2 - Laços que iludem

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Leonor tossiu propositalmente ao entrar pela sala de professores

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Leonor tossiu propositalmente ao entrar pela sala de professores. Olhou aquelas caras. Ainda não os conhecia, não a todos. Francisco, esse ela conhecera, era o professor de língua portuguesa, a pessoa que tinha uma voz que conseguiria distinguir no meio de uma multidão, mesmo que não soubesse dizer porquê.

Com a exceção de Francisco, as outras pessoas saíram daquela sala, de rostos cabisbaixos, evitando olhá-la. Curiosa como era, Leonor não pôde impedir-se de cogitar perguntar porque estavam agindo de forma estranha e antipática, mas não o fez, não só porque não tinha confiança com Francisco, mas também porque não queria invadir o espaço dele. Se havia uma coisa que Leonor priorizava, essa coisa era o espaço pessoal de cada um. No entanto, Francisco interpretou a sua hesitação como algo diferente, bem diferente da repulsa que a invadiu com uma velocidade inacreditável.

Francisco aproximou-se dela a passadas singelas e subtis e fez-lhe um sorriso cheio de significado. Um sorriso que fazia Leonor lembrar de coisas que não queria. Aquele sorriso era malicioso, perigoso, invasivo. Hesitou entre fingir que não estava a perceber a investida evidente do homem sobre si e fugir daquela sala. Felizmente Mónica e Nuno apareceram. Mónica olhou de um para o outro e puxou Leonor, como se fosse sua melhor amiga, até à máquina de cafés, com uma conversa digna de o melhor improviso da história do teatro. Nuno fez um sorriso cordial ao colega.

— Amanhã é o dia do funeral, já soubeste?

— Sim, eu sei.

— Ela ía gostar que fosses.

— Eu sei.

— Eu nunca percebi porquê — disse Nuno — Mas ela trazia-te nas palminhas das mãos. Eras o pupilo dela.

— Ela conhecia-me desde puto e este meu charme é irresistível.

Leonor que estava ouvindo, revirou os olhos ao ouvir aquilo.

— É exactamente isso que estás a pensar — sussurou Mónica — Esse homem é muito convencido. Queres um conselho?

— Claro — respondeu Leonor.

— Mantêm distância.

— Porquê?

— Não me sinto confortável para responder.

— Ó — Leonor recuou envergonhada — Desculpa, esquece que perguntei. Eu seguirei esse conselho!

— Oiii, belezas — Romeu aparecera sem que elas se apercebessem.

Mónica quase deixara uma chávena cair com o susto.

— Oi — respondeu Leonor.

As suas bochechas acabavam de erubescer. Mónica deu-lhe um pequeno encontrão para ela se recompôr.

— Vocês vêem ao funeral amanhã?

As professoras se olharam. Mónica hesitava porque não gostava de Glória nem um pouco. Tinha boas razões para isso, razões essas que preferia não partilhar. Leonor nem sequer metera a hipótese de ir porque simplesmente não conhecia a mulher, apenas tivera com ela um breve encontro em que assinara seu contrato de trabalho.

A teia de segredos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora