Fetiches com sangue

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— Fetiches com sangue. Já ouviu falar?

— Ah... Já...?... Por alto.

— Então... — Ele apoiou os cotovelos nos joelhos. — ... é aí que eu entro. — Falou baixinho, como que contando um segredo. — E você pode entrar também.

— Isso não faz sentido. — Ele tomou metade do whisky em um gole. — Você é maluco.

— Pessoas pensam que tem fetiches. Nós não, nós temos um fetiche de verdade. Um fetiche com sangue. — Voltou a recostar as costas na cadeira. — Basta se misturar entre elas, as pessoas que acham que tem fetiches sexuais com sangue, e... Voilà!

— Não. — Bateu o copo vazio no mesa. — Não gosto dos seus jogos. — Fez menção de ir embora. — Não concordo com eles.

— Ei, ei, não, é sério. — o impediu de se levantar. — Eu tenho sangue aos montes, todo final de semana, e dado de bom grado, sem ninguém precisar saber quem eu sou. É fácil, é simples, e é prático, e já está pronto pra você.

— Não faz meu estilo.

— Ah, não? E o que faz seu estilo? — Perguntou, com sarcasmo. — Ficar escondido numa mansão no meio do mato, como um morcego de caverna, comendo frutinhas? Faz quanto tempo já que você está nessa? Acha que até agora ninguém achou nada estranho?

— Nós somos fantasia, Jungkook. — Encarou-o, sério. — Somos literatura. Somos irrealidade. Somos imaginação. Ninguém nos vê, ninguém acredita, ninguém nota, e é assim que eu quero passar: desapercebido.

— Sério? — Jungkook o encarou de volta. Os dois num desafio de quem tinha o olhar mais afiado. — Acha que as pessoas que você deixa vivas ficam de boca fechada? Não seja idiota. Ninguém é um túmulo até ir parar em um, sabe disso.

— Não vou mais discutir com você. — Olhou no relógio. — Já deu minha hora. — Levantou. — Não vou deixar Jimin esperando.

— Hm... — Murmurou, olhando-o de cima a baixo, medindo, estalando os próprios dedos com o polegar. — Você está bastante preocupado com seu mordomo hoje, ãh...

— Algum problema? — Olhou-o por cima do ombro.

— Nenhum. — Sacudiu os ombros. — Eu não sinto o cheiro dele, cara. — Se levantou pra se servir de mais whisky. — Não precisa sentir ciúmes. — Provocou.

— Não tem porquê. — Afastou a cortina vermelha, de saída. — Jimin só trabalha pra mim.

— Só? — Tomou um gole generoso. — Você não dura muito mais, Taehyung... — Foi chegando perto a passos curtos, até encostar o ombro no dele. — Eu não sinto o cheiro dele...— Sussurrou no seu ouvido. — Mas você sente, não é?

É claro que sentia. Um cheiro gostoso, doce e vermelho, como de gordas cerejas em calda de conserva, explodindo na boca. Forte e intenso, impregnado no ar. Abriu os olhos. Claro, Jimin estava bem ali, dormindo encolhido, acomodado nos seus braços. Afundou o nariz nos cabelos vermelhos. Ah... Bela maldição... Agora aquele cheiro ficaria ali no seu quarto, assim como já estava por toda casa.

Afastou um pouco o lençol pra cima, olhando o corpo nu deitado com o seu; esculpido em tão generosas curvas... A pele branquinha com discretas manchas vermelhas, principalmente no pescoço, e o braço esquerdo riscado de um vermelho intenso, aonde sangue havia escorrido.

Baixou o lençol de volta, afundando os dedos nos cabelos escarlate, um tom acima dos lábios fartos. Tão lindos... Passou o polegar sobre eles; tinha vontade de cravar os dentes neles, e beber o sangue dali, enquanto os beijava... Quantas vezes não se imaginou fazendo aquilo? E agora que tinha a chance, não tinha coragem. Talvez Jimin não gostasse... Ele era tão jovem, Taehyung sentia que não tinha tato com aquela geração em particular.

Blood Price - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora