Capítulo 3

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Cada dia que se passava, a culpa e o medo de não ser capaz de quitar sua dívida consumiam os pensamentos do pequeno Jake

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Cada dia que se passava, a culpa e o medo de não ser capaz de quitar sua dívida consumiam os pensamentos do pequeno Jake. A angustia que se abatia sobre ele era tão grande que chegava a trazer uma dor física quase visceral, lhe roubando o sono a noite.

O único momento de paz que se permitia obter era quando Niki, seu melhor amigo, o encontrava diariamente nos finais de tarde em um local marcado para conversarem sobre as novidades do dia, enquanto espera o irmão buscá-lo.

— Como um ser humano pode ser tão cruel? — O garoto moreno questiona desabando ruidosamente ao lado de Jake num banco da praça onde costumavam se encontrar.

— Dia ruim? — Pergunta sem levantar a cabeça de um projeto pessoal em que estava trabalhando.

— Você não faz ideia do quanto.

— Aqueles moleques voltaram a te atormentar? — Jake interroga tornando sua atenção completamente ao rapazinho de 9 anos ao seu lado.

— Eles não são mais um problema para mim, não se preocupe com isso... Hum... Você comeu hoje, Jakey?

Como resposta, o mais menor desviou o olhar e abaixou a cabeça encarando os pés. O pequeno garotinho de cabelos negros, percebendo o momento de fragilidade do outro, não disse nada a respeito, apenas se pôs a procurar incansavelmente por algo em sua mochila.

— Olha, meu pai ultimamente anda com essa mania estranha de colocar um lanche extra na minha mochila... ele diz que é para o caso de eu ser roubado por valentões. — Dizia sob o olhar curioso do seu amigo ao que ainda remexia sua bolsa, finalmente, retirando dela um pacotinho de papel pardo, o estendendo para Jake. — Para você.

— Niki, eu agradeço muito, mas você realmente não precisa fazer isso sempre que nos encontramos... — Jake o repreende abrindo o pacote, deixando o cheirinho maravilhoso do frango e do bacon presentes no sanduíche penetrar em suas narinas.

— É serio, Jake, é coisa demais para uma criança magrinha, como eu sou, comer! — Ele explicava na tentativa de convencer o mais novo a aceitar a oferta, arrancando uma risadinha do outro.

— Tudo bem. — Falava enquanto mordia o lanche. — Então, por que o seu dia está tão ruim?

— Recentemente eu tenho pensado um pouco em relógios...

— Relógios? — Jake o interrompe confuso. — O que relógios tem haver com seu dia particularmente péssimo?

— Tem tudo haver! Eu acho que eles estão todos errados! — Ele sussurrou a última frase baixinho, como se confessasse um segredo de Estado.

— Oi?

— Exatamente! Pense bem, o Sol nasce as cinco horas, certo? — Jake concorda, ainda não sabendo onde o maior queria chegar. — Então por que contamos como a quinta hora do dia se é a primeira hora solar?

— Não faço a menor ideia... — Ele encarava o maior com a sobrancelha arqueada meio desorientado, não era segredo para Jake que seu amiguinho era a criança mais inteligente que conhecera, mas as vezes o garoto extrapolava um pouquinho em sua ideias. — Deixa eu ver se eu entendi... Você está chateado porque os relógios estão errados?

— O que? Não! Estou chateado porque hoje na aula de geografia eu propus como projeto para um trabalho valendo nota que todos atrasássemos 5 horas nos relógios para que o horário condize-se com a verdade... Assim o Sol poderia nascer as 00:00 horas.

— E o que o seu professor disse?

— Ele disse que seria burrice tomar como referencial o nascer do Sol para acertar os relógios, já que não é uma constante confiável, porque em épocas como o inverno e o verão o tempo de luz solar varia demais. — Ele explicava com um pouco de raiva e frustração tomando a sua voz. — É tão injusto que o ponto mais alto do Sol no céu seja um referencial confiável que o nascer dele, não concorda?

— É, realmente, muito injusto... — Disse se controlando para não rir da situação, já que o pequeno tratava o assunto com bastante seriedade, defendendo seu ponto de vista.

— Você me acha louco por não pensar como as crianças da minha idade? — Perguntou olhando para os olhos do amigo, que deixou o sanduíche pela metade para retribuir o olhar.

— Sinceramente? Eu acho que não ser normal é que te torna ainda mais precioso. — Declarou com franqueza nos olhos antes de retornar a devorar seu lanche.

— Jungwon diz que se não soubesse que eu tenho 9 anos ele diria que eu andei fumando erva estragada por aí... — O moreno divaga arrancando uma risada sonora de Jake, que balança a cabeça em negação.

Little Mouse | JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora