Keiji deveria ter imaginado que tudo daria errado assim que ele saiu de casa. Uma hora mais cedo.
Não porque ele estava ansioso pela noite, e sim porque o relógio na casa de seus avós estava com a pilha ruim. E ao invés de trocarem logo por pilhas novas, seus avós simplesmente se adaptaram a viver sabendo que seu relógio indicava as horas erradas.
O segundo sinal de que as coisas não sairiam como o planejado foi ao chegar no shopping e encontrar o estabelecimento lotado de jovens geeks.
Tá, Keiji deveria ter previsto aquilo.
O cinema estava com uma promoção imperdível de ingressos, para qualquer filme, por apenas dez reais. Era óbvio que metade da cidade iria aproveitar esse acontecimento histórico.
Mesmo assim, ele não conseguiu pensar nisso quando Bokuto o convidou. Ele estava ocupado demais lidando com seus surtos internos e o pani que deu em seu cérebro e só conseguiu concordar e avisar que o encontraria às 19 horas.
Eram 18:15 e Keiji queria chorar.
Por sorte, ele estava no lugar perfeito para passar o tempo. Ignorou todas as lojas de roupas e eletrônicos, seguindo direto para a livraria, onde ele poderia passar os próximos minutos chorando por ter apenas dez reais no bolso.
Ao passar pela porta, o carinha bonitinho na caixa registradora acenou para ele.
"O livro que você estava procurando outro dia finalmente chegou" disse, apontando para a sessão de lançamentos. Keiji agradeceu, quase não conseguindo impedir suas pernas de correrem até a prateleira.
Lá estava ele, 569 páginas amareladas, com tamanho de fonte perfeita e título brilhante. Keiji prendeu a respiração ao pegá-lo nas mãos.
Ele levou o livro até a máquina de checagem de preço.
Keiji choramingou quando o preço brilhou na tela. Ele colocou o livro de volta na estante.
Sabia que se procurasse na internet o encontraria com um preço mais em conta. Todavia, Keiji gostava da emoção de entrar na livraria e sair de lá com a sacola cheia do quanto ele conseguiu pagar naquele mês (nunca passava de três livros) além disso, ele adorava os marcadores de página que ganhava de brinde.
Estava na sessão infantil checando qual a nova versão do Pequeno Príncipe para aquela semana, quando seu telefone tocou. Antes mesmo de dizer "Alô?", seus ouvidos foram invadidos pela voz de Bokuto.
"Akaashi! Eu passei na casa dos seus avós, mas eles me falaram que você já tinha saído."
"Não tínhamos marcado de nos encontrar no shopping?"
"Bem, sim" resmungou Bokuto. Keiji conseguia imaginá-lo fazendo biquinho. "Mas eu queria te fazer uma surpresa. Ia até pagar um 99 pra gente."
"Isso teria poupado minhas pernas da caminhada de quinze minutos."
Bokuto riu.
"Erro meu. Eu já cheguei no shopping, onde você tá?"
"Eu—"
"Não, não me diga! Eu vou te encontrar."
A chamada foi encerrada, mas Keiji continuou com o celular em mãos para o caso de Bokuto ligar novamente. Ele voltou para o corredor onde o futuro motivo das suas noites em claro falando "só mais um capítulo" estava.
Foi só quando estava quase terminando o primeiro capítulo que Keiji sentiu Bokuto pulando ao seu lado.
"Bu!" Ele riu, "sabia que te encontraria aqui."
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Pior melhor primeiro encontro
Fiksi PenggemarKeiji deveria ter imaginado que tudo daria errado assim que ele saiu de casa.