19- Vamos Dar O Fora, Agora É Pra Valer!

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Se antes já estava tenso, então agora tudo piorava rapidamente. Ninguém falava com ninguém se não fosse necessário e até o cara babaca tinha diminuído suas visitas e seus insultos frequentes.

A minha rotina não mudara mais, eu ficava preso no quarto de cima enquanto a garota ainda desconhecida por mim trazia minha comida. Eu não ficava amarrado e nem de olhos vendados e, embora eu já tivesse visto todos, a aparência de 14 ainda me era um mistério.

Kyle, Kyle, Kyle.

A reação dele ao ouvir esse nome foi tão explosiva que hoje de manhã eu ainda me lembrava. Eu já tinha conhecimento de sua personalidade e atitudes bipolares, só não sabia o quão violenta elas podiam ser. Mesmo que ele prometesse não me machucar, eu não conseguia acreditar nisso, não depois do que ele fez. Pra mim agora ele podia fazer qualquer coisa, desde pegar uma arma e puxar o gatilho a me soltar e me ajudar a escapar.

Aliás, sonhei com isso na mesma noite de sua reação explosiva. Ele me ajudava a escapar e fugia comigo. Nada além de um sonho.

As horas que se sucediam me obrigavam a ficar pela cama ou pelo chão. Não pensando em uma maneira de escapar, mas tentando ligar tudo.

A essa altura já me era plausível a possibilidade de meu pai ter matado a pessoa que 14 amava, e se era isso mesmo, por quê ele prolongava minha vida? Por que não dava logo um fim nisso?

Eu não queria morrer, apenas entender.

A porta fora aberta e a luz da lâmpada invadiu o cômodo já que no meu não tinha. Uma sombra atrapalhava a passagem. Era ela.

— Põe nos olhos! - Jogo a venda em meu rosto. Ela não era tão babaca quanto o outro mas também não era muito gentil.

— Pra que? Pra ir pro porão novamente? - Coloquei apertando o pano.

— Sem perguntas. Ele vai subir pra buscar você e não vai querer você nessa liberdade toda - Falou amarrando minhas mãos. Seria o 14 que viria me buscar? Meu coração disparou. O cara por trás disso tudo.

Ela saiu, mas não ouvi a porta se fechar.

Demorou alguns minutos até ouvir passos subindo a escada e parando a minha frente.

— Ta na hora - Não o ouvi por tempo suficiente pra decorar sua voz nas últimas vezes mas decorei a dos outros. Não era nenhum deles, então só podia ser o 14.

Me pegou com brutalidade e saiu me arrastando até o andar debaixo.

— Amarrem na cadeira! - Ordenou.

Mais mãos me puxando com força até me deixarem sentado em uma cadeira amarrando minhas mãos pra trás. Entrei em pânico. Minha respiração acelerou desesperadamente e quase que comecei a chorar.

— Relaxa, você não vai morrer agora...- O cara babaca disse em sussurros.

— Mas vai desejar - Finalizou acariciando os meus cabelos.

— Chama ele - Ordenou novamente. A situação estava me deixando completamente em pânico e sem saber o que fazer. Ora não havia nada que eu pudesse fazer e ninguém pra fazer algo por mim.

Mais passos ao meu redor.

— Faz uns cortes aí nos braços e talvez no rosto ou sei lá, marca bem. Ryan tira as fotos e depois mandamos pro coroa do moleque - Comecei a esperniar novamente sentado na cadeira.

— Tem certeza? - Ouvi a voz dele. Kyle era quem iria fazer meus cortes.

— Tenho, é tenho - Ele disse com certo tom de naturalidade. Todo mundo ali naquela sala tratava tudo com um tom de naturalidade a cima do normal como se torturar e matar pessoa fossem parte do nosso cotidiano. Talvez dos deles.

Quando sua mão encostou em meu braço, posso dizer que eu me petrifiquei. Nossas respirações tornavam a colidir umas com as outras e quando senti o toque gelado da faca para me cortar sobressaltei minimamente com a cadeira.

— Espera - 14 pediu.

— Tira a venda dele - Foi sua ordem.

— 14? - Perguntou como confirmação. Acho que ele a teve pois segundos depois ele tirava a minha venda.

14 era alto, cabelos claros e com olhos castanhos acho. Nada assustador, talvez sua voz com sotaque espanhol ajudasse nessa parte.

Ele olhou pra mim e começou a sorrir cinicamente. Meu sequestrador voltou a me encarar com o canivete em mãos e apontado para os meus braços.

— Ryan, pode dispensar a Tay - Foi dada mais uma ordem com um sádico sorriso nos lábios.

Eu o encarava, olhava em seus olhos, pedia por socorro em silêncio e fazia que não com a cabeça. Ele relutava bastante em iniciar sua tortura mas com certeza não poderia desobedecer.

— O que tá esperando? - Ele não o respondeu. Só me encarava, ambos aflitos.

— Anda! - Mais uma vez, mais ameaçador e cruel. Kyle não o respondeu.

14 Descruzou os braços e andou até nós com fúria puxando ele pra trás tentando puxar o canivete de sua mão, Kyle virou-se de frente pra ele e enfiou com força em sua garganta, nisso um tiro é ouvido da parte inferior da casa me fazendo gritar, não só pelo susto, mas pela cena em minha frente.

Olhei pros lados procurando o que o tiro tinha atingido e por quem fora disparado.

— Tay foi dispensada - Indagou enquanto o corpo de 14 caiu no chão se contorcendo derramando sangue.

Ele olhou pra mim. Eu estava completamente atônito e horrorizado.

Passos vindos do outro lado se tornaram cada vez mais frequente, ele correu para o outro lado me deixando sozinho lá.

— Que merda?! Que merda aconteceu? Cadê ele? - Ryan apontando a arma para todos os lados perguntando incrédulo.

— Eu tô falando com você! Me fala! - Apontou a arma pra minha cabeça. Fechei os olhos, nada eu conseguia dizer então só esperei.

— Agora não importa mais - Esperei apertando os olhos com força.

Ouvi o barulho. Não foi da arma. Abri os olhos vendo o corpo de Ryan jogado no chão perto do sofá.

— Que? O que? - Babulciei qualquer merda que meu consciente me empurrava.

— Vamos dar o fora, agora é pra valer.

O Último Sequestro I Nosh 𝑣Onde histórias criam vida. Descubra agora