🥀||Prólogo

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Eu tentei

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Eu tentei.

Eu juro que tentei.

Tentei mentalizar coisas boas.
Meus amigos, suas mãos tão distantes da plataforma, eu fazia questão de alcança-las e segurar todos os dias. Devia tanto a eles. Eram minha base e fortaleza, a única coisa que parecia verdadeiramente real e palpável dentro daquele completo sonho que tocava no comando da minha própria voz, a minha própria música.

Grata do pico dos palcos até o ninho das cobras, porque eles tomaram tudo de mim. E sinceramente, um brinde ao meu irmão que teve que ouvir todo aquele drama.

Tentei respirar fundo, uma, duas, três vezes. Bloqueando o choro, minha garganta dilatando até rasgar, engolindo amargo cada espinho de um erro que não era meu.

Não importou.
Não importava. Nada disso importava.

Tudo dentro de mim já estava completamente estilhaçado, rastejando e coçando minha pele. E o único movimento sistemático que meu corpo permitia, em nada o revigorava. Minhas unhas descendo violentamente, esfolando os ombros ao cotovelo. Esses mesmo braços esfolados apertando meu corpo, impossívelmente envolvendo minhas costelas, chacoalhando para frente e para trás, para frente e para trás, em uma espécie de autoconsolo bizarro e torcido.

Essa não sou eu.
Essa não sou eu.
Essa não sou eu.
Essa não sou eu.

Não conseguia chorar e não conseguia gritar, um soluço seco e magoado era o único barulho decorrendo do âmago da faringe.

Eu preciso respirar.

Sobe e desce, comecei a puxar desesperadamente o ar de meus pulmões, sugando o nada no cubículo.

Sobe e desce.

Pendi para trás. Meu tronco despencou e bateu brutalmente no colchão rasteiro e branco, puxei as pernas com os dedos trêmulos, joelhos roçando a testa. Mais uma vez, o desejo de gritar em puro desespero inundou minha carne, fazendo com que eu não quisesse nada além de cuspir para fora todos os meus órgãos, um por um, até que não sobrasse em meu interno nada que pesasse além de mim.

Curvei-me ainda mais dentro da bola que tornei meu próprio corpo. As mãos enganchadas nas dobras do joelho e estes quase afundando em minha cabeça.

Pra frente e pra trás, pra frente e pra trás, pra frente e pra trás.

Bufei longamente, várias vezes, o ar cortado pela repetição. Soprei forte e, outra vez, o oxigênio foi interceptado pela reincidência.

Em segundos, minha faringe foi completamente oprimida por um gemido arrastado e gutural. E finalmente, alguns choramingos alcançaram sair de meus lábios em sequência.

Definitivamente não o suficiente para que começasse a chorar e me salvasse da tormenta constritiva no músculo miserável que os humanos alegam ser responsável por suas emoções.

Giselle, o espelho.Onde histórias criam vida. Descubra agora