O DIA PASSOU em uma sucessão de depoimentos, perguntas, depoimentos e mais perguntas.
Josiane respondeu tudo o que o delegado quis saber. Contou tudo o que havia contado para Tomás. Foi orientada a permanecer nas redondezas — não obrigada, apenas aconselhada. Prometeu que não iria embora de Belo Horizonte enquanto as investigações não fossem concluídas. Ofereceu ajuda paralela, consultoria. E só foi dispensada do departamento quando o horizonte engoliu o sol e a noite cobriu a cidade.
Afastando-se do corredor sombreado que levava para as salas de interrogatório, Josiane caminhou com passos lentos as luzes frias roçando seu rosto. O movimento havia diminuído; somente os funcionários dos plantões noturnos cumpriam seus horários.
Ela parou diante do mural investigativo, analisando as fotos dos deputados Hélio Milani e Josué Cabral.
O caso fervia na mídia.
Josiane imaginava que logo haveria uma briga por jurisdição e direito na investigação.
Suspirou.
Não queria ficar longe da família enquanto Sueli batalhava contra uma doença traiçoeira.
E, ao mesmo tempo, conhecia as regras de uma investigação.
Principalmente as regras não ditas em voz alta.
Josiane encarou mais uma vez a foto de Hélio Milani.
Faria tudo o que estivesse em seu alcance para desvendar aquela história, aqueles assassinatos, e poder voltar para seus tios e suas primas.
Ela se virou e, enquanto seguia para o elevador, teve a sensação de que os olhos do deputado Milani, congelados na fotografia, queimavam suas costas.
De repente, era como se as sombras da delegacia sussurrassem.
Engoliu em seco e apertou o passo; ao virar no corredor seguinte, colidiu com a pessoa que vinha na direção oposta.
Josiane ofegou; as mãos firmes de Tomás a seguraram, impedindo sua queda, o cheiro tão familiar da colônia dele a enlaçando feito uma corda forte e invisível.
— Te peguei — ele falou; um sussurro de voz que causou um arrepio involuntário nela.
Erguendo a cabeça, ela o fitou; assim que entreabrisse os lábios, sua respiração roçaria no rosto dele.
— Desculpa. Virei rápido e não te vi.
— Sem problemas — Tomás respondeu, e então pareceu se dar conta de que ainda a segurava. As mãos dele se afastaram de seus braços; a pele de Josiane estava mais quente onde ele a tocara.
Ela deu um passo para trás e virou o rosto para o elevador.
— Já está indo? — perguntou. — Ou vai ficar no plantão da noite?
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Promessa Perversa | DEGUSTAÇÃO
RomansaLIVRO EM DEGUSTAÇÃO. DISPONÍVEL NA AMAZON Após mais de um ano desde a mudança para outro estado, a investigadora Josiane Monteiro se vê obrigada a voltar para a antiga cidade onde trabalhava quando um duplo assassinato acontece, ligando-a à cena do...