2 - Devaneio real

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Como hoje é o lançamento do livro, decidi liberar mais um capítulo ♥♥

COMO TOMÁS HAVIA imaginado, a imprensa descobriu sobre as mortes dos dois deputados em menos de quarenta e oito horas

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COMO TOMÁS HAVIA imaginado, a imprensa descobriu sobre as mortes dos dois deputados em menos de quarenta e oito horas.

E o inferno se instalou dentro do seu local de trabalho.

Desde o dia anterior, o que ele mais escutava dentro da delegacia eram as várias linhas telefônicas tocando sem parar.

Tomás girou na cadeira, observando as duas fotos colocadas no centro do painel investigativo.

Hélio Milani e Josué Cabral.

Os corpos haviam sido descobertos no dia anterior, e ninguém ainda tinha uma maldita e plausível explicação do motivo que levara aqueles dois deputados a um hotel decadente, onde acabaram assassinados.

— E se eles estavam tendo um caso? — Os olhos de Ingrid, sua colega de equipe, cintilaram enquanto suas mãos agarravam o peso de papel em formato de um globo de vidro, o qual eles chamavam de "globo das teorias infinitas".

— Um caso? — Felipe coçou a cabeça, em dúvida.

— Uma paixão ardente. Dois deputados de partidos opostos, cada um com família própria. — A forma como Ingrid falava era uma mistura de empolgação e teatralidade. — Eles se descobrem apaixonados um pelo outro, e são mortos por causa disso.

Felipo agarrou o peso de papel que Ingrid lhe lançou.

— Os caras têm grana. Por que sairiam de Brasília e se enfiariam em uma espelunca, aqui em Belo Horizonte, se eles poderiam viver um tórrido e proibido caso de amor em alguma ilha paradisíaca, onde poderiam subornar todos os funcionários? Sua vez, Tomás.

— Só sei que a delegacia está fervendo, e a mídia está botando ainda mais fogo em cima dessa história. Não avançamos quase nada na investigação — Tomás falou quando Felipo jogou o peso de papel para ele. — Precisamos de mais gente trabalhando no caso.

— Isso significa que posso fazer parte da equipe?

Aquela voz paralisou Tomás.

Um por um, todos os músculos de seu corpo ficaram tensos, desde os cantos da mandíbula até a ponta dos pés. Sua pele ficou quente; um arrepio percorreu toda a extensão de sua espinha.

Ele agitou a cabeça.

Aquela não era a primeira vez que imaginava que sua antiga parceira de trabalho ainda estava na delegacia.

Nas primeiras semanas após sua partida, às vezes Tomás se esquecia de que ela não estava mais ali. Havia se acostumado tanto com sua presença, durante os anos de trabalho lado a lado, que sua imaginação criava uma ilusão trêmula e desbotada dela; ele quase achava que a veria andando de um lado para o outro, encostada em alguma mesa ou em pé na sala de evidência, vasculhando as caixas que nunca tinham fim.

Guardara aquilo para si mesmo; como um homem que gostava de manter uma rotina impecável, se convenceu de que era apenas uma questão de tempo para que aquelas impressões se esvanecessem completamente.

A explicação era simples: trabalhara com a parceira por anos a fio. E, de repente, ela tinha ido embora. Sua mente rotineira lhe pregaria truques e o faria acreditar que nada havia mudado, que ela ainda estava ali. Porque ele não gostava de mudanças bruscas.

Só tinha que aceitar que as coisas tinham mudado.

Que uma amiga querida e uma profissional exemplar precisara partir por motivos pessoais.

Que estava vivendo em outro estado.

A 1.168 quilômetros de distância.

Então, com o passar dos meses, ela seria apenas a lembrança de bons anos de trabalho, e não uma presença real.

E foi assim que aconteceu.

Ou quase.

Mas...

Mas aqueles devaneios jamais haviam envolvido o som alto e claro de sua voz. Tão perto. Como se ela estivesse a poucos metros de distância de sua mesa de trabalho.

— Ora, ora! — Um largo sorriso começou a se formar lentamente no rosto de Felipo. — Vejam só o que Blumenau despachou de volta para Belo Horizonte! Cansaram de você?!

Tomás escutou o risinho baixo, feminino e divertido, um som cristalino tão familiar que deixou sua camisa social apertada, a pele irritada.

Aquela voz não era um mero devaneio.

Ele meneou a cabeça outra vez, piscou, engoliu em seco e, em seguida, lentamente, muito lentamente, se virou.

A primeira coisa que ele viu foram os olhos verdes, cintilantes como um campo tocado pelos raios de sol no verão. Os cabelos, longos e ondulados, estavam com um tom mais escuro do que da última vez em que a vira. O rosto com vários pontinhos de sardas, o corpo de alguém que batia o cartão todo dia na academia... E aquela boca atrevida, que fizera criminosos tremerem nas salas de interrogatório, e que agora se alargava em um sorriso que conseguia ser, ao mesmo tempo, apreensivo e animado.

Sim, ela estava mesmo ali.

Tudo dela estava ali.

Cada pedacinho.

Por um momento, a única coisa que Tomás conseguiu fazer foi fixar os olhos nela, e então o nome que ele havia deixado de falar ao longo do último ano escapou de seus lábios.

— Josi.

— Josi

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Promessa Perversa | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora