Vampiros não existem

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Vampiros não existem.

— Existem! — Jungkook insistia. — Minha avó me contou, eu consigo até ver. — Ele fechou os olhos e narrou, teatral. — Olhos vermelhos, vidrados...o queixo sujo de sangue, as mãos de garras enormes...trêmulas! — Abriu os olhos, encarando o amigo profundamente, numa pausa dramática. — E então ele correu pra escuridão... E nunca mais foi visto... Mas! — Exclamou. — Um corpo foi encontrado na floresta aquela manhã...e adivinha... — Jungkook se debruçou sobre a mesa, fazendo o outro se afastar alguns centímetros. — Sem. Uma. Gota. De sangue.

— Ah, vá! — Jimin sugou seu milk-shake de framboesas, zero por cento impressionado. — JK, isso são só histórias.

— Minha avó não mente, cara, eu já te disse! — Sentou-se corretamente de novo, indignado. — Se ela disse "Eu vi um vampiro", então ela viu um vampiro.

— Certo, certo... — Suspirou, derrotado. — Mas por que você acha que justo o senhor Kim é um vampiro?

— Você viu, ele mora num monsoleu e fala como se fosse um estrangeiro japonês da segunda guerra.

— Que exagero! Ele tem a minha idade, Jungkook.

— E você já chama ele de senhor.

— Porque ele vai ser meu patrão? — Perguntou como se fosse óbvio. — E ele nem fala de maneira tão antiquada assim. Na verdade mal dá pra notar.

— Ah, dá! Dá inclusive pra perceber que ele tá disfarçando.

— Ele é só um herdeiro de dinheiro velho. — Sugou o restante do milk-shake. — Sinceramente, a única coisa que me preocupa é o quanto ele é gatinho.

— Eu tô te avisando!... Não se deixa enganar pela beleza dele! É próprio da espécie... Pra atrair as presas.

Aquilo foi o que seu dongsaeng inteligente porém extremamente impressionável lhe deixou de recado um dia antes de ele se mudar para a mansão do senhor Kim. Claro que Jimin não acreditava em nada daquilo, por mais que a avó de Jungkook fosse realmente uma pessoa maravilhosa e, deveria dizer, uma verdadeira figura, mas... Como expressar aquele sentimento em palavras? De fato, Kim Taehyung tinha algo de...

— Excêntrico?

— Am... Não foi o que eu quis dizer...

— Ora, Park Jimin. — O Kim apertou o nó da gravata com as mãos enluvadas. — Existe um sinônimo para tudo isso que você acabou de me chamar.

— É que... — Ele estendeu o paletó, ajudando o patrão a passar os braços pelas mangas. — Sabe, nós temos a mesma idade e... Agimos tão diferentes, o senhor entende? Foi nesse sentido que eu quis dizer.

— Hu... — Ele soltou uma única risada baixa e soprada, como costumava fazer. — Nós temos e não temos a mesma idade, Jimin. — Ele pigarreou, arrumando o paletó sobre os ombros. — E pare de me chamar de senhor.

— Mas o senhor...

— Sou seu patrão, mas temos a mesma idade, você mesmo não disse? — Seus sapatos de solas caras faziam um barulho alto no chão de taco a cada passada larga sua. — Vamos, não quero me atrasar.

— Ah... Certo. — Ele saiu atrás, verificando a chave do carro no seu bolso. — Digo, sim senhor.

— Não me chame de senhor. — Repetiu insistente enquanto Jimin abria a porta do carro para ele. — E faça silêncio durante a viagem, sim?

— Hm... Ok. — Jimin se acomodou no banco do motorista e saiu do estacionamento. Era difícil ficar calado perto de Taehyung, tanto que chegava a ser engraçado, mas era inevitável. Por exemplo, naquele exato momento Jimin podia ver o patrão pelo retrovisor cobrindo os olhos com os dedos longos de uma mão. Ele sempre fazia isso, toda santa vez que saiam de carro; era como se não quisesse olhar a paisagem que passava pela janela, ou pior, que sequer suportasse.

Blood Price - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora