A morte de Sabrina

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Durante toda vida, eu vivenciei as mais terríveis situações. Não por causa extraordinária, acredito que todos os seres humanos vivem cercados por violência e morte. Todos sabem o que é ver violência em seus diversos graus.
Não me pergunte exatamente como, nem onde tomei conhecimento desse fato. A resposta seria assustadora, e mudaria sua visão sobre mim. Não que você me conheça.

Com tudo, devo dizer, antes de seguir com a narrativa, que todos os homens nascem maus, cruéis, vis e hediondos. Alguns mais que outros.

Sabrina era uma linda garota, alta, de cabelo longo e moreno. Seu rosto lembrava feições masculinas, ela estava em... Um processo de mudança. Mas, ela era feliz. Felicidade conquistada após anos de luta, por auto-aceitação, reconhecimento e coisas mais.

A noite, ela gostava de sair com um garoto. Haviam se conhecido há pouco tempo, estavam felizes. O rapaz, no entanto, insistia para sair apenas de noite. Ele dizia que gostava de lugares vazios, sem muitas pessoas. Ele dizia que não gostava de multidão. Sabrina, por sua vez, adorava multidões. Porém, ela respeita o rapaz e não insistia para ir em lugares que ele não gostava.

Você pode pensar, "o que há de tão ruim?", e eu respondo a seguir.
Naquela noite, haviam demônios na cidade. Entre os prédios, metrôs e o escuro das metrópoles são onde muitos demônios vivem. O que mais me espanta nesses demônios é a facilidade com que eles se fingem de humanos. Por fora, é quase impossível ver a diferença, mas por dentro... Por dentro eles são demônios, podres, cruéis, vis. Acabo de perceber que minha descrição de homem e demônio é igual.
Esses demônios pairam sobre a cidade, procurando caos.

Sabrina estava em um barzinho, vazio, apenas com seu rapaz. Eles haviam passado o dia juntos. Estava ficando tarde, e como era domingo, e no dia seguinte o rapaz iria trabalhar, ele disse carinhosamente que iria para casa. Como eles haviam ficado um bom tempo juntos, Sabrina não viu problema e eles saíram em direção ao metrô.

Sabrina estava com sua mão em volta do braço de seu companheiro, olhando para os altos prédios que cercavam a cidade. "O cinza nunca foi tão belo", pensou ela.
Porém, ao seu lado, passando dois demônios a olhando de cima a baixo e percebendo algo que os incomodou.

Eles lançaram seu olhar vermelho sangue nela e pararam para ver onde ela estava indo.

Ao chegar ao metrô, Sabrina beijou seu companheiro e se despediu, infelizmente, para sempre.

Os demônios arderam em ódio ao ver o beijo, eles odiaram o fato de Sabrina ter amor. Demônios odeiam o amor.
O companheiro de Sabrina desceu as escadas do metrô e ela seguiu seu caminho para casa.

Seguia rua a rua, se dirigindo calmamente e pensando em como tinha sido seu dia. Ela estava feliz. Isso irritou mais os demônios, que agora estavam a seguindo.

Sabrina entrou deve que entrar em uma viela escura. Mas não percebeu isso. A felicidade não a deixava ver muita coisa. O andar dos demônios ficava mais ágil a medida que Sabrina ia ficando mais distraída. Até que, estando sozinha, uma luz a acertou por trás. Ela caiu colocando a mão em sua nuca, seguindo o sangue fluiu com seu cabelo. Olhou para trás e viu os demônios, grandes, raivosos.

Os demônios, por pura ironia, segurando em uma mão a luz, que foi usada para a golpear, e na outra mão seguravam a bíblia. Lembre-se: os demônios caíram por acreditarem em Deus e mesmo assim irem contra ele. Então, eles estarem com uma bíblia não é fato peculiar.

Antes de Sabrina conseguir correr, gritar ou reagir, mais um golpe foi feito usando a luz. Seguido por um golpe usando a bíblia. Esse golpe foi feito não usando a bíblia como arma, e sim, usando as palavras que nela estavam escritas tiradas de seu contexto.
Naquela viela, Sabrina sofreu e sofreu. Até que enfim desfaleceu, os demônios já haviam acabado com sua sede de sangue, por entanto.

O corpo de Sabrina ficou ali, jogado como lixo até que horas depois um cidadão a encontrou.

Assim como abutres e urubus sempre chegam mais rápido aos cadáveres, a imprensa também foi a primeira a chegar. Tirando fotos e fazendo reportagens que nada tinham de informativas. Todos faziam a mesma pergunta: "por que mataram uma jovem com tanta violência? O que há de errado com as pessoas que cometeram esse ato?"

Apenas quando a polícia chegou que foi-se entender. O corpo já estava há horas e horas Ali. Multidão se formou em volta. Um policial pegou a bolsa de Sabrina e encontrou seu documento. Porém, no documento constava uma foto de um "homem" com o nome Miguel. Nome esse que Sabrina usava antes.
Os demônios não foram achados, e Sabrina se tornou mais uma vítima. Mais uma vítima dos demônios que vivem entre nós.

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