As Brincadeiras

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O som de uma orquestra sinfônica ressoava ao meu redor, uma música irritantemente calma acompanhada de um odor adocicado, era uma das poucas coisas que meus sentidos conseguiam captar. Isso se dava pelo fato de ter uma venda sobre meus olhos e meu corpo está parcialmente imobilizado, sentado em uma cadeira com os meus braços presos por de trás dela e os tornozelos igualmente prendidos de cada lado das pernas da cadeira.

A situação é humilhante, ser detido por um pirralho metido, ficar apagado por tempo indeterminado, ser preso e forçado a ouvir essa musiquinha nojenta enquanto espero pela vinda do meu captor, isso sim é humilhação. Vergonhoso. Mas se ele pensa que será fácil me matar está muitíssimo enganado, matarei esse projeto de homem assim que surgir uma oportunidade.

De longe pude ouvir um barulho de passos, vinha se aproximando cada vez mais. O ranger da porta se abrindo me alertou, alguém estava adentrando na sala.

- Dormiu bem, querido? – A voz do loiro ressoou. – Desculpa te deixar esperando é que tinha que resolver umas coisinhas antes. – Falava enquanto mexia em algo que tinha um som parecido com chaves. – Mas agora, nós já podemos começar.

Ele se aproximou mais e o odor adocicado se tornou mais forte, esse perfume dele me dava náusea. Sentir as mãos desamarrando a venda que cobria meus olhos a retirando por completo. Finalmente estava vendo.

O local em que me encontrava tinha pouca claridade, ainda que tivesse uma lâmpada amarelada, a escuridão parecia se destacar mais. O lugar era todo de madeira, com exceção do piso árido, havia uma escadaria a minha direita, já o restante da sala não conseguia ver muito bem.

- Assim está bem melhor né?! – Comentou o loiro indo se sentar em uma cadeira a frente da minha.

O rapaz me olhava com certa alegria, mantendo um sorriso amigável, os olhos azuis miravam para meu corpo, ele agia como se quisesse ver o que estava debaixo das minhas roupas, os cabelos loiros dessa vez estavam jogados para trás o deixando com uma aparência mais adulta. As roupas foram trocadas, antes usava peças simples, agora parecia que iria a um desfile de moda, mesmo elas sendo escuras chamavam atenção.

- Serrei breve, não encontrei nada com você; nenhuma carteira, dinheiro, documento. Você é um completo estranho e o fato de não ter uma mísera identidade e também ter tentado me matar, me faz pensar que você possa ser um foragido ou um maluco e seja lá qual for à opção fico feliz de ter tido a oportunidade de te encontrar, pois dessa vez não precisarei me preocupar em forjar uma morte. – Divagou o loiro me olhando desejoso. – Então, antes de começarmos gostaria de saber seu nome.

Eu nada disse, apernas mantive minha postura indiferente para aquele merdinha.

- Nossa você não fala? Podia jurar que havia te escutado antes. – Fingiu está chocado. – Bem, talvez você só esteja com vergonha e precise de um empurrãozinho para começar a tagarela. – Aproximou sua cadeira da minha.

Com um movimento rápido puxou uma mesinha que igualmente como sua cadeira deslizava pelo chão. Por cima da mesa diferentes ferramentas médicas se encontravam, algumas pareciam verdadeiros instrumentos de tortura, tudo estava limpo e organizado, me senti diante de um dentista.

- Vejamos o que devo usar para fazer você recuperar sua fala. – Analisava cuidadosamente os aparelhos na mesa. – Já sei. Abra a boca, querido.

Como obviamente não fiz o que foi solicitado, o garoto tampou meu nariz com uma das mãos de forma agressiva. Ele esperava que pela falta de ar eu fosse forçado a abrir a boca, mas nem ferrando que iria facilitar para ele. Entretanto, o ar gradualmente foi sumindo e um desespero tomou conta de mim, a única coisa que meu corpo exigia era que buscasse oxigênio de algum lugar. Vi seu rosto próximo do meu, aquele sorrisinho filho da puta dele já estava amostra. Não vou ceder, mesmo que desmaie, não vou perder para ele, as coisas em minha volta começaram a escurecer ainda mais. Nesse mesmo instante senti um soco no estômago que me trouxe de volta a realidade, minha boca se abriu por breves segundo por conta do susto, da dor e também a procura de ar, contudo antes que pudesse fechá-la um bisturi entrou com tudo em minha boca, se posicionando ao lado esquerdo, não me mexi, sabia como um objeto desses podia ser preciso.

- Meu bem. – Disse soltando meu nariz. – Qual é o seu nome? – Me olhou em expectativa.

Novamente fiquei em silêncio, com isso o loiro começou a mover lentamente o bisturi, senti a parte interna da minha bochecha sendo cortada, ainda que não doesse tanto comparado as outras coisas que já me aconteceram, incomodava muito. A pequena faca parou de se mover e começou a pressionar um único ponto, abrindo cada vez mais a carne, a dor se intensificou, não pretendia dizer meu nome, mas ao ver as expressões faciais de satisfação dele percebi que esse garoto não pararia de me corta e se eu não fizesse nada a lamina acabaria atravessando pelo outro lado da minha bochecha.

-Charles. – Me pronunciei. Que humilhação.

Ao me ouvir parou de pressionar e apenas manteve o objeto dentro da minha boca.

- O que disse? – Perguntou surpreso.

- Charles. – Respondi mais alto o olhando com toda raiva que essa situação proporcionava.

- Charles de que? Existem tantos Charles por aí. – Zombou de mim.

- Charles Lee Ray.

- É um nome bonito, combina com você. – Retirou o bisturi da minha boca, fazendo questão de passa à ponta dele sobre o meu lábio inferior o cortando. – Opa, desculpe.

O gosto metálico do sangue circulava por toda minha boca, um pouco saia pela lateral e pelo lábio recém-cotado. O rapaz pegou um lenço passando sobre o sangue que escorria, o limpando, em seguida o cheirou fazendo uma cara de aprovação. Credo que cara nojento.

- Certo Charles, antes de iniciarmos as nossas brincadeiras vamos às regras... – Falou enquanto guardava o lenço no bolso. – Não é permitido gritar sem está gravemente ferido, não é permitido fazer perguntas estupidas como: "por que está fazendo isso comigo?" e não é permitido se urinar ou se defecar. E não fique se balançando e tentando se soltar, você está em uma cadeira feita de metal resistente e soldado no chão, suas mãos e penas estão muito bem algemadas, tentar sair só vai te machucar. – Citou calmamente as condições para a tal brincadeira, ele parecia levar isso muito a sério.

Terminando sua fala, abriu uma gaveta na parte de baixo da mesinha e retirou de lá uma espécie de chicote, parecido com aqueles que se usa na equitação. Já podia esperar o que se iniciaria disso, ele vai me bater, isso é obvio, mas não posso julgá-lo apesar de preferir matar minhas vítimas rapidamente, às vezes é interessante tortura-las.

Com um leve empurrão arrastou sua cadeira e mesa para o outro lado da sala, mantinha um singelo sorriso ao se prepará para começar a me golpear. Quando o chicote bateu sobre meu braço senti uma espécie de ardência incomoda, esse merdinha era forte. Ele me olhou encantado pela minha falta de reação a dor.

Como percebeu que aguentaria, brandiu o chicote novamente, utilizando de uma força ainda maior do que da primeira vez, me encolhi algumas vezes, o corpo se contraia diante a dor a cada contato com o objeto, meus braços, peito e barriga foram os alvos de todos aqueles golpes. O outro não parecia se cansar, pois podia jurar que já estávamos nisso a um bom tempo. A dor ficou mais forte, senti uma ardência e queimação sobre minha pele que antes não se manifestava com tanta intensidade.

Ocasionalmente ele só parava de me bater quando começava a rir ou para levantar meu rosto, pois eu não conseguia ficar o olhando, não queria que percebesse o quanto estava me machucando e como tudo isso doía, mas o filho da puta fazia questão de segura meu queixo e me forçava a levantar a cabeça e encará-lo, nesses momentos demostrava não está com tanta irá do que ele estava fazendo, mas acho que mesmo assim o olhava com raiva.

- Charles estou impressionado, você é o melhor brinquedo que já tive. – Falou se abaixando entre as minhas pernas. Era uma pena está tão bem algemado, caso contraio já teria dado uma cabeçada nele. – Você é tão obediente, não descumpriu nenhuma das regras. Por conta disso te deixarei descansar um pouco. – Sorriu de modo angelical se levantando logo em seguida e indo em direção as escadas. – E não se preocupe as nossas brincadeiras só estão começando.

Subiu as escadas abrindo a porta e passando por ela. A sala ficou silenciosa o som da música clássica tocando baixinho continuava e o odor doce também. Apanhar para esse loirinho só serviu para me deixar com mais raiva e fazer com que diversos planos começassem a serem criados, pois irei sair daqui e matarei esse cara, é só questão de tempo e oportunidade.

Chucky Está de VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora