02. Milionário babaca

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"Me faça um favor e pare de se gabar

Talvez um vá se foder seja gentil demais"

Do Me A Favour | Arctic Monkeys

RAELYNN

Eu me sentia perdida como um animal fora de seu habitat natural, embora o tatame fosse o meu. A dinâmica daquele primeiro treino sem Courtney estava sendo catastrófica.

O péssimo diálogo daquele homem me fazia querer fugir para bem longe. Sempre soube que ele era arrogante — o cara não fez o menor esforço para ser gentil na primeira vez que nos vimos, tampouco nas seguintes —, mas ainda tinha uma pequena esperança de que não seria tão ruim assim.

Após se apresentar ao time, como se fosse um desconhecido, tudo que fez foi dizer: "me mostrem o que vocês têm da rotina". Apenas isso e nada mais. Não que eu esperasse um discurso elaborado e emotivo vindo de alguém tão frio, mas pelo menos algo como "espero que tenhamos um bom fim de temporada" ou qualquer menção a Reed e toda a situação em que ele estava diretamente envolvido.

Qualquer coisa estúpida. Mas, não. Ele não se importava com nada nem ninguém além de si mesmo.

Quando o conheci, há mais ou menos quatro anos, eu o admirava como uma fã boba. Nunca tive conhecimento de sua vida pessoal e nem me interessava tanto — ainda bem, porque o cara era um completo mistério —, pois tudo que me importava era seu talento e sua carreira. Roberts não frequentava muitos eventos na época e trocava de time a cada temporada, então demorei para conhecê-lo pessoalmente.

A Raelynn que era uma verdadeira fangirl sofreu uma das maiores decepções da vida com aquele babaca. Sorrindo feito uma criança e com os olhos brilhando, falei para ele sobre o tamanho da minha admiração e como eu me inspirava nele para ser uma atleta cada dia melhor. O que recebi foi um olhar semicerrado e quase desprezível, como se, além de não me conhecer, ele não desse a mínima para os meus sentimentos. Engoli o nó na garganta e tentei manter a conversa, ainda que seu silêncio deixasse claro o quanto minha presença o desagradava.

Quando ele enfim decidiu dizer algo, foi como um balde de água fria caindo na minha cabeça: "Se você se inspirasse tanto assim em mim, saberia que cheguei até aqui por mérito próprio e não porque tentei puxar o saco de alguém que está em uma posição superior. Não vou te dar privilégios em troca de elogios. Nem te conheço, na verdade, então não se dê ao trabalho."

De início, fiquei boquiaberta e chocada. Mal consegui respirar. Depois, me recompus e falei, na mesma entonação mesquinha que a dele: "Não acredito que eu admirava um babaca como você".

Passei dias me sentindo mal, perguntando-me o que falei para fazê-lo pensar que eu buscava privilégios. Depois, fiquei irritada. Muito irritada. Se Ethan soubesse de tudo que passei para conquistar cada mínima coisa que eu tinha, nunca teria dito aquele absurdo. E o modo como me julgou tão mal, mesmo sem me conhecer, era o pior de tudo.

Por ele ser enorme no ramo, passei um bom tempo com medo de que Roberts tentasse me prejudicar por conta disso. No entanto, nada aconteceu. Comecei a vê-lo em todos os eventos seguintes, como uma maldição, e minha língua afiada não me permitiu ficar em silêncio — às vezes, era ele quem iniciava a conversa com um deboche desdenhoso, e em todas elas eu revidava.

Nunca vi um ego tão inflado como o dele. Minha admiração era tão genuína que foi completamente ridículo a interpretação que ele teve, ainda mais sem nenhum embasamento. Além do deboche em dizer que nem me conhecia — uma ova —, achou que eu precisava dos "privilégios" que ele poderia me oferecer.

Cheering Beside You: vol. 1, parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora