happy christmas !

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JANNE MURPHY tinha oito ou nove anos naquele natal de 1990

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JANNE MURPHY tinha oito ou nove anos naquele natal de 1990. Ela era apenas uma garotinha curiosa e esperta, ansiosa para descobrir o mundo que se encontrava fora dos aposentos da casa de sua avó, Cora Jenkins. Cora era uma senhora viúva que prezava até demais sua única neta, a lembrança viva de sua filha Marylin, morta em um estranho acidente doméstico. Tudo o que lhe restara fora Janne, e o seu genro Oswald Murphy, um homem razoavelmente bom, mas sempre muito ocupado para cuidar da filha; isso piorou depois da morte de Marylin, porque ele passou a trabalhar desesperadamente mais do que já trabalhava, sem horários ou limites, como se isso pudesse aliviar a dor de seu luto.
[ mas só piorava. ]

O fato é que Janne Murphy crescia sozinha e presa na grande casa de sua avó ( que também tornara-se a sua casa e a de seu pai ), quase sempre entediada. Não presa no sentido literal, obviamente; mas os cuidados excessivos dedicados a ela pela avó a faziam sentir-se protegida demais. Ela queria sair, correr, saber como era ter um joelho ralado, mas não podia. "Não saia quando estiver chovendo", "hoje está muito quente!", "você pode pegar um resfriado", "vai acabar se machucando!" e tantas outras frases faziam Janne, com seu irremediável espírito aventureiro, revirar os olhos. Ela sentia tanta falta de sua mãe, mesmo tendo vivido tão pouco com ela. . . Um dia, Janne lera uma frase escrita por Marylin em seu diário que dizia que qualquer pessoa pode tocar as estrelas do céu e também as estrelas do mar. Basta apenas querer. Céus, como ela queria! Mas as únicas estrelas que podia tocar eram aquelas desenhadas nas paredes de seu quarto, grande e colorido.

De qualquer forma, Janne não odiava totalmente Cora. Ela era uma boa mulher, talvez assombrada pelo fantasma de sua filha em sua mente e pelo medo de também perder a cópia mirim dela. Como avó, ela era gentil e tradicional: estava sempre preparando quitutes para a neta, comprando-lhe roupas e brinquedos novos sempre que precisava e cuidando de sua saúde e educação como deveria.
[ exagerando no quesito saúde, infelizmente. ]

E Janne estava pensando nisso, naquela noite fria de natal de 1990, enquanto olhava o céu pela janela de seu quarto. Sua avó estava preparando algo para a ceia de natal na cozinha; alguns vizinhos e parentes iriam jantar em sua casa. Isso era ótimo, porque ela veria Nancy e Cristhian Keene, seus melhores amigos. Eles eram gêmeos e poderiam destruir o mundo com uma das suas bizarras invenções produzidas no quintal de casa. Às vezes, Janne os ajudava, quando escapulia para a casa deles sem que sua avó percebesse; ela era boa em fugas do estilo ninja.

Mas hoje, particularmente hoje, Janne sentia-se estranha. Ela não queria brincar com Nancy e Cristhian, nem ter que jantar com todas aquelas pessoas que iriam rir e conversar alto até tarde da noite. Janne queria um pouco de paz e silêncio, e por isso, ela esgueirou-se pela sala, abriu a porta e alcançou o ar frio e fresco das ruas, não antes de agasalhar-se com as roupas que sua avó lhe comprara no início do inverno e de roubar um belo pedaço de panetone que anteriormente encontrava-se na mesa da sala.

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