Capítulo 1

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❀  BROKEN HEART ❀


POV MIRANDA


Filadélfia- Pensilvânia.

Da minha cadeira confortável, enquanto segurando uma xícara de café, encaro o meu jaleco pendurado no cabide no canto da minha sala.

Olho pela milésima vez o "Dra. Priestly" bordado em letras cor de vinho no bolso. É o meu toque especial favorito.

Andrea bordou as letras para mim. A cada ano depois que nos conhecemos, ela bordou num novo jaleco. Hoje eu o usei pela última vez em minha última cirurgia. Dediquei 25 anos da minha vida salvando outras vidas. Consertando corações. Tudo que eu mais desejei, eu conquistei. Uma carreira incrível e brilhante. Ser cardiologista foi um dos meus maiores sonhos realizados. Claro que ser mãe sempre estará no topo.

É claro. Caroline e Cassidy são os meus tesouros. Meus dois sonhos ruivos.

As duas prestes a irem para a faculdade. Sentada na minha poltrona faço um retrospecto de tudo que aconteceu ao longo dessa carreira. Ao lado da minha esposa...Ex-esposa, formei uma família que tanto amo. Oito meses e dezessete dias após o início do nosso relacionamento um teste gravidez positivo veio sem que esperássemos. Engravidá-la ainda não estava em meus planos. Eu pretendia tirar férias com ela e aproveitarmos mais a nossa vida juntas, mas o destino não quis assim. E foi o melhor desvio de destino que eu poderia imaginar. Sempre acreditei que filhos merecem ser criados num bom ambiente familiar. Dois adultos tentando guiar uma nova vida para o mundo caótico. Nem sempre é assim, infelizmente, mas eu faria a minha parte da melhor maneira possível. Então eu a pedi em casamento e ela aceitou. Como uma boa romancista ela só aceitou depois de um jantar num restaurante cinco estrelas e um anel de noivado aceitável.

Ela e eu nos casamos alguns dias depois num cartório.

Aconteceu numa terça-feira chuvosa. Eu estava usando branco, mas eram as minhas roupas brancas tradicionais do trabalho. Ela estava usando calça jeans, sapatilhas e um suéter roxo. O cabelo estava todo molhado da chuva.

Ela não queria festa. Eu não queria festa. Só queríamos ser uma da outra.

Os meses passaram depressa. E em meio a um dos meus plantões, o bip interrompeu a minha pausa para o café. Não era um chamado para mais uma revascularização do miocárdio ou uma miectomia septal. Era o parto das minhas filhas. As duas quebraram o protocolo de uma cesariana bem planejada e resolveram vir ao mundo da forma convencional. Andrea parecia fora de si com as temíveis dores. E já havíamos brigado por causa do parto. Ela pelo parto natural e eu pela cesariana. Claro que um parto natural sempre será a melhor solução. Mas eram duas crianças. Eram as minhas crianças. E tudo que eu queria era manter o controle. Ter o controle do parto e ter a certeza de que tudo correria bem. Mas como na maioria das vezes, ironicamente, a vontade de Andrea prevaleceu. A bolsa estourou no meio do restaurante durante o almoço dela com a amiga dela.

Acho graça ao lembrar do histerismo dela, quando ela percebeu que a dor do parto não era uma lenda urbana. O tal "eu aguento a dor" tão argumentativo e insistente durante a gestação toda, logo foi substituído pelo "preciso de drogas agora" após as primeiras contrações. E depois de horas de tantos gritos impacientes, duas ruivas chegaram ao mundo. Perfeitas. Lindas e cheias de vida.

Mesmo vivendo o mundo da medicina desde que eu me entendo por gente, mesmo sendo filha de dois médicos conceituados...Eu ainda me pergunto como nós duas, ela e eu, pudemos ter colocado no mundo duas garotas tão perfeitas. Minha condição física e anatômica foram a resposta é claro. Mas nós duas criarmos duas vidas tão perfeitas ainda me deixa impressionada. Foi o choro de Cassidy que ouvi primeiro. Sempre foi a mais apressada. A mais agitada. Caroline veio tão calma, que até mesmo o choro demorou a ecoar pela sala de parto. Duas garotas. Duas meninas ao mesmo tempo.

Broken HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora