Capítulo 52

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Sai da casa do Júnior quietinha, na encolha e calada pra morrer velhinha. Um deserto na rua, e o outro com carro todo preto, fechado. Entrei morrendo de frio, ele todo cheiroso, arzinho ligado.

Viviane: Poxa, ta frio.

Pará: Veio sem casaco, isso que dá.

Ele tirou o casaco dele e me deu, moletom lindo.

Viviane: Assim que eu gosto.-Falei rindo.

Ele me olhou com a cara de antipatia dele.

Pará: Quer ir aonde ?

Viviane: Vamos ficar daqui da favela mesmo, vamos beber alguma coisa dentro do carro e conversar.

Pará: Ta igual uma cracuda, hein.

Viviane: Se manca.

Pará: Se manca, vem só com papinho de favelada, cheia de gíria nessa porra.

Viviane: Iiih garoto...

Ele me olhou feião, ri.

Viviane: Tô brincando, delícia, gostoso.

Ele logo desarmou a carranca dele e riu sem graça. Passou a não no cavanhaque rindo.

Pará: O pai é gostoso, da licença.

Cai na risada, ele saiu com o carro.

Viviane: Não pode te dar confiança, né ?

Pará: Rum.

Ele parou em frente a uisqueria.

Pará: Pedir um combinho de jack pra esquentar.

Ele saiu do carro, pá, a uisqueria cheia. Lá foi ele todo gostoso, serinho. Eu só prestando atenção de dentro do carro, as piranha já fica com o rabo pegando fogo. Ele falou com o cara, pagou e não demorou muito pra ele vir com o balde e dois copos de acrílico de uísque.

Entrou no carro, colocou o balde no painel e foi preparando.

Viviane: Ta fazendo sucesso, né ?

Fernando: É.-Faz careta.

Viviane: Eu falo...

Fernando: Começa não meu amor, ta a maior paz, nós dois aqui.

Viviane: Uhum.-Fingi demência.

Dei um gole, o jack desceu esquentando tudo, dei uma misturada.

Fernando: Minha princesa dorme bem hein.

Viviane: Custou pra ela ser assim.

Fernando: Graças a Deus ela te dá um sossego.

Viviane: Já me deu muito trabalho, e vai dar ainda.

Fernando: Já tô com cabelo branco, daqui a pouco nem a tinta disfarça mais.

Rimos.

Fernando: Na moral mesmo, tava com uma saudade do caralho dê vocês. Se eu soubesse que você tava grávida naquele dia, muita coisa poderia ter sido mudada na nossa vida.

Abaixei a cabeça encarando o copo e afirmei, e depois voltei atrás.

Viviane: Não sei, nunca vamos saber. Já passou...

Fernando: Muita parada aconteceu na nossa vida.

Viviane: Muitas coisas, muitas mesmo.

Pará: Maior arrependimento foi ter perdido a minha família. Na moral, não é novidade pra ninguém, não escondo de ninguém o meu arrependimento, e o que eu sinto por você.

Viviane: Você tinha duas escolhas, a mim ou os seus sonhos. E você escolheu os seus sonhos e eu não julgo isso mas hoje em dia.

Pará: Não escolhi meus sonhos, escolhi um caminho que eu me arrependo até hoje. Perdi você, perdi os primeiros passos e meses da minha filha, perdi coisas além e preço nenhum paga isso.

Viviane: Você continuou vivendo, eu também, você arrumou uma mulher por você e ta tudo bem.

Pará: Para com isso cara.

Viviane: Não paro Fernando, é muita coisa que aconteceu, sabe ? Você me magoou demais com escolhas suas. Mas não vem ao caso agora.

Ele puxou meu braço e meu corpo foi pra perto dele.

Pará: Cara, para com isso.

Viviane: A questão não é parar com isso, a questão é que eu tenho medo. Tenho trauma de tudo que eu vivi, medo de amar demais ao ponto de me machucar da pior forma, Fernando. Entenda isso.

Pará: Te machucar ? Pelo amor de Deus, Viviane.

Viviane: Pensa nas suas atitudes, pensa em tudo.

Pará: Eu penso, eu penso nos meus erros até hoje. Errei com quem não merecia, sim! Paguei pelos meus erros ai, tô ai na caminhada. Você teve seus namorados dai, respeitei, também senti como qualquer um pelo fato de amar você. Você também sofreu, agimos da pior forma. Mas eu tô aqui disposto a luta pela minha família, quero ter você comigo morena, po cara, você é a mulher da minha vida...-Passou a mão no meu rosto.

Fiquei encolhida no banco, coloquei as pernas no banco e encostei a cabeça, aquilo tava começando a mexer comigo.

Senti meu rosto ficar quente, as lágrimas começaram a descer.

Pará: Para com isso, cara.

Ele largou o copo, puxou o meu, me puxou e me abraçou.

Pará: Para de chorar.

Permaneci calada.

Pará: Para de chorar, por favor.

Ele ficou abraçado em mim.

[...]

Livre - Concluído. Onde histórias criam vida. Descubra agora