Mate

Prólogo

Era exatamente doze horas. O frio que fazia naquele horário agraciou os cidadãos daquela cidade bem movimentada que era Seul. De forma bem peculiar, a movimentação que antes era abrangente, agora se encontrava limitada, com poucas pessoas. Pouco falatório, para o alívio de Yoongi, que detestava estar sempre lutando para se esquivar do aglomerado de pessoas que circulavam naquelas ruas, mesmo nas madrugadas mais frias.

Sua rotina dependia daquele imenso esforço que fazia nas ruas de Gangnam, era satisfatório para si pensar que só passaria mais três dias em Seul. Somente mais três dias sustentando um sorriso falso para não ter que voar na cara de algum metidinho de nariz gordo e vestimenta refinada.

— Calma! — Disse a si mesmo, respirando fundo.

Ele detestava tudo aquilo.

Yoongi não sabia lidar com as pessoas. Não importava a situação, ele sempre se fechava e suas reações pareciam automáticas. Nada expressivo, apenas uma careta aborrecida.

Como caixa de uma loja no shopping, que costumava receber muitos clientes independente do horário, ele recebia muito bem. Mas nem todo o seu salário pagava as humilhações diárias.

É de costume dizer que o shopping é o único centro convencional que reúne pessoas de todas as classes sociais,   independente do quanto elas tenham em sua conta bancária. Os "riquinhos, filhinhos de papai", são os que mais costumam fazer baderna no seu local de trabalho e ele odeia isso. Odeia? Ainda é um elogio para eles, ele os abomina!

Sempre bagunçando as pilhas de roupas que as funcionárias acabavam de arrumar, pegando e se desfazendo dos sapatos como se eles não valessem o dinheiro gasto ali. E pra piorar: o subjugando, o ofendendo de formas indiretas e diretas. Aquilo era demais para ele!

Mas em contrapartida a isso, o que lhe confortava era que em breve ele estaria em "casa". Não era bem sua casa, mas passaria a ser.

Ele não era um grande fã da natureza, embora durante toda a sua infância ele tenha corrido atrás de esquilos e visto de longe coelhos pularem nos gramados e se perderem em moitas. Sua avó o amava muito, e mesmo que não tivesse muito em bens materiais, ela fez questão de lhe deixar uma casa de campo.

Estava no nome dele há anos, mas Yoongi nunca se deu ao trabalho de visitar a casa, nunca achou necessidade. Tinha bonitas memórias com a avó ali, mas havia concordado consigo mesmo em viver o luto e contar com o que ganhou quando houvesse necessidade.

— Yoongi! — Seu chefe chamou, o esperando na entrada da loja, como sempre fazia.

— Senhor Oh! — Ele o cumprimentou. De todas as pessoas, o velho era o único que Yoongi suportava.

— Pronto para mais um dia de trabalho? — Ele perguntou divertido, abrindo a porta de vidro.

— Claro — sua resposta foi monótona, como costumava ser.

🐺

Os dias passaram rápido depois do seu último dia de trabalho. O velho Oh o segurou o máximo que pode, Yoongi havia trabalho bem mais do que esperava e quando já perdurava o quarto dia que ele  deveria estar se mudando, chamou o senhor Oh e pediu a sua demissão. Com muito desgosto ele o deu, o Min era o seu melhor funcionário.

Ele até tentou apresentar sua filha mais nova para Yoongi, que recusou as investidas do velho todas as vezes em que ele tocava no assunto. 

Yoongi não se considerava alguém que possuía fobias, mas também não era alguém corajoso e ele era fácil de assustar. 

Quando chegou na casa de campo, já era noite, então os únicos cômodos que fez questão de limpar foram somente a cozinha e o quarto que ele iria passar a noite. Poderia ter sido uma noite agradável na nova casa se ele não tivesse dado de cara com aranhas de todos os tamanhos a cada minuto que passava a vassoura em um cômodo, e para piorar, uma família de ratos correu entre seus pés, o deixando assustado a ponto de abandonar a tarefa de fazer o jantar e ir direto para a cama, onde ele mal conseguiu fechar os olhos sem pensar naquela família de ratos em seus pés descalços.