05. illusion

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        illusion(noun): the state or condition of being deceived; misapprehension

                                        C A P Í T U L O  05
                         
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                                           B L U E  P O V 

      Eu adorava a Olivia, a sério que sim. Era verdade que noventa por cento das vezes ela era inconveniente e intrometida mas eu gostava verdadeiramente da rapariga, era a minha melhor amiga. Contudo, depois de passar mais de uma hora a ouvi-la tagarelar sobre a forma exagerada e rude com que os seus pais tratavam o Louis, não dando oportunidade nem a mim, nem a Niall para sugerir uma opinião, comecei a pensar que talvez fosse melhor fazer amizade com uma rapariga mais pacata e consciente. 

        Todavia, já não era a primeira vez que desejara que a Olivia não existisse na minha vida. Não só ela, mas todas as pessoas ao meu redor. Talvez seja um efeito secundário da tristeza em que me afundei desde que Harry me deixou, estar sentada nesta cadeira a sorrir e a acenar não era sinónimo de alegria e bem-estar. Era sinónimo de alguém que pretendia esconder os seus verdadeiros sentimentos por detrás de uma gargalhada forçada. Era sinónimo de alguém que não queria preocupar os seus amigos por um simples coração partido. Afinal, isto acontecia a toda a gente, a toda a hora. 

     Sentia-me desconfortável nesta cadeira. O metal encostado às minhas coxas deixava uma sensação incômoda no fundo do meu estômago, ao fazer soar um zumbido aos meus ouvidos, fazendo-me recusar a maior parte do gelado de chocolate que Niall gentilmente me tinha cedido. A voz de Olivia causava uma comichão intensa na palma direita e sempre que ela fazia questão de soltar um guincho de exasperação a comichão alastrava-se para o pulso. Aprendi a controlar a minha sensibilidade quanto à roupa e descobri que a malha era um dos tecidos que não me causava qualquer tipo de impressão. Tenho-a usado desde então. 

        Eu desejava que o Harry estivesse aqui, comigo. Já não pedia que ele pretendesse continuar numa relação comigo ou que ainda sentisse qualquer tipo de sentimento por mim. Apenas queria que ele me ajudasse a ultrapassar esta tortura; a perceber estas perceções angustiantes. Não havia um único dia em que não escorregasse pela porta do meu quarto a chorar porque o barulho da máquina de sumos da escola me elucidou a visão de tal maneira que deixei de conseguir ver durante breves segundos, ou por causa da minha descida de notas colossal a matemática. Esta última deixava-se totalmente doida, não conseguia distinguir os números e as cores oferecidas por eles. Pequenas coisas como abrir uma persiana ou fechar uma porta poderiam causar-me mil e uma sensações. 

       – Olá! Planeta Terra chama Blue! – Fui afastada dos meus pensamentos pela voz impaciente de Olivia. 

        – Desculpa, estava desatenta. 

        Olivia olhou-me com o seu melhor ar sabido.

        – Isso já todos tínhamos percebido.

        – O que estavas a dizer? – Eu tentei. 

        – Estava a dizer que mal tocaste no teu gelado. 

       Olhei para o copo de plástico azul à minha frente e um vômito irrompeu pelo meu estômago ao observar a cobertura branca de natas. Fechei os olhos e respirei fundo. Empurrei o pacote para a frente.

        – Podes comê-lo, se quiseres. 

     Os olhos de Olivia iluminaram-se e num piscar de olhos tinha uma colherada de gelado de chocolate na boca. Niall observou a cena com um ar repugnante, lembrando-se, com certeza, que ela já havia comido demasiado.

WORN JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora