Ahhh, terça-feira. Dia do waffle. Desde que Jungkook podia se lembrar, terças-
feiras de verão significavam café fresco, tigelas cheias de framboesa com chantilly, e uma interminável pilha de waffles dourados e crocantes.
Mesmo este verão, quando seus pais começaram a sentir um pouco de medo dele, o dia do waffle era algo com que ele podia contar. Ele podia rolar na cama na terça-feira, e antes de pensar em qualquer outra coisa, instintivamente ele sabia que dia era.
Jungkook inalou, retomando lentamente a seus sentidos, então ele inalou de novo com um pouco mais de vontade. Não, não havia nenhuma massa
batida, nada além do cheiro de vinagre da pintura descascada. Ele mandou o sono para longe e captou seu quarto de dormitório apertado.
Isso parecia como a foto de antes em um show de renovação de casa.
O longo pesadelo que foi a segunda-feira retornou à ele: eles tomarem seu celular, o incidente com o bolo de carne e os olhos furiosos de Molly
no refeitório, Taehyung expulsando-o da biblioteca. O que foi que o fez ficar tão rancoroso, Jungkook não tinha a menor ideia.
Ele sentou para olhar pela janela. Ainda estava escuro; o sol não tinha sequer saído pelo horizonte ainda. Ele nunca tinha acordado tão cedo. Se duvidasse, ele realmente não achava que conseguia se lembrar de já ter visto o nascer do sol. Sinceramente, algo sobre assistir-o-nascer-do-sol
como uma atividade sempre o deixava nervoso. Eram os momentos de espera, os momentos logo-antes-do-sol-surgir-no-horizonte, sentado na
escuridão olhando através das linhas das árvores. O horário nobre das sombras.
Jungkook suspirou audivelmente com saudades de casa, um suspiro de solidão,
o que o deixou com ainda mais saudade e solitário. O que ele iria fazer durante as três horas entre o raiar do dia e a sua primeira aula? Raiar do
dia – por que essas palavras zumbiam em seus ouvidos? Ah. Droga. Ele deveria estar na detenção.
Ele saltou para fora da cama, tropeçando em sua mala ainda-cheia, e arrancou um outro suéter preto tedioso do topo da pilha de suéteres
pretos tediosos. Ele colocou o jeans preto que usou ontem, estremeceu quando teve um vislumbre do desastre que estava sua cabeça, e tentou
correr os dedos pelo seu cabelo enquanto corria pela porta afora.
Ele estava ofegante quando chegou aos portões de ferro forjado, da altura da cintura e complexamente esculpidos, do cemitério. Ele estava engasgado com o cheiro esmagador da Skunk Cabbage 11 e se sentindo muito sozinho com seus pensamentos. Onde estavam os outros? A definição de – início da manhã – deles era diferente da dele? Ele olhou para seu relógio. Já eram seis e quinze.
Tudo o que eles tinham dito a ele era para se encontrarem no cemitério, e Jungkook tinha bastante certeza de que essa era a única entrada. Ele estava na divisa, onde o asfalto áspero do estacionamento dava lugar a um terreno destruído cheio de ervas daninhas. Ele notou um dente-de-leão solitário, e
passou pela sua mente que um Jungkook mais jovem teria o pego e então feito um desejo e soprado. Mas agora os desejos desse Jungkook pareciam pesados demais para algo tão leve.
Os portões delicados eram tudo o que dividia o cemitério do estacionamento. Incrível para uma escola com tanto arame farpado em todo o lugar. Jungkook passou a mão ao longo dos portões, seguindo o padrão
floral ornamentado com seus dedos. Os portões deviam datar dos dias da
Guerra da Secessão que Jin falou, quando o cemitério era utilizado
para enterrar os soldados caídos. Quando a escola se juntou a ele, não era um lugar para loucos instáveis. Quando o lugar todo era muito menos
cheio e sombrio.
Isso era estranho - o resto do terreno era plano como uma folha de papel, mas de alguma forma, o cemitério tinha um formato côncavo, parecido
com uma tigela. Daqui, ele podia ver a inclinação de toda a vastidão a partir dela. Fileira após fileira de lápides simples alinhavam-se nas inclinações como espectadores em um estádio.
Mas em direção ao centro, no ponto mais baixo do cemitério, o trecho através do terreno se torcia em um labirinto de grandes túmulos esculpidos, estátuas de mármore, e mausoléus. Provavelmente para
oficiais da Confederação, ou apenas para soldados que tinham dinheiro.
Eles pareciam que seriam bonitos vistos de perto. Mas vistos dali, o simples peso deles parecia arrastar o cemitério para baixo, quase como se todo o lugar estivesse sendo engolido por um ralo.
Passos atrás dele. Jungkook girou ao seu redor para ver uma figura pequena e grossa, vestida de preto, surgir de trás de uma árvore. Penn! Ele teve de resistir ao desejo de jogar seus braços em volta da garota. Jungkook nunca tinha ficado tão contente em ver alguém - embora fosse difícil acreditar que Penn tivesse pego alguma detenção.
– Você não está atrasado? – Penn perguntou, parando alguns metros à frente de Jungkook e dando a ele um aceno divertido de seu-pobre-novato com
a cabeça.
– Eu estou aqui há 10 minutos. – Jungkook falou. – Não é você quem está atrasada?
Penn sorriu. – De jeito nenhum, eu sou apenas uma madrugadora. Eu nunca peguei detenção. – Ela deu de ombros e empurrou seu óculos roxo
para cima em seu nariz. – Mas você pegou, junto com outras cinco almas infelizes, que provavelmente estão ficando mais irritadas a cada minuto
que esperam por você lá embaixo no monólito. – Ela ficou na ponta dos pés e apontou para trás de Jungkook, em direção a maior estrutura de pedra, que se levantava do meio da parte mais profunda do cemitério. Se Jungkook apertasse os olhos, ele poderia notar um grupo de figuras negras agrupadas em torno de sua base.
– Eles apenas disseram para se encontrar no cemitério. – Jungkook disse, já se
sentindo derrotado. – Ninguém me disse para onde ir.
– Bem, eu estou dizendo para você: monólito. Agora desça até lá, – Peen falou. – Você não vai fazer muitos amigos acabando com a manhã deles
mais do que você já acabou.
Jungkook engoliu em seco. Parte dele queria pedir a Penn para lhe mostrar o caminho. Daqui de cima, aquilo parecia um labirinto, e Jungkook não queria ficar perdido no cemitério. De repente, ele ficou com aquela sensação
nervosa, de estar longe de casa, e ele sabia que isso só iria piorar lá. Ele estalou suas juntas, retardando.
– Jungkook? – Penn disse, dando um pequeno empurrão em seus ombros. – Você ainda está parado aqui.
Jungkook tentou dar a Penn um sorriso corajoso de agradecimento, mas teve que se contentar com um estranho tique facial. Então ele correu para baixo da encosta para o coração do cemitério.
O sol ainda não tinha nascido, mas estava quase, e estes últimos momentos antes de amanhecer sempre eram os que mais o assustavam. Ele passou rápido pelas fileiras de lápides simples. Em um ponto elas deviam ter estado retas, mas agora elas eram tão velhas que a maioria delas tombava para um lado ou para o outro, dando ao lugar todo, uma aparência de jogo de dominó mórbido.
Ele passou em seu tênis Converse preto pelas poças de lama, esmagando folhas mortas. Na hora que ele passou pela área mais simples e chegou
até os túmulos mais ornamentados, a terra tinha mais ou menos sido achatada, e ele estava totalmente perdido. Ele parou de correr, tentou
recuperar o fôlego. Vozes. Se ele se acalmasse, ele poderia ouvir vozes.
– Mais cinco minutos, então eu vou cair fora. – disse um rapaz.
– Pena que a sua opinião não tenha valor, Sr. Kim Nanjoom. Uma voz teimosa, uma que Jungkook reconheceu de suas aulas de ontem. Sra. Troz, a Albatroz.
Após o incidente com o bolo de carne, Jungkook tinha chegado tarde para a aula dela e não tinha dado exatamente a impressão mais favorável para a professora severa e esférica de ciência.
– A não ser que alguém queira perder seus privilégios sociais esta semana.
...gemidos entre os túmulos... – vamos todos esperar pacientemente, como se não tivéssemos nada melhor para fazer, até o Sr. Jeon decidir
dar a graça de sua presença para nós.
– Eu estou aqui. – Jungkook arfou, finalmente contornando uma estátua gigante de um querubim.
Sra. Troz estava com as mãos nos quadris, vestindo uma variação do vestido preto florido e solto de ontem. Seu escasso cabelo cor castanho-
rato estava puxado na sua cabeça e seus tediosos olhos castanhos mostravam apenas aborrecimento com a chegada de Jungkook. Biologia sempre foi difícil para Jungkook, e até agora, ele não estava fazendo nenhum favor à sua nota na classe Sra. Troz.
Atrás da Albatroz estavam Jin, Molly, e Nanjoom, espalhados ao redor de um círculo de blocos que encaravam uma grande estátua central de um anjo. Em comparação com o resto das estátuas, esta parecia mais nova, mais branca, mais grandiosa. E encostado na coxa esculpida do anjo - ele
quase não tinha percebido, estava Taehyung.
Ele estava vestindo a jaqueta de couro preta e o cachecol vermelho vivo que o tinha deixado fixado ontem. Jungkook tomou conhecimento de seu cabelo loiro desarrumado, que parecia não ter sido penteado depois dele acordar... o que o fez pensar sobre como Taehyung ficava quando estava dormindo... o que o fez corar tão intensamente que, do momento que seus olhos fizeram o caminho da linha do cabelo para os olhos dele, ele estava completamente humilhado.
Nesse momento Taehyung estava olhando fixamente para ele.
– Sinto muito. – Jungkook deixou escapar. – Eu não sabia onde deveríamos nos encontrar. Eu juro.
– Pode parar, – disse a Sra. Troz, passando o dedo em sua garganta. – Você já desperdiçou o bastante do tempo de todo mundo. Agora, eu
tenho certeza que todos se lembram da indiscrição desprezível que vocês cometeram para estarem aqui. Vocês podem pensar sobre isso nas próximas duas horas enquanto vocês trabalham. Se reúnam em pares. Vocês sabem o que fazer. – Ela olhou para Jungkook e soltou sua respiração. – Ok, quem quer um protegido?
Para o horror de Jungkook, todos os outros alunos olharam para seus pés. Mas então, depois de um minuto torturante, um quinto aluno entrou no campo de visão ao virar a esquina do mausoléu.
– Eu quero. – Jimin disse. Sua camiseta preta com gola em v era justa em torno de seus
ombros largos. Ele era quase 14 centímetros mais baixo do que Nanjoom, que se deslocou para o lado quando Jimin o empurrou e passou, caminhando
na direção de Jungkook. Seus olhos estavam grudados nele enquanto ele andava para frente, movendo-se suave e confiantemente, tão à vontade
em sua roupa de escola reformatória quanto Jungkook estava pouco à vontade. Parte dele queria desviar seus olhos, porque era embaraçosa a
maneira que Jimin olhava para ele na frente de todos. Mas por alguma razão, ele estava hipnotizado. Jungkook não poderia quebrar o seu olhar até que Jin pisou entre eles.
– Primeiro. – disse ele. – Eu disse que vi primeiro.
– Não, você não disse. – Jimin disse.
– Sim, eu disse, você não me ouviu de seu poleiro estranho lá atrás. – As palavras se apressaram para fora de Jin. – Eu o quero.
– Eu... – Jimin começou a responder.
Jin inclinou a cabeça com expectativa. Jungkook engoliu em seco. Jimin ia chegar e dizer que ele o queria também? Eles não poderiam simplesmente
esquecer isso? Fazer detenção com um grupo de três?
Jimin acariciou o braço de Jungkook. – Vou encontrar com você depois, ok?
Jimin disse a ele, como se fosse uma promessa que ele lhe pediu para fazer.
Os outros garotos pularam dos túmulos nos quais eles tinham sentado e marcharam em direção a um galpão. Jungkook os seguiu, agarrando-se em
Jin, que sem dizer uma só palavra entregou-lhe um ancinho.
– Então. Você quer o anjo vingador, ou os amantes carnais abraçados?
Não houve menção sobre os acontecimentos de ontem, ou do bilhete de Jin, e Jungkook de algum modo não sentia que deveria puxar esse assunto
com Jin agora. Em vez disso, ele olhou para cima e viu-se rodeado por duas estátuas gigantes. A mais próxima dele parecia um Rodin. Um homem nu e uma mulher estavam enlaçados em um abraço. Ele tinha
estudado escultura francesa na Dover, e sempre pensou que as peças de Rodin eram as mais românticas. Mas agora era difícil olhar para os amantes abraçados sem pensar em Taehyung. Taehyung. Que o odiava. Se ele precisasse de mais uma prova disso depois que o loiro basicamente fugiu da biblioteca à noite, tudo o que tinha que fazer era voltar a pensar no novo olhar fulminante que ele tinha ganho do maior esta manhã.
– Onde está o anjo vingador? - ele perguntou a Jin com um suspiro.
– Boa escolha. Por aqui.
Jin levou Jungkook para uma enorme escultura de mármore de um anjo salvando o solo da fúria de um raio. Ela pode ter
sido uma peça interessante, no dia em que foi esculpida. Mas agora ela só parecia velha e suja, coberta de lama e musgo verde.
– Eu não entendi. – Jungkook disse. – O que vamos fazer?
– Vamos dar uma esfregadinha. – Jin disse, quase cantando.
– Eu gosto de fingir que eu estou lhes dando um banhozinho. – Com isso, ele
escalou o anjo gigante, balançando as pernas ao longo do braço da estátua que impedia o raio, como se o negócio todo fosse apenas um
carvalho grosso e velho para ele escalar.
Com medo de parecer que ele estava querendo mais encrenca com a Sra. Troz, Jungkook começou a trabalhar com seu ancinho em toda a base da
estátua. Ele tentou limpar o que parecia ser uma interminável pilha de folhas úmidas.
Três minutos depois, os braços dele estavam o matando. Ele definitivamente não estava vestido para este tipo de trabalho manual lamacento. Jungkook nunca tinha sido enviado para a detenção na Dover, mas de acordo com o que ele tinha escutado, consistia em encher um pedaço de papel com – Eu não vou plagiar coisas da Internet – algumas centenas de vezes.
Isto era brutal. Principalmente quando tudo o que ele realmente tinha feito foi topar com Molly acidentalmente no refeitório. Ele estava tentando não fazer um julgamento precipitado aqui, mas limpar a lama de
sepulturas de pessoas que tinham morrido há mais de um século? Agora Jungkook odiava sua vida totalmente.
Em seguida raios de sol finalmente filtraram-se através das árvores, e de
repente havia cor no cemitério. Jungkook sentiu-se instantaneamente mais leve. Ele podia ver mais de três metros na frente dele. Ele podia ver Taehyung... trabalhando lado a lado com Molly.
O coração de Jungkook afundou. O sentimento de leveza desapareceu. Ele olhou para Jin, que lançou-lhe um olhar de simpatia do tipo isso-é-um-saco, mas continuou trabalhando.
– Hey. – Jungkook sussurrou em voz alta.
Jin colocou um dedo sobre os lábios, mas gesticulou para Jungkook subir ao lado dele.
Com muito menos graça e agilidade, Jungkook agarrou o braço da estátua e se balançou para cima do pedestal. Uma vez que estava quase certo que não
iria cair no chão, ela sussurrou: – Então... o Taehyung é amigo da Molly?
Jin bufou. – De jeito nenhum, eles totalmente se odeiam – ele disse rapidamente, e em seguida fez uma pausa.
– Porque você está perguntando?
Jungkook apontou para os dois, não fazendo qualquer trabalho para limpar bem sua tumba. Eles estavam em pé perto um do outro, inclinando-se sobre o seus ancinhos e tendo uma conversa que Jungkook desesperadamente
desejava poder ouvir. – Eles parecem amigos para mim.
– É a detenção, – Jin disse categoricamente. – Você tem que ficar em par. Você acha que Nanjoom e Chester, o Molestador, são amigos? – Ele
apontou para Nanjoom e Jimin. Eles pareciam estar discutindo sobre a melhor maneira de dividir o seu trabalho na estátua dos amantes.
– Companheiros de detenção não equivale a amigos na vida real.
Jin olhou de volta para Jungkook, que podia sentir sua expressão caindo, apesar de seus melhores esforços para parecer imperturbável.
– Olha, Jungkook, eu não quis dizer... – Ele dissipou a voz. – Ok, além do fato de você ter me feito perder uns bons vinte minutos da minha manhã, eu
não tenho nenhum problema com você. Na verdade, eu acho que você é meio interessante. Um pouco novo. Dito isso, eu não sei o que você esperava em termos de amizade sentimental-piegas aqui no Sword & Cross. Mas deixe-me ser o primeiro a te dizer, não é simplesmente assim tão fácil. As pessoas estão aqui porque têm bagagem. Eu estou falando de bagagem do tipo faça-seu-check-in, e-pague-a-multa-porque-tem-mais-de-vinte-e-dois-quilos. Entendeu?
Jungkook encolheu os ombros, sentindo-se envergonhado.
– Foi apenas uma pergunta.
Jin riu nervosamente. – Você é sempre tão defensivo? Que diabos você fez para entrar aqui, afinal?
Jungkook não tinha vontade de falar sobre isso. Talvez Jin estivesse certo, seria melhor se ele não tentasse fazer amigos. Ele desceu e voltou a atacar o musgo na base da estátua.
Infelizmente, Jin ficou intrigado. Ele saltou também, e trouxe seu ancinho em cima do de Jungkook para colocá-lo no lugar.
– Oh, me conta me conta me conta. – ele provocou.
O rosto de Jin estava muito perto do de Jungkook. Isso lembrou ele do dia anterior, agachado sobre Jin depois que ele teve a convulsão. Eles
tinham tido um momento, não tinham? E parte de Jungkook queria muito ser capaz de contar à alguém. Esse tinha sido um longo e sufocante verão com seus pais. Ele suspirou, apoiando a testa na alça de seu ancinho.
Um gosto salgado de nervosismo encheu sua boca, mas ele não conseguiu
engoli-lo. Da última vez que ele tinha entrado nesses detalhes, tinha sido por causa de uma ordem judicial. Ele teria se esquecido deles logo, mas quanto mais Jin o encarava, mais claras as palavras ficavam, e elas
ficavam mais perto da ponta da sua língua.
– Eu estava com um amigo uma noite. – ele começou a explicar, dando uma respiração longa e profunda. – E uma coisa terrível aconteceu. –
Ele fechou os olhos, rezando para que a cena não pudesse criar uma explosão de vermelho-e-preto em suas pálpebras. – Houve um incêndio. Eu escapei... e ele não.
Jin bocejou, muito menos horrorizado com a história do que Jungkook estava.
– De qualquer forma... – Jungkook continuou. – depois de tudo, eu não conseguia me lembrar dos detalhes, como isso aconteceu. O que eu pude
lembrar, o que eu disse ao juiz, de qualquer maneira, eu acho que eles pensaram que eu era maluco. – Ele tentou sorrir, mas pareceu forçado.
Para a surpresa de Jungkook, Jin apertou seu ombro. E por um segundo, seu rosto pareceu realmente sincero. Depois ele mudou para um sorriso afetado.
– Nós somos todos tão incompreendidos, não somos? Ele cutucou Jungkook no intestino com o dedo. – Você sabe, Nanjoom e eu estávamos justamente falando sobre como nós não temos nenhum amigo piromaníaco. E todo mundo sabe que você precisa de um bom piro para levar a cabo qualquer pegadinha de reformatório que valha a pena. – Ele já estava planejando.
– Nanjoom pensou que talvez aquele outro novato, Todd, mas eu prefiro muito mais dividir meu fortúnio com você. Todos nós devemos colaborar em algum momento.
Jungkook engoliu em seco. Ele não era um maluco. Mas ele já estava cheio de falar sobre o seu passado; ele nem sequer quis se defender.
– Oh, espere até Nanjoom ouvir isso. – Jin disse, jogando seu
ancinho para baixo. – Você é como o nosso sonho se tornando real.
Jungkook abriu a boca para protestar, mas Jin já tinha ido. Perfeito, Jungkook
pensou, ouvindo o barulho dos sapatos de Jin andando pela lama. Agora era só uma questão de minutos antes de essas palavras viajarem por todo o cemitério até chegar a Taehyung.
Sozinho novamente, ele olhou para a estátua. Mesmo ele já tendo limpado uma enorme pilha de musgo e palha, o anjo parecia mais sujo do que nunca. Todo o projeto parecia tão inútil. Ele duvidava que alguém chegasse a visitar este lugar, de qualquer maneira. Ele também duvidava que qualquer dos outros detentos ainda estivesse trabalhando.
Seus olhos apenas caíram em Taehyung, que estava trabalhando. Ele estava
usando muito diligentemente uma escova de aço para esfregar alguns mofos da inscrição em bronze em uma tumba. Ele tinha até mesmo
levantado as mangas de seu suéter, e Jungkook podia ver seus músculos tensos enquanto ele trabalhava. Jungkook suspirou e ele não podia fazer nada quanto a isso, inclinou seu cotovelo contra o anjo de pedra para assisti-lo.
Ele sempre trabalhou duro.
Jungkook rapidamente balançou a cabeça. De onde isso tinha vindo? Ele não tinha ideia do que isso significava. E no entanto, tinha sido ele quem
pensara sobre isso. Era o tipo de frase que por vezes formavam-se em sua mente antes que ele caísse no sono. Sussurros incompreensíveis que ele nunca podia conectar a qualquer coisa fora de seus sonhos. Mas aqui estava ele, bem acordado.
Ele precisava se segurar nessa coisa sobre o Taehyung. Ele o conhecia há um dia, e já podia sentir-se deslizando para um lugar muito estranho e
desconhecido.
– Provavelmente é melhor ficar longe dele. – disse uma voz fria atrás dele.
Jungkook virou ao redor para encontrar Molly, na mesma pose em que ele a achou ontem: as mãos nos seus quadris, as narinas com piercing queimando. Penn tinha dito a ele que a surpreendente decisão da Sword & Cross que permitia piercings faciais veio da própria relutância do diretor de remover o brinco de diamante que ele tinha em sua orelha.
– De quem? – ele perguntou a Molly, sabendo que ele tinha soado estúpido.
Molly revirou os olhos.
– Simplesmente confie em mim quando digo que ter uma queda por Taehyung seria uma ideia muito, muito ruim.
Ele sabia que o sol estava atrás de uma nuvem. Se ele pudesse quebrar o seu olhar, ele podia olhar para cima e ver isso por si mesmo. Mas ele não conseguia olhar para cima, ele não conseguia desviar o olhar, e por alguma razão, ele tinha que apertar os olhos para vê-lo. Era quase como
se Taehyung estivesse criando sua própria luz, como se ele estivesse o cegando. Um barulho oco encheu os seus ouvidos, e seus joelhos
começaram a tremer.
Ele queria pegar seu ancinho e fingir que ele não tinha o visto chegando. Mas era tarde demais para se fingir de descolado.
– O que ela disse para você? – ele perguntou.
– Hum? – Jungkook deu uma evasiva, forçando seu cérebro a criar uma mentira sensata. Não encontrando nada. Ele estalou os nós dos dedos.
Taehyung colocou sua mão sobre a dele. – Eu odeio quando você faz isso.
Jungkook empurrou-o para longe instintivamente. A mão dele sobre a sua tinha sido tão rápido, e ainda assim ele sentia o seu rosto corar. Taehyung quis dizer que isso era uma implicância dele, que o estalo de qualquer um iria
incomodá-lo, certo? Porque dizer que ele odiava quando Jungkook fazia isso implicava que ele já tinha o visto fazer isso antes. E ele não poderia ter visto. Ele mal o conhecia.
Então por que isso parecia com uma discussão que eles já tinham tido antes?
– Molly me disse para ficar longe de você. – Jungkook disse finalmente.
Taehyung inclinou a cabeça de lado a lado, parecendo considerar isto.
– Ela provavelmente está certa.
Jungkook estremeceu. Uma sombra pairou sobre eles, escurecendo o rosto do
anjo apenas tempo suficiente para deixar Jungkook preocupado. Ele fechou os olhos e tentou respirar, rezando para que Taehyung não pudesse dizer que algo estava estranho.
Mas o pânico estava crescendo dentro dele. Ele queria correr. Ele não podia correr. E se ele se perdesse no cemitério?
Taehyung seguiu o seu olhar para o céu. – O que foi?
– Nada.
– Então você vai fazer isso? – ele perguntou, cruzando os braços sobre o peito, um desafio.
– O que? – ele disse. Correr?
Taehyung deu um passo na direção dele. Agora ele estava a menos de trinta centímetros de distância. Jungkook prendeu a respiração. Manteve o corpo
completamente imóvel. Ele esperou.
– Você vai ficar longe de mim?
Isso quase parecia como se ele estivesse flertando. Mas Jungkook estava completamente fora de ordem. Sua testa estava molhada de suor, e ele apertou sua têmpora entre dois dedos, tentando recuperar a posse de seu corpo, tentando pegá-lo de volta do controle dele. Jungkook estava totalmente despreparado para flertar de volta. Isto é, se o que ele estava fazendo era realmente flertar.
Ele deu um passo para trás.
– Eu acho que sim.
– Eu não ouvi você – ele sussurrou, levantando uma sobrancelha e dando um passo para mais perto.
Jungkook recuou novamente, para mais longe dessa vez. Ele praticamente bateu na base da estátua, e pôde sentir o pé de pedra arenosa do anjo raspando em suas costas. Uma segunda sombra, mais escura e mais fria, voou sobre eles. Ele poderia ter jurado que Taehyung estremeceu junto com
ele.
E então o gemido profundo de algo pesado assustou os dois. Jungkook ofegou enquanto o topo da estátua de mármore balançava em cima deles, como
um galho de árvore balançando ao vento. Por um segundo, parecia pairar no ar.
Jungkook e Taehyung ficaram olhando para o anjo. Ambos sabiam que o seu caminho era para o chão. A cabeça do anjo inclinou-se lentamente em
direção a eles, como se estivesse rezando e depois a estátua inteira pegou velocidade enquanto começou a ser arremessada para baixo. Jungkook sentiu as mãos de Taehyung envolverem sua cintura instantaneamente,
firmemente, como se ele soubesse exatamente onde ela começava e onde terminava. A outra mão cobriu a cabeça dele e forçou-o para baixo bem
quando a estátua caiu sobre eles. Exatamente onde eles estavam. Ela caiu com uma queda maciça - de cabeça na lama, com os pés ainda
repousando sobre a base, deixando um pequeno triângulo embaixo, onde Taehyung e Jungkook estavam agachados.
Eles estavam ofegantes, nariz com nariz, os olhos de Taehyung assustados.
Entre os seus corpos e a estátua existia apenas alguns centímetros de espaço.
– Jungkook? – ele sussurrou.
Tudo o que ele podia fazer era acenar. Seus olhos se estreitaram. – O que você viu?
Em seguida uma mão apareceu e Jungkook sentiu-se sendo puxado para fora do espaço embaixo da estátua. Houve uma raspagem nas suas costas e em
seguida uma lufada de ar. Ele viu o lampejo de luz do dia novamente. A turma da detenção estava pasma, exceto a Sra. Troz, que olhava com
raiva, e Jimin, que ajudou Jungkook a ficar de pé.
– Você está bem? – Jimin perguntou, correndo os olhos sobre ele procurando por arranhões e hematomas e tirando a sujeira de seu ombro.
– Eu vi a estátua caindo e eu corri para tentar pará-la, mas já era... Você deve ter ficado tão apavorado.
Jungkook não respondeu. Apavorado era apenas uma parte de como ele se sentia. Taehyung, já de pé, nem sequer se virou para ver se ele estava bem ou não. Ele apenas foi embora.
O queixo de Jungkook caiu enquanto o observava ir, enquanto observava todos
os outros parecem não se importar que ele tivesse ido embora.
– O que você fez? – Sra. Troz perguntou.
– Eu não sei. Em um minuto, nós estávamos lá – Jungkook olhou para a Sra. Troz – hum, trabalhando. Quando me dei conta, a estátua
simplesmente caiu.
A Albatroz abaixou-se para examinar o anjo despedaçado. Sua cabeça tinha rachado no meio em uma linha reta. Ela começou a murmurar algo
sobre as forças da natureza e pedras antigas.
Mas foi a voz no ouvido de Jungkook que ficou com ele, mesmo depois de todos os outros terem voltado ao trabalho. Foi Molly, a apenas alguns centímetros de seu ombro, que sussurrou: – Parece que alguém deve começar a ouvir quando eu dou conselhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fallen
FanfictionHá algo estranhamente familiar em Kim Taehyung. Misterioso e evasivo, ele conquista a atenção de Jeon Jungkook desde o primeiro momento, no seu primeiro dia no internato da Sword & Cross. O rapaz é uma faísca de luz, em um lugar onde os telefones c...