01. O melhor do país

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"Não adianta chorar por isso

Eu estou indo direto para o castelo

Eles querem fazer de mim seu rei"

Castle | Halsey

RAELYNN

07 de janeiro de 2019 | 109 dias para Daytona

Meu peito tinha sido dilacerado.

Com um suspiro pesado, juntei as pernas, deixei-as eretas e curvei a coluna até que as palmas das mãos encostassem no tatame. Permaneci daquela forma por longos segundos, os olhos fechados e a mente bagunçada.

Costumávamos chegar alguns minutos antes do início do treino para alongar e aquecer, mas decidi que precisava de mais tempo sozinha naquele dia. Por isso estava ali, quase 15 minutos antes do horário em que os atletas geralmente chegavam, solitária e cercada por um silêncio denso.

Um acidente de carro era o motivo pelo qual eu me sentia daquela forma. Dois dias antes, no sábado, fomos comunicados de que Courtney Reed — a oficial treinadora do Chicago Falcons há 20 anos — sofreu uma colisão frontal na estrada que provocou uma lesão grave em suas pernas. Ela não poderia nos treinar por um longo período e estávamos a pouquíssimo tempo das Nacionais, então aquilo foi um baque e tanto para nós, principalmente para mim.

Courtney era a peça mais importante do time, assim como os diversos treinadores do ramo espalhados pelo mundo. Nós, atletas, éramos a parte física e técnica de tudo, mas era ela quem pensava e arquitetava todo e qualquer movimento que compunha a rotina. Se havia algo de errado, por menor que fosse, Reed sempre era capaz de consertar; se algum de nós precisava de auxílio, ela estava lá para nos ajudar e instruir ao melhor caminho; se não nos esforçássemos o suficiente, não haveria nenhuma hesitação de sua parte para nos dar uma bronca do jeito elegante, sobretudo eficaz, que apenas ela conseguia ter.

Em resumo, não era somente nossa treinadora, mas nossa segunda mãe. Para muitos de nós, até mesmo a primeira.

Mesmo que já tivesse passado por diversos times e experiências ao longo da carreira, ser treinada por alguém diferente parecia estranho àquela altura, já que ela carregava um enorme significado na minha vida — era o mais perto de uma figura materna que já tive, já que minha mãe biológica não se importava muito comigo.

Para piorar a situação, não fomos informados sobre quem a substituiria, ainda que o treino começasse em menos de meia hora. Tudo que recebemos foi uma mensagem da treinadora dizendo que "seria uma surpresa incrível e iríamos amar". Eu confiava em sua palavra, mas algo me dizia que "amar" era um sentimento muito forte para descrever o que eu sentiria. Incidentes que afetavam minha vida pessoal e profissional ao mesmo tempo me aterrorizavam.

Continuei meu alongamento, esticando as pernas e os braços e enfim posicionando-me na ponta do tatame. Com os pés juntos e os braços levantados, impulsionei meu corpo para frente e iniciei uma sequência de tumbling. Repeti-a diversas vezes e costurei-a com outras, dando-me apenas alguns segundos para respirar e me recompor. A adrenalina, o suor e os músculos alongados gritando por piedade eram minha dose diária de energia.

Então, ouvi a porta sendo aberta e conversas reverberando pelo salão.

— Eu aposto na Elizabeth Fillmore! — disse uma voz animada, que logo reconheci ser da minha melhor amiga, Emma. As madeixas loiras e a pele alva entraram em meu campo de visão e ao seu lado estavam Hyun e Luke.

— Você está louca? Ela é treinadora do Cleveland! — Luke respondeu e fez uma careta enquanto colocava sua mochila no banco. — Mas eu não iria reclamar se fosse, ela é uma das melhores. Só que, vamos combinar, nós merecemos o treinador. O melhor do país.

Cheering Beside You: vol. 1, parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora