Os corredores do palácio estavam tão silenciosos como poderiam ser no entardecer considerado o momento favorito de toda a corte. E principalmente da princesa Auris que fazia questão de visitar o gabinete de seu pai todos os dias para assistirem juntos ao pôr do sol. Ou pelo menos quando não podia sair do palácio. A jovem caminhava a passos lentos, enquanto mastigava o restante de sua fruta, conforme se dirigia ao local que seu pai aguardava.
Dessa vez não haviam guardas protegendo as portas por dentro e por fora, afinal, estavam numa das alas mais seguras e com pouca circulação de desconhecidos. Auris gostava de imaginar aquele local secreto que compartilhava com seu pai, mesmo que em tese era o ambiente de trabalho, mas onde podiam aproveitar a companhia um do outro lendo livros, rindo ou comendo. Isso quando havia tempo.
Assim que chegou na porta entalhada percebeu que estava entreaberta e por mais que tivesse aprendido que era muito errado ouvir a conversa alheia, isso não impediu de escutar as vozes discutindo. Ela reconheceu o tom obstinado do conselheiro Alder e a firmeza de seu pai.
— Senhor Elmur, preciso lembrar de que essa é uma atitude muito perigosa. Isso só tornaria as coisas mais instáveis. Principalmente depois da reunião...
— A situação em si é perigosa, Alder. Passei muito tempo pensando no assunto e esse é o único jeito que encontrei até agora. Preciso garantir a segurança da Corte Cósmica mas não posso fugir da verdade, portanto, essa é a minha ordem. Até que eu encontre um caminho melhor.
Mas frases soltas não a ajudavam a entender o contexto e sem querer acabou colocando peso demais na porta que se abre ainda mais. "Temos companhia" Auris escuta uma voz vindo de dentro da sala e aperta os lábios para não deixar escapar os resmungos por ser descuidada. A discussão cessa imediatamente conforme a princesa força um sorriso de quem tinha sido pega no flagra, ficando no campo de visão de Elmur e Alder. O primeiro estava sentado atrás da mesa e mantinha uma expressão tensa mas que se transformou num sorriso leve ao notar que era sua filha.
— Devo voltar outra hora? - Auris se pronuncia colocando ambas mãos para trás do corpo como uma criança envergonhada.
— Está tudo bem, minha filha. Acho que já terminamos por aqui conselheiro, está dispensado. - Elmur fala acenando com a cabeça para o outro homem.
— Sim, senhor, vou emitir as ordens agora mesmo. — Alder responde se levantando, fazendo uma reverência a figura sentada na poltrona e seguindo para porta. O conselheiro também se curva levemente ao passar pela princesa e some porta a fora.
— Posso perguntar do que estavam falando? - Ela diz se aproximando das cadeiras de frente a mesa.
— Algumas coisas... mas o que exatamente você ouviu? — Elmur perguntou deixando transparecer um pouco de ansiedade.
— Algo que eu deva me preocupar? — Ela rebateu.
— Creio que não, querida. — Ele falou juntando as mãos e suspirou quando sua filha o encarou com uma sobrancelha erguida — Esqueça isso, me conte como foi a visita até a vila.
— A maioria dos moradores já receberam as contribuições que enviamos. Os cultivos estão indo muito bem e todos estão tão empenhados que... — Auris desatinou a falar mas percebeu que Elmur tinha um olhar perdido apesar de se esforçar para prestar atenção. — quer conversar sobre o que te aflige, pai? Não sou mais criança, talvez eu possa ajudar... ou ouvir.
— Tudo bem, tudo bem... — Elmur soltou um suspiro profundo antes de encarar os olhos atentos da princesa — A última reunião com os deuses foi meio... caótica, se é que posso usar esse termo. Estão pensando em modificar os termos do acordo sobre a ponte e retirar do nosso território.
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A herdeira inabalável
Ficción GeneralApós a queda de Amarantha e guerra com Hybern, inimigos poderosos e conflitos desastrosos se levantavam contra Pyrthian. A ordem das coisas tinha sido quebrada e beirava o caos fazendo com que os deuses antigos e novos tivessem que interceder. Ele d...