O dia no hospital.

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Viktor pov.
Sexta era o dia em que eu mais odiava, de todos o que a semana tinha. Aquele dia representava o fim da semana e início de dois dias tediosos mas não seriam mais assim! Um fator levemente curioso é que, quando cursei fotografia, também acabei cursando enfermagem e consegui acelerar o segundo curso para que terminasse no mesmo período que o primeiro. Curiosamente, mesmo me dedicando a duas faculdades e teoricamente não tendo tempo para nada, consegui manter minha vida social ativa, porém sempre com muita responsabilidade e pé no chão.

Hoje começava o meu trabalho no único hospital da cidade, quer dizer, único hospital também não mas era o principal da cidade, onde o recurso para cuidar de ferimentos, doenças mais graves se encontrava. Estava ansioso para colocar todos os meus anos de esforço na faculdade em prática então acabei chegando... uma hora antes do combinado. O enfermeiro que se prontificou a cuidar de mim ficou assustado assim que eu cheguei mas logo riu de toda a situação, dizendo que eu deveria estar bem ansioso para cuidar das pessoas dali. Ele era uma das pessoas mais calmas e com paciência que já conheci, céus, e a forma como ele explicava também era clara então acabei não formando nenhuma dúvida pois o assunto foi passado com clareza e direto ao ponto.

Maki era seu nome. Maki chegou em mim dizendo que eu deveria ser muito sortudo pois um paciente grave havia acabado de chegar e seria a hora perfeita para ter contato com tudo isso. Claro que não foi um sortudo do tipo "Oba! Uma pessoa machucada, que felicidade" apenas dei sorte porque era meu primeiro dia e já tinha em mãos um caso sério — o que é demais para um simples auxiliar começando aos poucos. Enfim, peguei tudo que era necessário e segui Maki com pressa, pelo o que ele me passou o nome do paciente era Yoshi, tinha seus vinte e seis anos, terrivelmente foi vítima de um acidente sério, seu carro colidiu com um outro na pista e o carro dele acabou capotando. Ele estava com uma fratura exposta na perna esquerda, seu braço direito foi quebrado pelo forte impacto que deve assim que os carros de chocaram, e tinha três costelas fraturadas por conta do capotamento, ah, e alguns hematomas mais "leves" em sua cabeça. O outro motorista não sofreu nada, por incrível que pareça, e fugiu sem dar a mínima assistência ao rapaz machucado, tsc, ainda existem pessoas assim?

Yuri pov.
A semana foi tão lenta quanto uma tartaruga mas finalmente havíamos chegado no último e melhor dia: sexta! O clima não estava tão frio quanto em seus dias anteriores então peguei minha roupa mais descontraída: uma calça, mesmo que fizesse um calor infernal odiava expor minhas pernas, e uma camisa de manga curta que tinha a estampa de uma de minhas séries favoritas. Aproveitei o dia para passear com Vicchan, afinal, já fazia algum tempo que não tínhamos esse momento a sós e o mesmo ficou extremamente animado — é claro! Vicchan ama passear e ficar cheirando as cadelas que vê pela frente.

Segurando a guia do mesmo com uma mão e a outra focada em trancar a casa, o que ocorreu com sucesso. Poderia ser uma cidade "pequena" mas era a principal da região, os moradores das cidades vizinhas sempre viam aqui caso não tivesse o que queriam, e incrivelmente o índice de crimes como furto. Cuidado nunca é demais, né? Enfim, dado o início do meu passeio com meu cachorrinho ocasionalmente encontrava com conhecidos e batia um papo rápido com eles. O dia estava correndo maravilhosamente bem que até eu estava estranhando aquilo.

[...]

Três horas se passaram desde que eu e Vicchan saímos para passear, felizmente já estávamos em casa; eu, destruído, Vicchan por sua vez estava mais energético do que quando saímos, como cachorros conseguem ter tanta energia?
Senti algo vibrar em meu bolso e logo depois Sober da Lorde preencheu a sala, droga, estão me ligando e eu espero que não seja nada sério pois meus pés estão mais doloridos do que tudo na vida. Com uma pressa, retirei o celular de meu bolso - mas atrapalhado do jeito que sou - acabei derrubando-o no chão e pegando rapidamente para conferir se nada tinha quebrado, ufa! Hospital era o nome que aparecia na minha tela, que estranho, por que receberia uma ligação do hospital? Ansioso e apreensivo, atendi a ligação.

— Senhor Katsuki? — Ditou a recepcionista com uma voz séria.
— Sim, sou eu.. — Tentou esconder sua ansiedade mas não foi tão convincente.
— Aqui é do hospital XXXXXXX, o paciente de nome Yoshi deu entrada com um ferimento grave e seu nome constava caso ocorresse algo.

Yoshi.... Yoshi? Yoshi! Meu melhor amigo deu entrada em um hospital e geralmente hospitais não ligam quando é algo leve, algo de ruim aconteceu com ele? Minha cabeça estava em outro lugar, imaginando o mais velho em tantos cenários horríveis mas fui puxado de volta a realidade quando escutei a mesma mulher falar "Olá? Senhor Katsuki, ainda está na linha?"

— Sim! Desculpe, estou chegando no hospital, mas antes você poderia me informar o que aconteceu com ele? — Reprimiu as lágrimas.
— O senhor Moshikaki deu entrada no hospital devido à um acidente grave.

Se antes meu chão não tinha sumido agora não só meu chão sumiu, tudo ao meu redor não existia mais, meu cérebro finalmente entrou em colapso. Agradeci quase que em murmúrio a recepcionista e encerrei aquela ligação. Parecia que toda a minha dor magicamente sumiu e eu havia entrado em modo automático, peguei todo o necessário para ir ao hospital e fechei a porta, claro, poderia estar atordoado mas nada iria acontecer com meu amado cachorro.

Não percebi que em poucos minutos já tinha chegado em frente ao hospital, andei o mais rápido que pude e mesmo com a dor em ambos os pés me incomodarem não deixei aquilo tomar conta de mim. Desesperado, dei entrada no local e fui até a recepcionista falando do caso de meu amigo e ela aconselhou a me acalmar e que eu não poderia fazer nada no momento. Yoshi estava dando entrada no centro cirúrgico e tudo o que eu podia fazer era esperar por uma eternidade a notícias suas. Um cabelo, rosto e corpo familiar próximos de mim, era o Viktor! Ele estava indo em direção ao centro cirúrgico, dava pra ver claramente pelo caminho que ele estava fazendo. Em completo pânico fui até ele e agarrei seu braço.

— Viktor! Eu sei que você está indo ao centro cirúrgico, meu amigo está lá, né? Você vai cuidar do caso dele... Por favor, não deixe ele morrer, Viktor, eu te imploro. — Falou, praticamente aos prantos.
— Yuri..? — Murmurou, surpreso pela figura do menor e se comoveu com sua fala. — Eu farei o possível e impossível para cuidar dele. Eu te prometo, Yuri.

A forma como ele disse acabou acalmando mais os batimentos de meu coração, soltei seu braço e o deixei ir enquanto andava de costas até as cadeiras; lugar onde praticamente me joguei e fiquei sem expressão, tomado pela angústia, dor e medo.

[...]
Quando cheguei no hospital eram 21:15 e assim que olhei o relógio presente na sala de espera ele marcava exatamente 06:50. Nove horas se passaram desde que tudo deu início? Pra mim, meses haviam se passado. A figura esbelta, alta, atlética e o cabelo branco-cinza de Viktor surgiu na porta da sala de espera, ele parecia estar olhando por todo o recinto até seu olhar se encontrar com o meu e ele começar a dar passos determinados em minha direção.

— Yuri? Posso chamá-lo assim? — Perguntou.
— Claro! Mas.. mas o que você tem a dizer? Deu tudo certo? Yoshi está bem? — Bombardeou o maior de perguntas.
— Uma pergunta por vez! Sim, a cirurgia foi um sucesso e agora Yoshi está descansando em um quarto, não, você ainda não pode vê-lo. — Antecipou a pergunta dele, vendo uma expressão de desgosto se formar. — Sei que você passou a madrugada aqui então recomendo a ir para casa, descansar e mais tarde voltar, tudo bem?

Por um momento, hesitei em concordar com sua proposta. Descansar?! Enquanto meu amigo está aqui nesse hospital, completamente machucado e sem suporte? Mas lembrei que ele também estava descansando, tudo deu certo, e eu precisava estar em melhores condições para cuidar dele, e se eu acabasse adoecendo? Concordei com a cabeça, como um zumbi, e escutei uma risada vindo dele, estou tão ruim assim?

— Sei que é um pedido estranho e em uma hora inconveniente mas posso convida-lo a um encontro?
— Um.. encontro? — Disse um pouco atônito.
— É. Essa é a terceira vez que temos um encontro estranho então por que não um encontro oficial agora? — Sorriu. Aquele sorriso aqueceu o coração do rapaz.
— Ah, claro, só vamos marcar em um dia que eu não esteja ocupado, ok? E depois que o Yoshi estiver totalmente recuperado.
Claro, Yuri. Aqui está meu número, me contate assim que tudo der certo com seu amigo.

Viktor me entregou um pedaço de papel higiênico com seu número escrito ali, a situação não poderia ser mais cômica porém não tinha forças para rir então apenas dei o meu melhor sorriso para ele e me retirei do local.

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2021 ⏰

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