Capítulo 03

464 55 2
                                    

Após quase três meses em sua nova vida, Pedro finalmente conseguiu estabelecer uma rotina que funcionava para ele. Ele acordava por volta de nove da manhã, tentava fazer algum exercício físico, geralmente yoga ou uma corrida ao redor da quadra, depois tomava café da manhã sozinho, porque Eduardo e Marina tinham aula ou trabalho antes mesmo de ele acordar. Depois, ele postava algo no Just4Fans, então seus seguidores tinham algo para ver ao longo do dia, em seguida ele respondia às mensagens no inbox e os comentários da noite anterior. Por fim, ele seguia para sua nova conta no Twitter e divulgava o conteúdo novo e interagia com os seguidores por lá – era uma ótima maneira de conseguir novos inscritos.

Isso geralmente tomava a maior parte da manhã, depois ele descia para o apartamento de Eduardo e Marina para o almoço. Ele geralmente comia com um dos dois, exceto por segundas e quartas, quando nenhum os dois estava em casa, mas mesmo nesses dias ele almoçava na casa deles, porque ainda não tinha comprado utensílios de cozinha – estava na lista de prioridades, mas não tão alto, ele gostava de ter uma desculpa para visitar os amigos todos os dias.

Mais tarde, ele voltava pro andar de cima e, dependendo do dia, tirava fotos e fazia vídeos novos ou editava o material que já tinha. Finalmente, à noite, ele postava mais conteúdos no Just4Fans e conversava com os inscritos até a hora de dormir.

Na última semana de Setembro, em uma de suas corridas matinais, ele notou que a algumas quadras de casa havia uma ONG chamada Fundação Futuro Brilhante. Ele achava que o nome soava familiar, mas por mais que tentasse, não conseguia lembrar de onde tinha ouvido falar deles. Somente depois de passar pela porta da instituição algumas vezes é que lhe ocorreu – Ricardo, seu antigo professor de biologia, já tinha lhe falado sobre ela.

A Fundação Futuro Brilhante ajudava jovens carentes a entrar na faculdade. Eles ofereciam apoio na forma de bolsas de estudo custeadas por empresas privadas, mentoria acadêmica e profissional, bem como ajuda para conseguir estágios e empregos de meio período para que os alunos pudessem se manter na escola. Era o que o site deles dizia, pelo que Pedro lembrava vagamente dos seus anos de colégio, quando ele ainda planejava ir pra faculdade.

Ele entrou lá um dia, sem saber exatamente por quê, e quando a moça na recepção perguntou como poderia ajudá-lo, ele só ficou parado lá por uns minutos, silencioso e nervoso. Ela perguntou se ele queria saber sobre os programas que eles ofereciam, mas ele balançou a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos. A mulher esperou pacientemente, com um sorriso maternal no rosto, até que Pedro perguntou se eles precisavam de ajuda.

E foi assim que ele se tornou voluntário na FFB, o que também virou parte de sua rotina – toda quinta, de oito às duas, começando na primeira semana de Outubro. Já que a Fundação era a apenas algumas quadras de sua casa, ele podia ir caminhando em vez de pegar o metrô.

Ele gostava de sua nova rotina, era cansativa, mas não deixava muito tempo para pensamentos obscuros ou para ruminar o passado. Ele nunca se sentia sozinho porque Eduardo e Marina estavam sempre por perto e ele até fez amizade com alguns de seus inscritos, o que era legal.

Pela primeira vez em muito tempo, Pedro se sentia feliz. E não era um sentimento delicado e frágil, em que as coisas tinham que estar em perfeita ordem para que ele pudesse se sentir bem, não. Era o tipo mais simples de felicidade – ele tinha amigos, um trabalho, um lugar pra dormir e tudo estava bem. Não estava perfeito, mas estava bem.

Alguns dias depois de ter mandado as primeiras fotos para Alex, ele decidiu mandar o vídeo. Ele estava um pouco inseguro sobre isso, era um vídeo de 13 minutos depois de editado, e Pedro realmente tinha se perdido na fantasia e dava pra notar. Ele estava em êxtase na maior parte do vídeo, lágrimas nos olhos, implorando por algo – alguém – que nem estava lá. Ou pareceria ridículo ou sexy pra caralho, dependendo de quem assistisse, e muito embora ele tivesse quase certeza que Alex não ia achar nada ridículo, ele ainda se preocupava um pouco, mas mandou mesmo assim. Ainda era cedo quando o fez, por volta de meio dia, e ele não esperava uma resposta imediata, então seguiu com seu dia.

Prazer, culpa e uma pitada de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora