Não era novidade alguma que estivesse chovendo quando chegou e ele riu levemente quando vislumbrou as gotas contra a janela do carro assim que cruzou o limite entre Amegakure e a cidade vizinha. Ele não podia negar que sentiu falta do lugar, e do cheiro de solo molhado, característico do ambiente, que o trazia uma tranquilidade confortável e adentrava o veículo mesmo com as janelas fechadas.
Era o cheiro de lar, pensou, embora, naquele instante, parte de si desejasse sentir o aroma que se desprendia dos cabelos de Kakashi, assim como o fez quando acordou, abraçado ao homem.
Já sentia falta do outro e contava os dias para vê-lo novamente.
Enquanto não era possível, manteria contato pela internet, certificando-se de deixar Kakashi saber o quanto sentia sua falta e o quanto apreciou aqueles dias que passaram juntos.
Tendo isso em mente, enviou uma mensagem ao outro assim que chegou em casa, deixando o celular de lado para ir tomar um banho, em seguida. A água quente foi muito bem-vinda e aqueceu o corpo frio pela temperatura externa. Ele se demorou no chuveiro, planejando dormir nas próximas duas horas e ir jantar com o pai mais tarde.
O pensamento o fez se dar conta de que o pai não havia entrado em contato consigo recentemente e ele franziu o cenho, pegando o celular para mandar mensagem a Madara, mas esquecendo-se totalmente do que ia falar ao notar que Kakashi havia lhe respondido.
"Espero que a viagem tenha sido tranquila", era o que o texto dizia e Obito sorriu, respondendo-o antes de decidir que não iria mais dormir quando recebeu um email da editora.
Era um email genérico, enviado a todos que tinham contrato com a empresa, falando a respeito de alguma premiação que teria. Obito não se atentou muito ao conteúdo da mensagem, mas se lembrou de algo do qual fugiu nos últimos dias: seu livro.
Ele sabia que a procrastinação teria que ter fim assim que chegasse em Amegakure. Embora tivesse algum tempo, sabia que, no ritmo que estava, demoraria a concluir a obra.
Maldito bloqueio!
Obito encarou as duas enormes malas que havia levado consigo e cogitou, por um momento, organizar suas roupas e guardá-las, mas o pensamento se foi assim que veio, então ele abriu uma delas e pegou seu caderno de rascunho, encarando-o como se ele fosse um inimigo.
Após um suspiro profundo, ele preparou um café para si mesmo e se sentou em sua mesa de trabalho, encostando-se confortavelmente na cadeira acolchoada enquanto observava a folha em branco, uma lapiseira em mãos.
Um romance clichê, pensou, falhando em evitar a própria careta desgostosa. Aquilo seria complicado. Ele rabiscou algumas palavras, alguns temas, pensou no ambiente, nas idades dos protagonistas e, embora gostasse das próprias ideias, não conseguia se conectar aos personagens.
Ele decidiu, inicialmente, que o casal seria formado por dois homens. A princípio, quis que eles tivessem entre trinta e trinta e cinco anos, mas quase pôde enxergar a feição de desagrado de Kabuto, o editor, e diminuiu as idades para vinte.
Obito gostava de descrever sentimentos intensos em pessoas maduras, vividas, mas era complicado imaginar algo assim com pessoas tão jovens. Não que ele fosse muito mais velho, tinha apenas vinte e quatro anos, mas possuía certa dificuldade em escrever personagens daquela forma.
Chamando os personagens de A e de B, tentou pensar em características, criar pessoas distintas para somente depois pensar sobre a forma que eles se apaixonariam, qual seria o contexto, o quão fácil elas aceitariam o sentimento, como seria o início da relação. Ele pensou num contexto universitário, que curso A faria? Medicina? Um curso puxado que o deixasse sem tempo para se dedicar ao relacionamento, um conflito interessante.

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Vestígio - ObiKaka
FanfictionO bloqueio criativo era a triste realidade de Obito Uchiha nos últimos meses e não havia indício algum de que aquela situação mudaria, não até que, numa noite qualquer, ele conhece Kakashi Hatake e, enquanto ainda saboreava os vestígios do momento q...