A Fuga

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O Som de porta por porta sendo aberto deixava claro que cada vez mais ele se aproximava do meu esconderijo. Pierre abria as portas, mas não chegava a adentrá-las, podia ouvir perfeitamente que o ranger da madeira no chão não continuava quando as portas eram abertas e fechadas. Penso que ele apenas abria a porta, ligava a luz e olhava para dentro vistoriando o recinto. Não perdia seu tempo verificando cada lugarzinho.

Como o quarto que entrei estava completamente escuro e não poderia ligar a luz, pois ele veria a iluminação pela fresta da porta, tateei tudo que me cercava, tentando saber as coisas que estavam por perto. O quarto em si parecia um daqueles lugares cheios de tralha, onde as pessoas colocam todo tipo de coisa sem utilidade, havia inúmeras caixas de papelão e alguns instrumentos que não pude identificar muito bem. Escondi atrás de uma dessas caixas, que ficava ao lado da parede, me cobri com um pano, que antes estava sobre um objeto grande, encolhi o máximo que pude.

A porta se abriu em um estrondo, assustei um pouco por não ter percebido sua aproximação. Pierre acendeu a luz e diferente do que vinha fazendo entrou no quarto, seus passos calmos e calculados foram para o outro lado. Como se tratava de um quarto entulhado ele obviamente teria que checar melhor. O pano que estava sobre mim, era escuro e não me deixava ver muito do que se passava ao meu lado, assim tranquei minha respiração conforme ele andava por todo perímetro.

Em dado momento, Pierre soltou um suspiro e saiu de dentro do quarto, esperei que ele tomasse distância e longo depois me movimentei devagar, tudo estava escuro novamente. Andei cuidadosamente temendo tropeçar em algo ou mesmo fazer um barulho desnecessário que fosse ouvido e o trouxesse para cá. Chegando na porta, fiquei parado escutando seus passos descendo as escadas. Abrir a porta lentamente, a luz preencheu o cômodo me dando a visão das coisas que tinham ali dentro, nada que valesse a pena pegar, só coisas pesadas e caixas lacradas. Sendo assim, passei pela porta e andei para próximo da escada, cogitei a hipótese de vasculhar os quartos a procura de algo que pudesse servir de arma, mas imediatamente recusei a ideia, ele havia visitado todos eles, se tivesse algo potencialmente mortal ele mesmo tiraria de lá.

As escadas que levavam o andar inferior eram de madeira escura, assim como todo o restante da casa. Temi que as descer causasse um rangido audível, mas como não tinha escolha a desci cautelosamente. O corredor da escadaria era estreito e terminava em uma porta de madeira que se parecia a uma porta comum de um quarto qualquer. Fiquei rente a passagem e coloquei o ouvido sobre a madeira, não escutei nada. Abri a porta e olhei para tudo em minha volta, a porta que eu estava era mais uma de várias em um corredor que ficava ao lado de uma enorme escadaria, do outro lado da escada havia outro corredor com a mesma quantidade de portas.

Isso aqui parecia uma daqueles casarões antigos, era grande e bonito, mas parecia um labirinto para alguém na minha situação e o pior de tudo era que com todas essas portas era quase impossível saber onde Pierre estava. Ao ouvir uma maçaneta sendo girada, voltei para trás fechando levemente a porta, ele estava por perto, o som veio do corredor a frente do meu. A porta se fechou e foi trancada logo em seguida, maravilha agora ele está trancando as portas depois que vistoria.

- Eu sei que você está aqui Charles, A porta de entrada continua trancada e você claramente não teve tempo de descer para o primeiro andar, está aqui em cima, sei disso. E é só questão de tempo e paciência para eu te encontrar. – Pierre se pronunciou enquanto andava. – Mas olha, pra ser sincero estou adorando isso, esconde-esconde sempre foi umas das minhas brincadeiras favoritas. – Abriu uma porta e passou por ela.

Sai de onde estava e abrir a porta ao lado, por sorte não estava trancada, passei por ela a fechando. O lugar que adentrei era um escritório grande, tudo estava bem organizado e ajeitado, mesmo assim passava uma impressão de que tudo ali estava velho, não tinha aparelhos eletrônicos e isso condizia com a sala madeirada escura. Havia uma janela do outro lado do escritório, em um tipo de sala de estar pequena, fui rapidamente para lá, retirei a cortina que a cobria e a abrir, um pouco de claridade preencheu o lugar. Era noite e nuvens carregadas cobriam o céu, uma brisa fria passou por mim e uma sensação maravilhosa tomou conta.

Analisando melhor o lado de fora vi que estava cercado de mato. Mesmo sem qualquer iluminação sabia que estava diante de uma mata fechada, olhei para baixo da janela e não conseguir ver o chão devidamente, estava muito escuro a casa era a única fonte de luz naquele local. Não podia pular daquela janela, mesmo que este seja o segundo andar, poderia cair por cima de alguma coisa ou me machucar na queda.

Preciso agir! Pierre sabe que ainda estou dentro da casa e logo ele vasculhará este cômodo também. Preciso de uma arma, qualquer coisa que dei para cortar ou perfurar.

Voltei para a parte principal do cômodo, o escritório. Abrir as gavetas da mesa a procura de algo... Uma tesoura ou um estilete seria muito útil. Revirei todo por perto e nada parecia adequado para se tornar uma arma. Só papeis, livros, relógios e uma coleção estupida de gibis. Na última gaveta havia uma única caneta de metal. O porquê de um escritório ter apenas uma caneta, não me pergunte também achei estranho, mas o que espera de um cara que sequestra pessoas.

Ouvi uma porta se fechando e sendo trancada. Fiquei em alerta posicionei na parede ao lado da porta, nesse local ele não poderia me ver quando a porta estivesse aberta. O plano era o seguinte, quando ele entrasse, daria alguns passos e ao está um pouco a frente eu seguro a mão em que está a arma e com a minha outra enfio a caneta em sua jugular.

É simples. Não tem como errar. Não posso erra e não irei.

Chucky Está de VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora