Prólogo

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Liam

10 anos antes

Eu não conseguia ver coisa alguma, a pista estava escorregadia, as rodas pareciam ser atraídas para as zebras, o kart chacoalhava e no pouco que eu tinha de visibilidade ainda consegui ultrapassar dois dos que estavam mais lentos a minha frente.

Ótimo, eu ainda estava em quarto. O que significava que eu estava...

Ferrado!

Era coisa demais a se pensar quando se está colado ao chão indo tão rápido.

Abri a curva a minha frente e recebi um jato de água na viseira, desviei a tempo quando vi o kart da frente rodar e sair para a grama.

Menos um...

Passei a linha e vi a placa indicando a última volta, automaticamente enfiei o pé no acelerador. Ainda me lembro do gosto amargo tomando minha garganta. Eu estava em terceiro e mal conseguia respirar.

Eu estava em terceiro depois de sair lá do fundo em um tempo onde vários desistiram.... Devia valer alguma coisa. Tinha que valer!

Cruzei a linha de chegada colado ao segundo colocado, se tivesse mais duas voltas conseguiria chegar nele também.

Olhei para os lados, eles haviam desistido de dar uma última volta, o que era um problema para mim, eu gostaria de ter um pouco mais de tempo para pensar.

Mas não tinha.

Alinhei meu kart na parte coberta dos boxes e demorei um pouco para sair dele. Minhas mãos estavam formigando, não pela corrida, mas pela tensão em quase esmagar o volante de tanto pensar.

Tio Mark me estendeu a mão e agradeci por vê-lo ali. Soltei o ar aliviado, criando coragem para tirar o capacete, não quis nem arriscar olhar por cima de seu ombro.

Senti seus dedos em meus cabelos naquele afago reconfortante.

⸻ Bela corrida, Vaux! Com esse tempo... ⸻ assobiou olhando o horizonte impressionado ⸻ Nem seu pai daria conta.

Tentei rir da brincadeira, mas dei de ombros entregando o capacete a ele. Sabia que a parte boa estava acabando e ele via aquilo no meu rosto.

⸻ Vai lá pegar seu prêmio, vai, garoto.

Tio Mark era um cara incrível, o tipo de homem que não se abalava por nada, para ele, nada que estivesse ruim, não poderia ser arrumado no futuro. Eu senti, naquelas palavras que o futuro podia ser bom, mas o presente seria bem difícil.

A saída para o pódio improvisado na parte de dentro, foi calma, esperei a imensa fila de garotos a minha frente e me juntei aos dois primeiros. Enquanto caminhava de volta, uma garota interrompeu meu caminho, eu não a conhecia, mas ela era bonita, na verdade, não me lembro muito dela, porquê tive meio segundo para olhar seu rosto antes que ela me beijasse, foi estranho, constrangedor, mas bem gostoso. Quando ela se afastou de mim sorrindo, com a promessa de me ver em outra prova, o olhar de meu pai me encontrou como se fosse um raio cortante.

O beijo foi a única coisa boa que ganhei naquele fim de semana, e teria um preço alto, o troféu barato não era o meu primeiro, mas ficaria marcado para mim, aquele dia todo, aquela corrida toda, e tudo o que aconteceu depois dela quando subi na caminhonete de meu pai...

Bem, eu subi de categoria naquele fim de semana, consegui o primeiro patrocínio da minha vida, mas perdi as duas primeiras corridas da nova temporada porque "me machuquei na pré-temporada".

Nunca mais vi aquela garota, ou sequer tive a chance de tentar outro beijo... Felizmente para mim, não faziam falta, não depois do que aconteceu.

O Coração  do Campeão - Serena e Liam Onde histórias criam vida. Descubra agora