X. Tell me what are my words worth

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Depois de sua última crise, Emma reduziu seus passeios pela mansão e agora permanecia uma boa parte de seu dia na biblioteca da casa folheando suas edições impressas em Braille numa tentativa de passar o tempo.

Saoirse sentia que aquela barreira autoimposta pela inglesa entre as duas estava começando a enfraquecer e uma prova disso era que Emma lhe dirigia a palavra diretamente, estando até mais afável, claro que com seu jeito Watson de agir.

E bem, Saoirse já tinha tido uma boa dose do jeito Watson depois que Celia passou a lhe lançar olhares fulminantes até mesmo durante o jantar. Por um lado bom ela não estava brava o bastante para demitir Saoirse, mas ainda nutria um sentimento odioso nada discreto.

Ao menos, sua relação com Emma agora estava mais equilibrada que antes e a inglesa tinha até permitido na noite passada que a loira ajudasse a salgar na medida certa a sua sopa, um hábito um tanto estranho mas que Saoirse acatou em silêncio enquanto jogava pequenas pitadas de sal no caldo. Ela até achava que esse seria o limite, mas Emma ainda parecia ter algo mais a demonstrar.

E foi assim que ela lhe levou até o piano em uma tarde entediante e terrivelmente abafada.

"Irlanda, poderia procurar minha edição francesa de Oscar Wilde?", Saoirse revirou os olhos com o irritante apelido que Emma decidiu utilizar. "Acho que a Celia colocou tudo em ordem alfabética."

"Encontrei...", Saoirse colocou o livro de capa vermelha sob a mão de Emma, que sorriu em agradecimento e começou de forma imediata a folhear a edição. "Não quer sair um pouco?"

"Não, muito obrigada", respondeu ela de maneira simples ainda passando seu indicador sobre as páginas amareladas sem necessariamente prestar atenção em Saoirse, que agora passava um tempo extra ao lado de Emma, ou pelo menos quando ela estava na biblioteca. "Ei, você faz alguma coisa aqui além de me perseguir o dia inteiro?"

Saoirse estreitou as sobrancelhas com a pergunta repentina já que Emma não parecia demonstrar tanto interesse com relação à sua rotina ou qualquer tópico do tipo.

"Sua sutileza é admirável, sabia?"

"Sério? Obrigada!", respondeu ela em um tom irônico evidenciado por um sorriso de canto. "Mas, agora sendo franca, você realmente passa o dia inteiro me perseguindo?"

"Eu não diria perseguir..."

"Vamos lá: Você fica nos cantos sem fazer barulho me observando enquanto eu mal consigo te enxergar... Se isso não é perseguição, o que seria?", Saoirse abriu a boca para argumentar mas se deu por vencida e suspirou audivelmente, ato notado por Emma com seu sorriso vitorioso, o que fazia Ronan desconfiar que ganhar discussões era quase um esporte olímpico para a inglesa.

"Enfim, eu não posso fazer nada além disso... Você não para quieta", Emma riu agora parando de tocar as páginas e deixando sua mão aberta sobre o livro. "É sério! E aliás, o que mais eu faria se fui contratada para isso?"

"Você pode fazer algo mais dinâmico."

"Como o quê?"

Emma ficou pensativa inclinando um pouco sua cabeça para trás contra o encosto da poltrona e em seguida disse:

"Você por acaso sabe tocar algum instrumento, como piano ou algo assim?"

"Sei...", Saoirse comprimiu o sorriso que ameaçava tomar seu rosto e a vontade de contar tudo sobre seus planos para Emma, que ainda se manteve encostada na poltrona.

"Bem, então você pode tocar algo para mim?"

"Claro que sim...", Emma se ergueu rapidamente da poltrona e tateou o braço do assento até pegar sua bengala, cujos detalhes Saoirse havia começado a notar recentemente como o fato da ponta dela ser no formato da cabeça de algum ser mitológico marinho. Às vezes era difícil lembrar que Emma fora uma pesquisadora, mesmo que Ronan não tivesse tanto conhecimento a cerca de seus achados com a exceção dos expostos na sala central.

Everything I Need || Watsonan ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora