Capítulo 6: SELVAGEM

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"Diz-se que um vinho é selvagem quando ele apresenta aromas ou notas que remetem a uma sensação rústica, que lembre ambiente ou fatores animalescos"

Narrador voices over:

À beira da última gota da garrafa de vinho Selvagem, Camila se encontrava imersa em um abismo de incerteza. O álcool ardente escorregava por sua garganta como um lembrete amargo dos caminhos que a levaram a esse momento.

Selvagem

Ecoava em sua mente, como um espelho cruel de sua própria alma, se sentia como um animal ferido, encurralado. Perdida em suas circunstâncias, não era nada selvagem de sua parte. Covarde é mais apropriado pelo modo qual agia, atacava para se proteger, tal qual um animal marcado por traumas. Era seu modo de defesa. Morder, depois perguntar.

Gostaria de ligar

Quero te abraçar, mas eu queria te controlar

Paranóica

O que há de errado comigo?

Por que estou apontando tudo de errado com você?

Estendida na cama, seus dedos exploravam os lençóis suaves, carregados do perfume cujo cheiro causavam palpitações em seu coração. O cheiro a lembrava dela que havia ocupado aquele espaço alguns minutos antes. As fotografias na parede mostravam sorrisos que não eram para ela, momentos compartilhados com outras pessoas. Não podia evitar o ciúmes crônico.

A música, uma playlist montada e escolhida por Lauren, fluía pelos ouvidos.

Sua selvageria era um dilema constante, uma dualidade de sentimentos que a devorava por dentro.

Vamos falar sobre a noite passada, com quem você estava?

Por que você não me respondeu?

Todas essas perguntas, criticando você

Trazem o pior de mim

As melodias da playlist pareciam murmurar segredos que só ela sabia, enquanto seu coração batia descompassado, como se estivesse lutando contra forças invisíveis.

Uma corrente que a arrastava para as profundezas da dúvida. Duas inseguranças perturbavam a mente de Camila: a sensação de não ser digna e o medo constante do abandono, temendo que a dona de olhos verdes um dia a deixasse por alguém melhor.

Ela bebia mais um gole do vinho, como se buscasse a coragem para enfrentar sua existência. Em seu íntimo, uma batalha silenciosa e desesperada acontecia, enquanto as sombras do passado e as incertezas do futuro se encontravam em um abraço sufocante. Os pensamentos negativos ressurgiam, implacáveis. Rivalidade, desconfiança, medo... todos eram traços adquiridos, não só como pensam, não nasceu assim, vestiu-se da selvageria para sobreviver na selva do mundo.

Camila, uma fortaleza inabalável, uma potência que sustenta o mundo com as mãos. Assim a julgam os olhos míopes, pois veem nela a força, a liderança, a arte de vencer as dificuldades com soluções geniais. É compreensível tais rótulos pertinentes, mas se olhassem mais de perto, com um pouquinho mais de atenção, veriam que essas virtudes são apenas a máscara que esconde sua miséria, seu medo, seu instinto irrefreável de fugir dos problemas. E ninguém notou, nem mesmo Lauren Jauregui.

A confiança de Camila era uma ilusão, uma mentira que ela contava a si mesma e aos outros.

A quebra de confiança a afetou profundamente, abalou, a despedaçou. A quebra de confiança a fez duvidar de si mesmo, de sua capacidade, de seu valor. A fez sentir-se indigna, inferior, desprezível. Feriu, marcou, mas a cicatriz permanece tatuada intrinsecamente em seu interior e exterior. Não se sabe onde é o início. É possível que um bebê sinta o abandono de um pai ainda no ventre de sua mãe? O quanto a falta de afeto pode moldar a personalidade de uma criança? São perguntas que não tinham respostas. Ainda.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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Melancolia HIATOOnde histórias criam vida. Descubra agora