Sonhos

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"Os Deuses não devem ser temidos,
a morte não deve amedrontar,
o bem é fácil de ser obtido e
o mal é fácil de suportar!"
- Epicuro.

Estava escuro, eu andava por entre as árvores sem folhas, que se moviam lentamente por uma brisa que eu não sentia. O leve brilho da lua passava entre elas em intervalos irregulares, criando sombras fantasmagóricas.

Não ouvia o barulho dos meus passos, nem de qualquer animal. Na verdade, estava completamente silencioso.

Cheguei à uma clareira familiar, onde as árvores esqueléticas se curvavam ao chão.

Entretanto dessa vez, Morte estava de frente para mim, sua estrutura parecia quase humana diferente do último encontro, apenas pálida demais, suas mãos ainda eram finas e longas mas havia pele sobre os ossos. Seu manto preto de tentáculos se manteve, flutuando em todas as direções, mas ele parecia até mais baixo e ereto do que alto e curvado. Seus olhos porém, eram a coisa que mais o denunciava, totalmente preto pra quem olhasse de longe, mas eu sabia que se prestasse bastante atenção, poderia ver o círculo verde formando sua íris.

Eu estava parado no lugar, sem me mexer, sem respirar, meu coração parecia nem bater em meu peito.

Vendo que ele estava apenas me encarando intensamente, dei o primeiro passo.

- Você pode mudar de forma? - Foi a primeira coisa que consegui pensar.

Ele inclinou a cabeça para o lado minimamente e deu um sorriso torto.

- A outra forma é a mais adequada para o trabalho. - Sua voz agora era rouca e vinha apenas da direção dele. - Mas não estamos aqui para falar sobre minha aparência filhote.-
Falou dando um passo mais perto, como um predador caçando sua presa. Meus instintos me diziam para dar um para trás, mas me mantive firme.

- Então estamos em meu sonho? Você é realmente meu pai? - Perguntei com uma voz baixa, sustentando o peso do seu olhar sem desviar.

- Sim para as duas respostas, vejo que Jormungand lhe contou sobre sua origem.

- Na verdade eu a nomeei Hel, se você não se importa, é mais fácil de pronunciar. - Falei desviando os olhos.

Uma risada rouca surgiu, me fazendo o olhar de novo, vendo que Morte estava rindo abertamente pela primeira vez, mostrando seus dentes pontudos e extremamente brancos.

- Adequado, eu digo. - Dando um passo para frente, deixou o humor de lado e disse sério: - Eu senti tanto a sua falta Hadrian, você não sabe o quanto. - Falou com o rosto contorcido, como se isso lhe causasse dor.

Eu cruzei meus braços em minha volta, me protegendo de um calafrio.
Olhando para o chão, disse em um único fôlego.

- É tão difícil acreditar que sentiu. Eu sinto que estou em um pesadelo, que nunca acaba. As vezes eu só queria correr para o braços de meu pai e saber que tudo ficaria bem, chorar em seu ombro como as outras crianças de minha idade podem fazer sem ser julgadas, por que ainda são crianças.

Parei suspirando, tentando controlar minha voz que estava ficando embargada.

- Mas não, - Disse o olhando. - Eu sinto que sou duas vezes mais velho do que realmente sou, e isso antes de saber que tem tanta responsabilidade sendo jogada sobre mim, agora é muito pior. Profecias, fim dos tempos, salvação, deuses… Em alguns momentos, tudo parece demais.

Morte avançou alguns passos lentamente, como se para não me assustar. E agora em minha frente, levantou sua mão e a pousou em meu ombro, de onde achei que seria frio emanava um calor quase quente o suficiente para queimar.

- Meu filho… - falou olhando no fundo de meus olhos, e… aquilo eram lágrimas se formando em seus olhos? - Meu príncipe… - Sua voz estava mais falha. - Eu sinto tanto por tudo que você teve que passar, por mim eu nunca teria te entregado a Destino, você é uma parte de mim Hadrian. Eu sinto que no vazio do meu peito, só havia dor, ainda há, enquanto isso tudo não acabar.

Lágrimas vermelhas como sangue sairam de sua escuridão de olhos, e meu peito apertou. Eu queria o confortar. Não. Eu precisava, como eu precisava de conforto. Então dando um passo e sumindo com a distância que existia entre nós, passei meus braços em volta de sua barriga, e enterrei meu rosto em seu peito.

Fiquei parado por um instante, esperando sua reação, quando ele me abraçou de volta tão apertado como nunca ninguém havia feito. Aí então, desabei.

- Oh filhote, eu sou seu pai, eu to aqui, você nunca mais estará sozinho, você nunca esteve. - Falou passando uma mão suavemente por minhas costas, enquanto eu soluçava em seu manto. - Acredite Príncipe, eu estive a todo momento olhando por você. Doía no âmago de meu ser, te ver desejando o que esses mortais tem, por que meu filho, você tem muito mais, você é muito mais. Você não é apenas Hadrian Mortem, filho da morte. Você é o futuro deus da terra.

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Notas:
Esse foi bem pequeno apenas pra vermos essa interação mais íntima entre Morte e Hadrian.
Lembrem-se que ele só tem dez anos, então faz sentido ele ser um pouco incompreensível as vezes. 

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Amanhã eu posto outro <3

Darkness Lord - TOMARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora