Capítulo 25

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O som do salto fino no mármore polido reverberava contra as paredes do corredor vazio. Os passos eram precisos, determinados. Continham um ritmo constante e afincado. Mesmo ao chegar nas escadas, a secretária não se importava em olhar para frente, estava ocupada demais checando sua prancheta, e só tirou os olhos de sua lista quando seus pés deixaram o último degrau.

Olhou uma última vez para cima, apenas para ter certeza de que não estava sendo seguida nem pelo guarda costas de Adrien e nem pelo próprio Adrien. 

As palavras de Gabriel Agreste ainda ecoavam em sua mente, soando mais como uma ameaça do que como um aviso: "Seja discreta, sua vida depende disso agora," disse o Agreste mais velho há  exatamente uma semana atrás, quando Nathalie tomou uma decisão que mudou sua vida por completo. Agora ela não era apenas uma secretária — era algo muito mais perigoso.

Estava arrependida de sua decisão. 

Pelo menos uma parte sua.

O que estava fazendo era errado, e tinha plena noção disso, pensava enquanto seguia para o escritório de Gabriel. Mas ainda sim, uma parte sua não sentia nem mesmo uma única fração de arrependimento. Se sentia plena. De consciência limpa. Sendo franca consigo mesma, ela já não sabia o que sentir.

Suspirou pesadamente e bateu na enorme porta a sua frente; não esperou Gabriel pedir para ela entrar e o fez silenciosamente, se posicionando na frente da porta, após fechá-la atrás de si. 

O homem estava de costas, encarando o quadro de sua falecida esposa com as mãos atrás do corpo. Sua postura era perfeita. Mas ele não disse uma palavra. O ar ficou pesado e Nathalie sentiu um pouco de dificuldade para respirar por um breve momento. 

Depois de torturantes segundos, Gabriel finalmente falou:

— Nosso plano não obteve êxito. 

Abriu a boca apenas para falar o óbvio, pensou Nathalie.

— Mas chegamos muito perto — completou.

Depois de alguns instantes, Nathalie percebeu que deveria falar alguma coisa. Ele estava esperando.

— Sim, — sua voz saiu mais aguda do que deveria, e pigarreou rapidamente — creio que o desempenho de um akumatizado com um sentimonstro melhoraram muito as suas chances.

— As nossas chances — corrigiu Gabriel e Nathalie estremeceu. Agradeceu mentalmente por Gabriel estar de costas.

Ela sabia que era parte disso, mas se isso não fosse dito em voz alta, talvez ela pudesse pelo menos fingir que não é uma criminosa. Apenas fingir. Quem quer o poder absoluto é ele, não eu, pensou.

Ela conseguia se lembrar com clareza do dia em que descobriu os planos de Gabriel. Na realidade, foi ele mesmo quem contou para ela. Ela se lembra perfeitamente da sensação de choque que sentiu, mas não conseguiu ficar brava com ele. Nem triste. Quando ele lhe contou suas motivações, ela apenas se sentiu coagida a ajudá-lo, pois era isso que ela sempre fazia.

Mas analisando a situação mais profundamente, nem aquele motivo justificava suas ações. 

Não fazia sentido.

Mas ela já havia tomado a sua decisão, por mais estúpida que parecesse. Ou ela traía seus princípios, ou o homem que amava. 

Gabriel se virou de repente, pegando Nathalie de surpresa, mas ela não deixou que ele percebesse. Ela apenas continuou estática, não transparecendo nenhuma emoção e olhando os olhos de Gabriel, tão vazios quanto os seus.

Aqueles mesmos olhos que um dia já foram cheios de vida, agora eram tão cinzas quanto uma tempestade. O tom de seus olhos não era mais do mesmo azul, percebeu.

— Enfim, — começou com a voz rouca — qual será o nosso próximo passo, Mayura?

E ela se deu conta de que odiava aquele apelido. Aquele codinome. Seja lá o que aquilo for. Sentiu seu corpo inteiro se retesar, mas não demonstrou. Não posso deixar que ele perceba meu incômodo

E também odiava ter percebido tarde demais o erro que cometeu ao se juntar ao Hawk Moth

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