ele precisava fornecer seu nome completo em algum lugar, ou quando alguém olhava pra ele com mais atenção. O pior, na verdade, eram as pessoas que já o conheciam antes do escândalo. O padeiro, seus colegas do yoga, seus colegas de trabalho da FFB. A impressão que dava era que todos eles passaram a olhá-lo de maneira diferente.

Prazer, culpa e uma pitada de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora