Capítulo 1

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Estava treinando a pontaria enquanto bebia mais da safra nova de vinhos que meu pai tinha trazido. Bebi a terceira taça, já sentindo meus sentidos falharem ao quase errar o alvo com o martelo. Sabia que tinha deveres a fazer, afinal, eu era o príncipe herdeiro de Humpbrey – O reino dos Exércitos. Era um grande reino e bem conhecido por suas batalhas, éramos basicamente invencíveis. Mas a verdade era que eu preferia milhões de vezes estar me preparando para ir para guerra do que para rever a princesa insuportável que estava vindo para Humpbrey para passar um tempo.
— Esse vinho não é bom não, está me fazendo perder meus sentidos. Eu geralmente fico melhor quando estou bêbado! — Falei para os meus fiéis escudeiros, que concordaram comigo e riam junto de mim.
— null, quando eu disse para você se preparar que hoje você vai reencontrar a princesa de Aleudoria, não era para você ficar bêbado e suado! — ouvi a voz da minha mãe. Fechei meus olhos e bufei, quase resmungando baixo. Dei o machado para um dos escudeiros e virei o restante do vinho.
— Perdoe-me, mãe e caríssima Vossa Majestade. — Fiz uma breve reverência para ela. — Mas pelo que eu me lembre, a princesinha de Aleudoria era uma garotinha tão insuportável quanto minha irmã. Duvido muito ela ter melhorado! — Confessei, mostrando como não tinha boas lembranças da princesa null.
Costumávamos nos encontrar muito quando éramos crianças, mas ela me odiava assim como eu também a odiava, nossa missão era ver quem conseguia irritar mais e definitivamente ela ganhava. null era irritante em um nível não humano. Mas também não podia negar que eu estava curioso para saber como ela tinha ficado hoje em dia, já que não a via desde os onze anos.
— Ela é uma jovem adorável e muito querida. Comporte-se com ela, null. Seja o príncipe gentil e educado que eu sei que você é! — Assenti para ela, seguindo ao seu lado para o grande salão, onde já estava acontecendo a festa de boas-vindas para ela, também para provar que a aliança entre nossos reinos ainda estava forte.
Minha mãe ajeitou minha roupa pela milésima vez, mesmo que ela já tivesse sido feita especialmente para mim, com as medidas certas e tudo mais, e não precisasse que ela ficasse ajeitando a todo segundo, até porque melhor não ficaria mesmo!
— Está tudo nos eixos, fique tranquila. — Tentei acalmá-la, mas a mesma respirou fundo e sorriu meio nervosa para mim.
— Sempre fico nervosa e ansiosa com festas, você sabe. Gosto de perfeição, ao contrário de seu pai, que nem chegou ainda. — Soltei uma risadinha, imaginando que meu pai chegaria todo sujo da caça e deixaria minha mãe louca, mas isso era tradição.
Fiquei ao lado dela o tempo todo na recepção da festa no grande salão, vendo os membros da Corte chegarem com toda elegância, as mulheres com vestidos tão chamativos que o Natal ficava apagado. Eu odiava ficar mantendo aquela pose de príncipe ali, com um sorriso gentil nos lábios, aquilo não era meu lado preferido de ser um príncipe. Até porque eu amava liberdade, e usava e abusava dela. Nessas festas de gala eu não conseguia nem sentir o gostinho da minha liberdade e isso era frustrante. Cumprimentei a todos que paravam e falavam conosco, com reverências e puxa-saquismo.
— Rainha Sylvia, é mais que um prazer revê-la! — Meus olhos foram direcionados a uma garota de cabelos ruivos que abraçou minha mãe com muita animação.
Não era possível que ela era a Emma! A garota ruiva insuportável que infernizou minha infância estava daquele jeito, era mesmo de ficar boquiaberto.
— Príncipe null. — Cumprimentou-me com uma mesura. — Quanto tempo.
— Princesa null. — A cumprimentei de volta, retribuindo sua reverência. — Sim, faz bastante tempo mesmo.
Aumentei o sorriso, ainda a olhando por completo e não acreditando que era mesmo ela. Afinal, ela estava impressionantemente linda, eu não podia negar.
— Mas não foi tempo o bastante para sentir sua falta. — Soltou em brincadeira, mesmo que eu soubesse que não era mesmo uma brincadeira.
O sorriso gentil do meu rosto acabou se transformando em um forçado enquanto revirava meus olhos para null. Acabei recebendo um tapa da minha mãe por ter me visto fazer aquilo.
— Que pena, princesa null. Se não fosse minha mãe lembrar o seu nome, te chamaria de Emília, provavelmente. — Soltei uma risadinha, porém sabia que minha mãe me mataria por aquilo, mas ela que começou, como sempre. Pude notar a princesa revirar seus olhos null disfarçadamente.
— Estou tão feliz em vê-los juntos mais uma vez. Convide-a para dançar, null. — Minha mãe disse, dando mais um abraço em null e voltando a conversar com a duquesa que tinha parado ali.
— Eu adoraria! — Rolei meus olhos com sua resposta, já começando a pedir uma salvação divina.
Olhei para null novamente, já achando estranho da minha parte ficar a encarando demais.
— Desculpe, perdeu alguma coisa aqui? — Ela indagou, fazendo uma voz toda fofa para disfarçar a acidez das palavras, obviamente.
— Por enquanto, não perdi nada não. — Voltei a sorrir, só que dessa vez com um tom de sarcasmo.
— Por enquanto? — Soltou um riso incrédulo.
— Sim, por enquanto. — Respondi, a encarando mais uma vez. Por mais que ela permanecesse irritante, ela tinha ficado bonita. — Que bom que você aprendeu a pentear o cabelo. — Murmurei, dando uma risadinha em seguida. Era quase que um impulso incontrolável essa vontade de ainda continuar com a implicância, era quase um carma que tinha voltado.
— Ah, eu aprendi assim que voltei para casa. Quando você estava por perto, eu preferia arremessar a escova em você do que usá-la em mim. — Acabei rindo do que ela me respondeu, lembrando bem dessas situações em que ela arremessava as coisas em mim.
— Eu acabava salvando a vida das escovas, né? Nem por um milagre elas conseguiriam desfazer os nós que tinham no seu cabelo. Aliás, graças a mim você ganhou um corte de cabelo bem bonito naquela época. — Pisquei um olho para ela, pegando uma taça de vinho para mim e para ela.
— Porque ninguém sabia me pentear direito! Eu devia ter cortado seus dedos depois daquilo. — Resmungou. Soltei uma risada quando ela tentou se defender, então fiz minha cara clássica de quem estava só a irritando mais uma vez.
— Por que será, né? — Ironizei cada letra, ainda rindo daquilo. Minha mãe me olhou ao ver que eu ria e então sorri para ela. — A princesa null conseguiu me fazer rir, ela é realmente ótima! — Então minha mãe sorriu, toda feliz com aquilo e voltou a conversar. — Você ainda é daquelas que só ameaça e não cumpre? Ou aprendeu a parar de socar o vento? — Fiz um biquinho, fingindo socar o vento para irritá-la só mais um pouquinho.
— Primeiro: eu nunca ameaço se eu não tenho pretensão de cumprir, você bem devia lembrar disso. Segundo: eu me tornei muito boa no arco e flecha, então não preciso socar o vento. Terceiro: você quer provar das duas afirmações anteriores? Porque terei imenso prazer em mostrar. — Vi que ela tinha chegado bem mais perto, ficando exatamente de frente para mim.
— Isso foi uma ameaça? — estreitei meus olhos na direção dela, tentando soar ameaçador, mas eu estava me divertindo, talvez pela nostalgia de quando éramos crianças. — Você não perdeu o costume de falar demais, null. Eu tentei acompanhar, mas acabei ficando sono.
Ajeitei minha roupa, bocejando de uma maneira dramática.
— E você não perdeu o costume de ser tão idiota, null. — Rebateu.
— Obrigado, princesa. — Sorri cinicamente, como se tivesse adorado mesmo o adjetivo que ela tinha usado. — Mas cuidado, ameaças podem ser promessas que você não poderá cumprir.
— Eu sempre cumpro o que eu prometo, null, portanto, você que deveria ficar com medo. — respondeu, mantendo sua expressão inabalável. — Acho que sua mãe falou que você deveria me convidar para dançar, Príncipe null. — Lembrou-se enquanto mexia em seu vestido.
— Pois é, ela falou. — Concordei com ela, olhando para o meio do salão e negando com a cabeça. — Você não vai querer dançar comigo, princesa. Vai por mim. — Murmurei para ela. Eu era um péssimo dançarino, por mais que pisar no pé dela não seja de fato uma péssima ideia, mas eu passaria vergonha. — Mas já que o propósito da minha mãe é fazer nós dois nos conhecermos melhor, podemos dar uma volta pelo salão. — Estendi o braço para ela, esperando que ela aceitasse o convite e não questionasse o motivo.
— No momento, eu só quero dançar. Se ser com você é o preço a se pagar... Mas tudo bem, podemos fazer a Sylvia feliz. — Deu de ombros. Fiquei mais aliviado quando ela aceitou dar uma volta, mesmo com uma careta no rosto. — Além dos seus dentes, seu cérebro também cresceu ou continua do tamanho de uma ervilha, Príncipe null? — Soltei o ar e comecei a caminhar lado a lado com ela, com a pose cavalheiresca que eu tinha que seguir.
— Que hilária você! — Rolei meus olhos, voltando a sorrir e acenar para uma duquesa mais velha que a estátua da minha tataravó. — Cresceu do mesmo jeito que o seu cabelo também cresceu. — Retruquei, olhando para ela de relance. — Nenhum outro incidente com as sobrancelhas, princesa? — Pisquei meus olhos, usando a técnica de me fingir de fofo e inocente.
— Você não parece estar ouvindo muito bem quando eu falo, príncipe. — Fez uma careta, mas quando viu a duquesa, abriu seu sorriso educado para ela. — Nenhum. Elas estão ótimas. — Resmungou amargurada, com certeza lembrando de quando eu tinha raspado uma delas. — E os seus pés, como estão?
Então, sem quer eu esperasse, ela pisou em meu pé, me fazendo retrair os lábios com a dor repentina. Mordi minha mão que estava fechada em um punho e depois a encarei extremamente furioso.
— Ops, foi mal. Não queremos que você fique confortável demais nesses sapatos, né? — Ela sorriu quase inocente, mas eu via o brilho malicioso no fundo daqueles olhos null.
— Eu poderia muito bem me vingar disso aqui, mas tudo bem, eu aceito pelas sobrancelhas. — Levantei os braços, dando uma risadinha abafada por ainda estar sentindo o pisão. — A propósito, quando você era criança, você era mais criativa com vinganças. — Murmurei mais próximo dela, sorrindo de lado e voltando a caminhar lentamente.
— Não estou vendo muitas formas de como eu poderia te infligir dor e humilhação agora, null, mas se quiser, te mostro tudo que eu sei durante minha estadia aqui. — Falou serenamente, sorrindo para um casal que nos cumprimentou.
— Eu estou achando que você está falando demais. Dizem que cachorro que late muito, não morde. Então eu pago para ver o que você pode fazer durante sua infeliz estadia aqui. — Respondi, usando um tom de voz calmo e tranquilizado, a acompanhando da mesma maneira, mesmo que por dentro eu já estivesse pedindo arrego para alguém acabar com aquela festa tediosa.
— Não se preocupe. Você verá. — Garantiu. — Muito infeliz mesmo. Não vou ter muito o que fazer, então imagine só o tanto de tempo que terei para planejar suas humilhações. — Ouvi ela soltar um suspiro feliz e eu rolei meus olhos, querendo mesmo deixá-la falando sozinha. Deixando a raiva se esvair do meu corpo, só parei para cumprimentar um dos duques mais velhos e ricos da redondeza, basicamente o fornecedor dos melhores tecidos.
— Duque Charlington, é muito bom recebê-lo em nossa casa. Digo isso em nome do meu pai, o Rei. — Sorri cordialmente. O mesmo fez duas reverências, a mim e a null. — Ela é a Princesa null, de Aleudoria, como já deve saber. Queria ter a honra de levá-la ao meio do salão e poder ter uma dança com ela, mas devido à caça mais cedo não estou me sentindo bem. Aposto que Vossa Senhoria poderia demonstrar seu nobre talento com a dama. — Entreguei o braço de null para ele, que ficou muito eufórico com a sugestão, e isso me fez rir disfarçadamente. — O hálito dele vai ser a melhor parte da dança. — Sussurrei no ouvido dela, piscando um olho e me afastando dos dois, rindo um pouco mais alto.
— Seria um prazer, Duque. — A princesa respondeu com delicadeza, e logo me fuzilou com o olhar.
Afastei- me deles e fui pegar mais bebida, ajeitando minha roupa e já pensando em uma maneira de fugir daquele lugar. Será que pular da sacada? Subornar um guarda? Fingir passar mal? Fiquei ponderando aquelas opções enquanto sorria cordialmente a todos que passavam por mim e me cumprimentavam com reverências e sorrisos, parando apenas para falar comigo sobre meu pai, que ainda não tinha aparecido na festa, sorte dele, é claro. Só acordei dos meus pensamentos de fuga quando vi null me puxar com ela.
— Acho que seu planinho não foi lá muito bem-sucedido, meu bem. Sabia que eu estou me recuperando de uma gripe e não sinto cheiro de nadinha? Uma pena. — Deu de ombros, fazendo um biquinho. Acabei lamentando pelo meu plano não ter dado certo. — E sabia que o Duque é um ótimo dançarino e me falou curiosidades muito interessantes sobre tecidos? Ele inclusive mencionou que a roupa que você está usando foi feita com os tecidos dele e apesar de ser um tecido maravilhoso, demora a secar. Imagine que trágico seria se alguém derramasse bebida em você?
Em um movimento muito rápido, null tropeçou para frente, derrubando sua bebida nas minhas calças. Arregalei os olhos e abri a boca, chocado e obviamente querendo matá-la.
A encarei com meus olhos pegando fogo. Ela tinha passado um pouco dos limites.
— Meu Deus, null, que situação constrangedora! — Ela sufocou uma risada, tentando parecer chocada.
Assim que ela falou mais alto, quase que fazendo um anúncio, as pessoas começam a nos olhar, então forço um sorriso.
— Sabe, princesa null, você acabou me fazendo um enorme favor. — Umedeci meus lábios enquanto olhava minha roupa, fingindo um falso descontentamento pela roupa molhada. — Uma pena que devido a esse acidente terei que me ausentar da festa. Mas tenho certeza de que a princesa está apta para dançar com todos que quiserem, já que eu não pude fazer isso, aposto que até o Duque quer repetir mais uma. — Apontei para ele com um sorriso maior nos lábios. — Acho que eu te devo obrigado, mas como eu não me importo em ser educado com você... Divirta-se!
Empurrei minha bebida nela, tirando o paletó enquanto caminhava para longe da festa e avistava minha mãe nos olhando sem entender nada. Encontrei um dos meus escudeiros pelo caminho e o chamei comigo.
— Prepare meu cavalo. — Ordenei, seguindo para o meu quarto apenas para trocar essa roupa e colocar uma mais simples para ir às tavernas do povoado vizinho.


null null Turner
Tinha dançado tanto que meus pés estavam doloridos, mas era uma delícia estar sentido isso porque significava que eu tinha conseguido passar a noite longe da companhia do príncipe. Era de se esperar que eu estivesse cansada depois do baile, mas eu não conseguia dormir de jeito algum e como ficar presa no quarto não iria me ajudar, fiz o que costumava fazer em Aleudoria e fugi com um livro. Foi mais complicado aqui já que eu não tinha passagens secretas ao meu dispor, mas vesti um dos vestidos que uma das minhas damas tinha deixado no meu quarto, coloquei um véu na cabeça e peguei um terço para fingir que era só uma dama que veio rezar com a princesa e já estava de saída. Os guardas mal olharam e sorri satisfeita por isso.
Eu ainda não conhecia bem o castelo, então me perdi em um ou outro corredor até chegar até aos jardins. Havia pegado uma lamparina no caminho e usava a luz dela para me guiar, embora soubesse que alguém poderia acabar me vendo. Quando cheguei em um lugar mais afastado e bom o suficiente, me deitei na grama e apaguei a lamparina. Eu realmente amava a sensação de estar aqui fora sem ninguém por perto, mas minha felicidade durou pouco. Ouvi alguém resmungando coisas que eu não consegui decifrar pela distância e franzi o cenho, em parte pela curiosidade, em parte por medo desse alguém estar acompanhado. Passos apressados começaram a vir na minha direção e arregalei os olhos, me preparando para fugir, mas antes que eu me encolhesse pra me esconder atrás da árvore onde eu estava, alguém tropeçou nos meus pés.
O homem que tropeçou em mim caiu de cara no chão, se esparramando no gramado em toda sua altura. Levei a mão até a boca, totalmente culpada pelo acidente. Ele começou a resmungar coisas sem sentido, misturadas a gemidos de dor, o que me fez correr até o homem para checar se ele estava bem.
— Ai, me perdoa! Eu não queria te machucar. Você está bem? — Perguntei, tocando no ombro da pessoa, mas assim que ele virou e eu pude ver quem era, me afastei.
null me encarou com um misto de confusão e descrença, assim como eu o estava encarando. Pela janela do salão de bailes, vi ele sair do palácio hoje durante o baile, então não me surpreendi por encontrá-lo chegando amarrotado e exalando um odor forte de bebida.
— Entre todas as pessoas que eu poderia encontrar, foi justo com ela, Deuses? Isso é algum tipo de castigo? Eu juro que paro de beber escondido! — Ele olhou para o céu, reclamando com a voz chorosa. — Só não reclamo mais porque poderia ser pior.
Eu revirei os olhos, me afastando para longe dele novamente.
— Não acho que foram os Deuses que te colocaram no meu caminho. Eles não seriam maldosos assim. — Resmunguei, tão animada quanto ele. — Aliás, se alguém fez isso, esse alguém foi o mal encarnado. Embora eu ainda acredite que você é o próprio mal encarnado, portanto, não sei porque faria isso comigo, já que gosta tanto de mim quanto eu de você.
Retruquei, abrindo um sorriso fechado e falso. Eu não gostava de null quando éramos crianças e certamente não gostava dele agora. Isis havia me pedido para ser legal com ele, conhecê-lo e então formar uma opinião sobre o garoto — agora homem — que eu não via há anos. Eu tinha dado essa chance e, se possível, gostava dele menos ainda. Antes ele tinha a desculpa de ser uma criança tola, agora ele era apenas um príncipe idiota e mimado.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Perguntou irritado, tentando levantar, mas cambaleando quando fez isso.
— Não é da sua conta! — Rebati, como se fosse óbvio.
Podíamos estar noivos, mas eu não devia satisfação a ele e nunca iria, além, é claro, dos deveres políticos onde teríamos que trabalhar juntos. Fiz uma careta pelas tentativas ridículas dele em se levantar e balancei a cabeça em pura descrença pelo estado dele. Era com isso que eu iria me casar em poucas semanas? Que os Deuses me ajudassem.
— Mas você, por outro lado, é bem óbvio que estava bebendo por aí. — Apontei, me referindo ao estado dele. — Mal consegue ficar de pé.
Ele revirou os olhos.
— Eu sei muito bem o porquê de você estar aqui. — Me olhou com o mesmo descontentamento que eu. — Para atazanar a minha vida.
— Isso indicaria que eu penso muito em você, null. — Bufei, cruzando os braços na defensiva. — E eu evito o máximo lembrar da sua existência.
Ele abriu a boca para retrucar, mas fechou novamente e parou para prestar atenção no som que eu também ouvi. Seus olhos se arregalaram e na mesma hora null ficou de pé, como se tivesse recuperado o equilíbrio por pura magia.
— Eles estão vindo. — Sussurrou, me puxando com ele.
— Eles quem? — Fiquei confusa e me vi obrigada a segui-lo quando me puxou. — Eles quem?
Mas assim que perguntei, o som de passos e vozes ficou mais nítido, o que me fez acreditar que seriam os guardas. Sufoquei um gemido de desespero com a possibilidade de ser encontrada aqui. Meu pai era superprotetor comigo, o que queria dizer que meus guardas não desgrudavam de mim aonde quer que eu fosse. Minhas fugas eram meu único momento de solitude, já que eu sempre estava cercada de pessoas.
— Os guardas! — Grunhiu, me puxando com ele para onde quer que fosse. — É hora da ronda.
Olhando para trás enquanto corria com null, vi ao longe a silhueta de quatro homens que passariam bem por onde estávamos se tivéssemos continuado ali perto da árvore. Ele parou atrás de uma estátua de mármore que era grande o suficiente para nos cobrir, mas para isso acontecer, precisávamos ficar próximos demais um do outro. O cheiro de bebida pareceu ainda mais intenso e foi impossível segurar a cara de nojo quando o odor fez meu estômago revirar.
— Você precisa urgentemente de um banho. — Reclamei, o olhando por cima do ombro.
Em resposta, null soltou uma risadinha e seus olhos claros brilharam com malícia quando ele soprou no meu rosto. Meu cotovelo acertou suas costelas com força e ele reprimiu um grunhido ao mesmo tempo que eu segurei os xingamentos que queria soltar. Era minha primeira noite aqui e eu já queria matar o príncipe herdeiro. Um de nós acabaria na guilhotina por matar o outro e eu apostava todas as fichas em mim.
O som dos guardas ficou ainda mais audível quando eles passaram por onde estávamos e meu corpo inteiro tensionou enquanto isso. Se alguém descobrisse minhas fugas, isso representaria proteção redobrada e ainda mais atenção, coisa que eu não precisava de forma alguma.
— Vem comigo! — null sussurrou quando os guardas se afastaram.
Ele saiu na frente e eu fiquei ali, sem entender nada. Pisquei os olhos, incrédula que ele estivesse me ajudando e mais cética ainda que eu estivesse o seguindo, pois foi o que eu fiz pela segunda vez em minutos. Ergui o vestido o suficiente para acelerar o passo sem cair e corri atrás dele na direção oposta à qual os guardas tinham seguido. Seguimos até a lateral do castelo, uma parte cheia de árvores e balanços com cordas enfeitadas por flores que se enrolavam ao redor delas. Eu tinha vagas lembranças sobre a casa na árvore que vislumbrei em cima de uma das árvores enquanto o seguia.
— Para onde estamos indo? — Perguntei quando ele parou do nada.
Olhei para null, mas ele parecia confuso ao analisar o lugar.
— Quem colocou esses balanços aqui? — Questionou retoricamente, franzindo o cenho.
— Ah, não. Você não sabe para onde estamos indo, não é? — Suspirei, deduzindo isso pela confusão em seu olhar.
— É claro que eu sei onde estamos indo! — Ele respondeu como se fosse óbvio, mas isso não me convenceu.
Tomando mais uma decisão errada essa noite, decidi confiar nele. null podia ser um ogro, mas eu queria voltar para meu quarto sem ser vista, e por não conhecer o castelo e o padrão de trocas de guardas por aqui, ele era minha melhor opção. Ele seguiu em direção a uma cerca-viva enorme e eu fui atrás, me amaldiçoando por ter tido a ideia de sair essa noite. Assim que passamos por duas cercas-vivas iguais à outra e depois de virarmos mais duas vezes em direções distintas, ele parou e encarou uma outra estátua de mármore, mas dessa vez seu olhar era de pânico, o que foi suficiente para soar alarmes na minha mente.
— Isso não é nada bom. — Ele murmurou.
— Por que isso não é nada bom, null? — Indaguei, olhando para a mesma estátua.
— Essa estátua significa que entramos em um dos labirintos que temos nos jardins aqui. O menor, para nossa sorte, mas não deixa de ser um labirinto. — Respondeu, passando as mãos no rosto como se procurasse uma solução. — Pior do que ficar perdido, é ficar perdido e bêbado na própria casa, mas pior ainda é ficar bêbado e perdido com você.
Eu podia muito bem gritar de frustração com a resposta dele. Não tinha reparado antes, mas olhando para os lados vi que estávamos cercados por cercas-vivas altas, floridas e com padrões que eu não tinha percebido.
— Você nos enfiou num labirinto? — Fechei os olhos, me controlando para não empurrar aquela estátua em cima dele. — Parabéns, Senhor "É claro que sei onde estamos indo". — Aplaudi, cheia de desdém.
— Você veio atrás de mim porque quis! — Ele pontuou, com raiva. — E ficar reclamando não ajuda!
Ele continuou a andar e eu fui atrás, dessa vez brigando comigo mesma por tê-lo seguido.
— Mas se for para comparar, pior do que estar em outro reino sozinha e tendo que aturar um babaca como você, é estar perdida em outro reino e ainda com um babaca bêbado como você. — Bufei, olhando para os céus em busca de paciência. — Eu me pergunto o que ainda falta para essa noite ficar melhor.
Me arrependi de perguntar imediatamente, pois muita coisa ainda podia acontecer. Estando na presença do null, eu não duvidava da capacidade dele de fazer besteira e eu ainda estava o seguindo, o que podia muito bem acabar em nós dois presos aqui para sempre.
— Não fala uma coisa dessas porque ainda pode ficar pior. — Ele falou, olhando para o céu como que para se certificar de que não começaria a chover.
Depois dessa, andamos em silêncio a procura da saída, intercalando o silêncio com alguns palpites de para onde seguir e eventuais reclamações. Isso acabou me lembrando vagamente da nossa infância e de como acabamos nessa mesma situação quando éramos mais novos brincando de esconde-esconde. Mantive a memória para mim porque a última coisa que eu estava sentindo era nostalgia.
Depois do que pareceram longas horas andando pelo labirinto, mas que na verdade foram minutos, finalmente vimos a saída e eu quase gritei de felicidade, me apressando para sair dali e correr na direção oposta à de null. Infelizmente, ele me parou antes que eu fugisse e me puxou para uma parte da cerca onde não podíamos ser vistos, o que resultou em nós dois muito perto um do outro.
— Você precisa parar de fazer isso! — O repreendi, lançando um olhar irritado.
— Vai por mim, não é por vontade própria! — Respondeu, abaixando o olhar para mim. — Tem dois guardas ali.
— É claro que pode piorar, né? — Me inclinei para o lado para espiar.
Os guardas realmente estavam mais à frente e pareciam concentrados demais no dever de proteger o palácio.
— Claro que pode piorar. — Sussurrou, tão irritado quanto eu pela situação.
— Tem outra saída? — Apelei.
Eu escalaria essas cercas se significasse que eu me distanciaria de null e voltaria para o conforto e confinamento do meu quarto.
— Tem! — Ele sorriu, o que foi o bastante pra me assustar.
null olhou ao redor de onde estávamos e seu olhar brilhou quando encontrou a estátua de centauro que estava perto de nós, como se ele tivesse ganhado o presente dos sonhos. Sem hesitar, null empurrou a estátua no chão e o barulho da escultura quebrando chamou a atenção dos guardas direto para onde estávamos.
— Agora nós corremos! — Acrescentou.
null disparou para o lado oposto, onde estaríamos escondidos quando os guardas passassem, mas que ainda daria para sairmos sem sermos vistos se os guardas seguissem na direção do corredor onde a estátua estava. Corri atrás dele e juntos vimos os guardas correrem em direção à estátua. Sorrateiramente, saímos de onde estávamos e corremos para fora do labirinto enquanto os dois iam na direção oposta. Levantei a saia do vestido de novo e comecei a correr com null. A situação era até cômica, o que me fez rir um pouco com a adrenalina enquanto meu cabelo soltava do coque e as mechas bagunçavam na frente do meu rosto. null olhou para trás ao ouvir minha risada e um sorriso cruzou os seus lábios, com certeza sentindo a mesma euforia que eu agora. Encostamos na lateral do castelo, atrás de uma pilastra, onde ninguém podia nos ver. Coloquei as mãos no quadril, tentando recuperar o fôlego que tinha sumido na corrida até aqui. Felizmente eu estava sem o espartilho ou seria mil vezes pior de recuperar.
— Tem uma entrada secreta naquele lado, mas os guardas vão nos ver. Alguma ideia? — Perguntou, voltando a atenção pra mim.
Mordi o lábio tentando pensar em algo e olhei ao redor. O lugar estava bem escuro, especialmente agora que uma nuvem densa cobria a Lua. Olhei para o lugar onde estávamos e vi uma janela discreta escondida atrás de umas moitas, próxima ao chão. Era grande o suficiente para passarmos e se estivesse aberta, com certeza daria para entrarmos por lá e acharmos nosso caminho depois. Me aproximei de lá e empurrei a janela para ver se conseguia abrir. Com um pouco de esforço e força, consegui abrir. Lá dentro estava extremamente escuro e eu não fazia ideia de onde dava, nem o que tinha, mas provavelmente levaria a um porão.
— Isso é um porão ou algo assim? — Perguntei a null. — A gente pode tentar a sorte aí dentro. Não temos muita escolha mesmo.
Dei espaço para null olhar lá dentro, mas ele pareceu tão perdido quanto eu.
— Não me julgue por não me lembrar desse lugar, mas aqui vai ser nossa saída mesmo. — Deu de ombros.
— Eu te julgo por respirar, null. — Retruquei quanto ao seu pedido para não julgá-lo por não lembrar do lugar.
null apoiou as mãos na moldura da janela e impulsionou o corpo para dentro, aterrissando lá dentro em um baque abafado. Observei ele passar pela janelinha e ao não o ouvir gritar por ter sido atacado ou nada do tipo, me convenci de que era seguro seguir.
— Pode vir! — Ele avisou.
Passar por ali com vestido se tornou uma tarefa mais difícil do que parecia e quando minhas pernas já estavam balançando dentro da sala, minha saia acabou enganchando em algo na janela.
— Ah, não... — Choraminguei, tateando atrás de mim para achar onde a saia tinha prendido.
As cegas, fui puxando a saia na tentativa de soltá-la de onde quer que tivesse prendido, mas para isso precisei usar as duas mãos. Tentei me manter o mais encostada possível onde eu estava, já que minha cabeça ainda estava para fora da janela, o que significava que minha saia estava totalmente levantada atrás, onde tinha enganchado. Já com raiva, puxei a saia com tudo e o som do tecido rasgando antecedeu a minha queda por ter me desencostado do parapeito que ainda me dava suporte. Despenquei com tudo, caindo de forma tão errada que não consegui conter o grito quando a dor irradiou no meu pé direito. A dor foi tanta que eu perdi o ar e a noção por alguns segundos, apenas vendo pontinhos brancos nublando minha visão.
— Ai, que... — Precisei de um minuto para recuperar a fala. — Inferno!
— O que aconteceu? — null perguntou, o que me lembrou que ele ainda estava ali.
Choraminguei e olhei ao redor para buscar algo para me apoiar e conseguir levantar, mas estava escuro demais. Me escorei na parede e usei o pé bom para me levantar, mas assim que tentei botar força no outro pé também, a dor voltou com tudo e acabei caindo para o lado, mas era onde null estava, então me segurei nele para não cair no chão.
— Eu acho que quebrei o pé. — Fechei os olhos, encolhendo o pé para longe do chão.
— Que azar é esse, null? Pelos Deuses! — null bufou, tendo a sensibilidade de abaixar um pouco para que eu pudesse me apoiar melhor em seus ombros. — Vamos sair logo daqui. Eu te ajudo a chegar ao seu quarto.
Eu ignorei o comentário e foquei em sair dali viva, o que parecia cada vez menos provável. null passou um braço ao redor da minha cintura e eu nem sequer quis reclamar por isso. Nesse ritmo, chegaríamos ao meu quarto ao amanhecer. A dor no meu pé estava insuportável e eu senti as lágrimas se acumularem quando tentei ficar em pé sozinha de novo. Tive que morder o lábio com força para reprimir outro grito. Eu podia odiá-lo, mas fiquei extremamente grata por null não ter me empurrado. Ergui o pé machucado, pronta para fazer esse esforço e chegar ao meu quarto, mas só o fato dele balançar com os pulos que eu teria que dar já doía.
— Bem que a vidente da festa disse que minha estadia aqui seria agridoce e com alguns perigos dos quais eu não poderia fugir. Só não imaginei que um possível perigo seria eu quebrando o pé no que devia ser um passeio calmo pelo jardim. — Fiz uma careta, apertando os dedos no tecido do casaco dele novamente.
— Vamos apagar esse dia da memória, tá bom? Eu vou te pegar no colo, mas isso nunca aconteceu. — Avisou, me pegando no colo de uma vez.
— Considere esse dia apagado. — Assenti, pois era a coisa que eu mais queria agora, embora duvidasse que meu pé fosse me deixar esquecer.
Mas antes que déssemos dois passos, a porta da sala abriu e dois guardas apareceram com lamparinas em mãos, provavelmente atraídos pelo meu grito. Os dois se olharam desconfiados pela cena — eu no colo de null.
— Ela quebrou o pé e eu estou ajudando! — null esclareceu rapidamente, também notando os olhares deles. — Na verdade, não devemos explicações. A princesa de Aleudoria está ferida, movam-se!
null ordenou com um tom de voz tão duro que os guardas saíram da frente e eu me senti estranhamente reconfortada com isso, pois não estava nadinha afim de aturar esse tipo de olhar. null e eu já estávamos noivos, o casamento seria em semanas. E daí que estivéssemos a sós em um quarto escuro no meio da madrugada? Porém, quando pensei por um momento que teria paz, o Rei apareceu.
Com um choramingo, deitei a cabeça no ombro de null, nem aí por ser null.
— Isso é culpa sua! — Ele reclamou.
— Minha?! — Ergui a cabeça, ultrajada.
— Sua, totalmente sua! — Insistiu, mas o ignorei.
Engoli em seco, tentando recuperar a compostura e a dignidade que me restavam mesmo com o vestido rasgado, o cabelo bagunçado, as bochechas molhadas com lágrimas e o pé latejando com uma dor insuportável.
— Majestade, podemos conversar em outro lugar e enquanto algum médico tenta me ajudar? Meu pé está realmente me matando. — Pedi suavemente, usando o charme que eu era conhecida por ter. — Nós vamos explicar tudo com mais calma.
O Rei olhou para mim, depois para null, depois para mim novamente. Seu olhar duro suavizou e ele soltou um suspiro, balançando a cabeça lentamente.
— null, leve null para a ala médica, um dos guardas irá chamar o médico. — O Rei falou olhando para null, depois para os guardas. — Rápido.
Um dos homens saiu imediatamente e null caminhou comigo para fora daquela sala. No momento, eu não estava dando a mínima para as consequências de hoje, mas uma última olhada para o rosto severo do Rei me deixou apreensiva pelo que iríamos ouvir.
— Nós conversaremos sobre isso pela manhã. — Ele falou calmamente. — Quando null tiver recebido cuidados médicos.
— Obrigada! — Tentei o melhor para sorrir, o que provavelmente ainda foi terrível.
O Rei nos deu as costas e seguiu na frente, com null me levando atrás até a enfermaria.
— Isso significa "Você está ferrado, null". — null bufou, aborrecido.
— Eu não estou triste por meu pai não estar aqui agora, na verdade. — Suspirei, cansada. — Seria terrível ouvir ele reclamar sobre minha inconsequência.
Eu sabia que meu pai tinha seus motivos para ser tão protetor. Ele se sentia culpado por não ter conseguido salvar minha mãe e fazia de tudo para me manter segura agora, mesmo que significasse mais guardas do que eu preciso. Ele ficaria furioso ao ser informado sobre hoje, mas felizmente eu receberia apenas uma carta com toda sua fúria, carta essa que eu poderia ignorar.
— Sorte sua, princesa. — null sorriu falso para mim.
— Eu posso levá-la, Alteza. — O guarda que sobrou se ofereceu, indicando a mim, me lembrando que ele ainda estava ali.
— Pode deixar, eu levo. Ela adora minha companhia mesmo! — Ele dispensou o guarda e seguiu caminhando comigo até a ala médica.
— Você está planejando me matar e por isso está querendo me levar pessoalmente até a enfermaria? — Franzi o cenho, deixando a cabeça pender para trás em sinal claro de cansaço. — Se for assim, por favor, me mata rápido. Esse dia já foi tortura o suficiente por todos os anos que ficamos longe um do outro.
Eu não sabia por que ele tinha resolvido me levar quando o guarda prontamente se ofereceu, mas estava cansada e com dor demais para descobrir ou me importar.
— Até que você é esperta, princesa. — Respondeu, sorrindo maldoso.
Fiz uma careta com o sorrisinho dele e quase gritei para os guardas virem me resgatar das garras desse louco, mas me contive e foquei em chegar logo à ala médica.
null acabou rindo baixo com o meu pedido para a minha morte ser rápida.
— Serei bonzinho com a sua morte, prometo. — Seu tom de voz saiu tão falso quanto ele.
— É o mínimo que você pode fazer depois de tanto estrago. — Suspirei, olhando para o meu pé que latejava tanto que parecia que ia explodir.
Na metade do corredor null tropeçou, quase me jogando dos braços dele. Arregalei os olhos e por instinto meus braços se fecharam ao redor dos ombros dele, minhas mãos apertando seu casaco com força e o meu rosto escondido na curva do pescoço dele para não ver a queda, mas a sua risada denunciou a brincadeira.
— Idiota! — Bati com força em seu ombro, o que apenas o fez rir mais.
O resto do percurso até a enfermaria foi sem mais problemas e meu peito se encheu de alívio quando entramos no cômodo cheio de camas vazias. As tochas estavam acesas e as velas perto da mesinha da primeira cama também. No entanto, como estava bom demais para ser verdade, meu pé machucado bateu na parede ao entrarmos e outra onda de dor pior ainda percorreu meu corpo. Mordi o lábio para segurar um xingamento e imediatamente olhei com ódio para null, mas seus olhos null estavam arregalados e cheios de culpa.
— Não foi proposital dessa vez, eu juro. Desculpa! — Retraiu os lábios, desviando o olhar para o meu pé machucado.
— Só me deita nessa cama e vai embora, por favor. — Praticamente implorei.
Eu tinha pedido "por favor" para null. Eu definitivamente estava desesperada e com muita dor para ter pedido isso.
— Sinto muito. — Murmurou baixinho, rapidamente me botando na cama mais próxima.
Não tinha mais forças nem para responder com algum comentário ácido ou brigar, só queria algo para dor e dormir. Meu peito se encheu de felicidade ao avistar os guardas aparecerem com o médico no encalço, como um raio de esperança em uma noite sombria. O médico correu até mim e pediu licença antes de tirar minha sapatilha para verificar o pé. O mínimo toque me fez ir ao inferno e voltar.
— Chamem as damas da princesa imediatamente! Aqui é assustador de noite e ela precisará de companhia. — null ordenou para os guardas, o que me surpreendeu.
Talvez a culpa tenha pesado o suficiente para que ele achasse que eu precisava de companhia, o que realmente seria uma coisa boa já que a enfermaria era muito deprimente.
— Sinto muito pelo seu pé, princesa insuportável. — null falou, soltando uma risadinha baixa, então me deu as costas e saiu do cômodo.
— Enfia esse seu "sinto muito" no... AI! — Gritei quando o médico girou meu pé para examinar. — Eu quero alguma coisa para dor, por favor.
Precisei discutir com ele até convencê-lo de que eu precisava da misturinha de ervas que Oliver tinha me falado sobre. Quando finalmente me deu, eu apaguei por completo me sentindo tão leve que null e essa noite infernal sumiram da minha mente em um sonho doce e bem-vindo.




oiie, trago a vcs essa historia da qual eu gostei bastante, não é de minha autoria infelizmente, espero que gostem.

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