Melancolia HIATO

Capítulo 1: SINAPSE

Bem-vindo(a)! Esta história é um universo em constante evolução, uma tela em branco onde me permito criar, explorar e, acima de tudo, errar e ser incoerente em minha escrita e narrativa.

Boa leitura!

"Quando chego aos bons filmes, eles estão em movimento, quando chego a um romance, aberto está o inferno" - autor desconhecido

Março, 2016
Road Strip - Las Vegas, US

Fechou os olhos e abriu os braços, sentindo o vento acariciar o rosto. Estava de pé no banco de trás da limusine, com o teto solar aberto, deixando que os raios do sol brincassem com os fios castanhos, que ondulavam ao sabor da brisa, refletindo a cor alaranjada que tingia o céu naquela hora crepuscular. Estava em Las Vegas, a cidade mais luminosa dos Estados Unidos, onde o glamour e o pecado se misturavam em cada esquina. À esquerda, erguiam-se os arranha-céus de arquitetura moderna, ostentando outdoors e placas reluzentes; à direita, espalhavam-se os bares, cassinos, restaurantes e casas de shows, o epicentro das grandes apostas, lavagem de dinheiro e prostituição.

Uma multidão de pessoas caminhava pela larga calçada, vestindo roupas extravagantes, cheias de cores e brilho. Eram homens e mulheres de todas as idades e tamanhos, buscando diversão ou fuga.

O som das máquinas caça-níqueis lhe chegava aos ouvidos, emitindo sons agudos e estridentes a cada jogada, o som das fichas sendo trocadas, das cartas sendo embaralhadas, das roletas girando, as vozes das pessoas, que falavam alto e animadamente, ora comemorando ora lamentando os resultados dos jogos.

O cheiro de cigarro e perfume impregnava o ar da cidade. Também exalava dos corpos dos frequentadores dos bares e cassinos o cheiro de álcool e suor. Ainda vinha dos restaurantes e lanchonetes o cheiro de comida e especiarias. Tudo isso se misturava ao cheiro da poluição e do asfalto, que caracterizava a cidade grande.

Provou um gole do absinto, que lhe queimou a garganta e entorpeceu a mente. O gosto salgado da lágrima escorrendo até a boca, passou a língua sobre o batom vermelho, que coloria os seus lábios e lhe dava um ar sedutor. A solidão e a angústia, que lhe acompanhava aonde quer que fosse. Nada se comparava ao sabor da amargura e do arrependimento, que dominavam seu coração.

Observava as luzes de neon, que iluminavam a cidade com tons vibrantes e variados. Contemplava ainda os olhos dos homens, que a fitavam com tons cobiçosos e insinuantes.

Seus olhos passearam atentamente sobre o grupo que conheceu em um Strip House naquela noite. Três mulheres e um homem barbado aspiravam carreiras de pó no estofado de couro da limousine e outro garoto de estatura mediana introduzia uma agulha na veia pulsante no antebraço como um maldito viciado. Ela sentiu-se enojada, o que ela estava fazendo de sua vida bancando esses filhos da puta? Decidiu não pensar muito sobre isso, não era o seu negócio, ela necessitava distração, Camila queria sentir-se desejada, de alguém afirmando como era irresistível e gostosa, sentir que eles estavam rastejando-se aos seus pés, e eles estavam, se ofereciam como prostitutas por cinco minutos da sua preciosa atenção. É uma troca justa, ela pensou.

— Ei, gata. Vai ficar aí ou aproveitar a diversão? - Ela olhou vacilante e então inutilmente checou o telefone na esperança de alguma mensagem, deparando-se com uma única notificação de um Cupom Ifood. Não havia razão para hesitar ou continuar fugindo da realidade, ela estava sozinha, seus amigos não estavam presentes, ninguém se importava mais.

Uma mulher loira, estatura mediana e carente de curvas se aproximou ocupando o banco traseiro ao seu lado depositando o pó branco no próprio seio completamente nu. A patinadora se abaixou pressionando a narina com o dedo indicador e depois aspirou o conteúdo branco travando a respiração, o conteúdo atravessando a laringe e passando pela traquéia.  Enquanto isso, a mulher acariciava os fios de seu cabelo. Suas vias aéreas queimavam como fogo, ela pressionou os olhos lacrimejantes e pigarreou a garganta para aliviar a dormência, sentindo seu coração acelerando cada vez mais.