26. deceit

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deceit(noun)the quality of being ; duplicity; falseness


Capítulo 26

      Acordei com o som abafado da voz de Harry e as típicas borboletas a esvoaçarem na minha mente. Parecia estar a falar com alguém. Obriguei as minhas pálpebras pesadas, que denunciavam as poucas horas de sono, a abrirem-se e observei um Max sentado na cadeira da cozinha. Tinhamos adormecido na sala e nenhum de nós pareceu ter força suficiente para se deslocar até ao piso de cima, onde nos esperaria uma cama confortável. Penso que ambos sabiamos que o único local aconchegante seria nos braços um do outro. 

      - Harry, quero mais cereais. -  Max balbuciou com a boca cheia de leite. 

      - Fala baixo, puto. 

      Rolei os olhos. 

      - Porque é que me tratas sempre dessa maneira? - O pequeno falou, com uma naturalidade esquisita. - Eu sei que me adoras, não precisas de me insultar a cada frase. 

      - Desde quando é que puto é um insulto, puto? - Um sorrisinho apareceu no canto dos lábios de Harry. 

      Agradecia por a sala e a cozinha serem no mesmo espaço. Observar a forma como estes dois rapazes interagiam enchia o meu coração. Mantive-me quieta, não querendo alarmar e, por consequente, acabar com a conversa deles. Harry parecia ter saído do banho e pergunto-me há quanto tempo teria ele acordado, tendo em conta que a quantidade de horas que passamos a dormir foram escassas. Envergava umas calças pretas rasgadas no joelho e uma suéter azul marinha, que suspeitei ter roubado a Louis. Jamais me cansaria de apontar o quão fantástico ele ficava com os seus piercings e as tatuagens que escapavam pelas suas mangas arregaçadas. 

       Pelo contrário, Max continuava com a mesma roupa do dia anterior. Parecia ter o cabelo molhado e suspeitei que Harry o tivesse arrastado até à banheira. 

       - Desde que tenho quase treze anos e deixei de ser um puto. - O outro grunhiu.

       - Bem, tendo em conta que tenho quase vinte anos, para mim vais ser sempre um puto. - Harry era teimoso. - Agora come os cereais, tenho de te levar a casa dentro de meia hora. 

       Ao ouvir a menção do aniversário de Harry, senti o meu coração apertar. Ele tinha festejado os seus dezanove anos sozinho. Lembrei-me do dia e comprimi os lábios. Recordo-me de ouvir a professora Jenna questionar-me acerca das horas e eu ter passado o resto da aula a pensar como ele estaria, com quem estaria a festejar e se, realmente, estava feliz. Agora sei que esteve sozinho naquele cubículo a que chama casa. Ou talvez a trabalhar. Preferia a primeira hipótese. 

        - Não quero ir para casa, Harry. - A voz pequena de Max fê-lo engolir em seco. 

       Sentou-se na cadeira, em frente ao pequeno, e deu um gole na caneca de café. 

        - Max, tens de ir. Os teus pais estão à tua espera. - Parecia custar-lhe dizer isso. - Sabes que eles ficam chateados quando passas demasiado tempo comigo. 

        - Eles nem aqui estão. A mãe mandou o pai para uma clínica e foi com ele. Só chegam amanhã!

       Harry arregalou os olhos. 

       - O quê? Então era suposto passares os dias sozinho naquela casa, se eu não te tivesse ido buscar? - Max acenou com a cabeça.

       - Eu não acredito, os teus pais são tão . . . 

WORN JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora