No Me Acuerdo | Carlos Sainz

Capítulo Único

A claridade que invade meu quarto queima meus olhos. Malditas janelas. Deveria as ter fechado ontem, mas não lembro nem como cheguei em casa.

Mas não é só isso que está me incomodando. Ouço um ruído. A voz de alguém berrando. Abro os olhos e vejo um Carlos Sainz muito furioso, de pé a minha frente.

– ... está tudo aqui! - diz ele, enquanto sento na cama tentando assimilar o que está acontecendo. 

– Primeiro: não grite, minha cabeça está explodindo de dor. Segundo: do quê você está falando? - pergunto confusa.

Ele ri sem humor. – Ah, queira me desculpar. Esqueci como sua noite foi agitada. - seu semblante é sério. – Eu esperava uma desculpa melhor, Alana. - joga seu celular em minha direção, o pego e vou passando pela galeria. 

Várias fotos. Deitada no chão, agarrada a um pole dance, bebendo tequila no corpo de alguém, dentre outras. Culpada. Mas não estou mentindo, realmente não lembro de nada, só vem borrões em minha mente.

– Vai continuar negando depois disso? - seu tom alto faz minha cabeça latejar, e aponta para o celular em minhas mãos. 

– Fale baixo. - suspiro. 

– Essas fotos não são nada. Nunca escondi quem eu era.  Você sempre soube desse meu jeito e aceitou ficar comigo mesmo assim. - Talvez ele esteja certo. Talvez eu tenha feito essas coisas. 

– Se acalme, tá legal? - chego perto dele e toco seu ombro. – Sabe que é o único que eu amo, só existe você. - Estão sentindo? O cheiro de chantagem. 

Forço minha mente a se lembrar do que aconteceu na noite passada, mas é inútil. Nunca mais coloco uma gota de álcool na boca. 

Juramentos foram feitos para serem quebrados, não é mesmo? A voz da consciência grita em meus pensamentos.

Antes de conhecer Carlos, eu vivia do jeito mais libertino possível. Bares e baladas eram minha segunda casa. Perdi as contas de quantas vezes eu acordei em lugares um tanto inusitados. Uma fonte na praça de Cibeles foi um desses lugares, nem me pergute como fui parar lá. Mas ainda não me lembro sobre ontem.

A última coisa que me recordo era de como estava bonita. Me inspirei em Afrodite, e foi uma bela escolha de look para a festa a fantasia de Charlotte, namorada de Charles Leclerc, companheiro de equipe do meu (ex?) namorado.

Normalmente eu até arrisco alguns passos de dança, mas nada se compara quando estou bêbada. O ritmo ragatanga baixa em mim e eu viro uma dançarina profissional.

Jma das fotos no celular de Carlos mostrava esse meu lado. Em algum momento da festa eu achei que seria legal dançar sobre um corpo estirado no chão. Corpo esse que era da minha amiga Vic.

Não sei o que fiz depois. Devo ter virado mais algumas doses de tequila, ou caipirinha, ou talvez as duas coisas juntas. 

– É impressionante a sua cara de pau! - Se desvencilha de mim. – Você não mede as consequências dos seus atos. Não pensa naqueles que gostam de você quando faz essas coisas! 

Desisto de tentar uma conversa amistosa com ele. – Eu? Não me venha com essa conversa quando foi você que na semana passada disse que chegaria às dez da noite e voltou à uma da manhã! Era pra ser uma noite especial, pra comemorar mais um prêmio seu, e eu fiquei esperando como uma tola. - digo raivosa.

– E daí que eu voltei as três.. ou talvez quatro da manhã, não importa. - Dou de ombros. – Tenho o direito de me divertir também!

– Você não está entendendo, não é? - sua voz agora era baixa, quase inaudível. Ele então pega seu celular, mexe em alguma coisa nele e vai em direção a porta.

– Tchau, Alana. - E sai, me deixando ali, confusa. Ouço o toque do meu celular que estava na cômoda, o pego e vejo que era uma mensagem de Carlos. Um vídeo.

Acho que tenho que buscar meu queixo que foi ao chão. No vídeo em questão estou dando o maior beijo em Charles. Ai merda.

Mas se olhar bem, a única prova de que sou eu é a pequena tatuagem de borboleta que tenho no ombro. Nem dava pra ver. Juro.

Um dos lemas que eu levava pra vida era: Se eu não lembro, não aconteceu.

Mensagem: Se te deixa feliz saber que eu fiquei com outro cara, vamos dizer que sim... Mas eu não lembro disso, nunca aconteceu.