03. Atrevida

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"Eu te odeio na maioria dos dias

Você tem testado minha fé e minha paciência"

Hard Place | H.E.R.

RAELYNN

Assim que cheguei, tomei um longo banho e preparei uma xícara de chá para terminar um seminário da faculdade. Nosso treino noturno começaria um pouco mais tarde naquele dia, já que Caleb nos informou que Ethan ainda estava se organizando em relação aos seus horários.

Enquanto anotava e discorria sobre os métodos contemporâneos de finanças, meu celular acendia inúmeras vezes no canto da escrivaninha com as múltiplas notificações, quase todas do grupo do time — as demais, que ignorei com prazer, eram de meu pai. Não fiz questão de abri-las porque: 1) eu sabia que eles estavam conversando sobre Ethan Roberts e eu não possuía o menor interesse nele ou no infeliz fato de ele ser nosso novo treinador; 2) eu realmente precisava finalizar aquele trabalho.

Duas horas depois, quando o relógio marcou 20h25, levantei e fui me trocar. A tentativa de não pensar em toda a situação do time funcionou parcialmente durante o tempo que passei focada no estudo, mas conforme o moletom era substituído por um top de ginástica e meus olhos analisavam meu reflexo, era difícil fazer com que minha mente esquecesse que, a partir daquele dia e nos próximos — longos — meses, seria Roberts e sua completa arrogância quem eu veria no centro de treinamento.

Ninguém poderia me julgar por guardar rancor. As coisas nunca foram fáceis para mim, sempre precisei batalhar o dobro para conquistar algo grandioso. Por isso, a forma como ele julgou a minha admiração, que sempre foi verdadeira, foi um enorme baque para mim.

Quando estava fechando minha mochila, ouvi uma batida específica na porta. Não me incomodei em abri-la, pois era o toque que eu e Emma criamos no primeiro ano. Dez segundos depois, minha melhor amiga apareceu em meu campo de visão e se jogou na cama, vestindo uma calça de moletom da faculdade e um top preto.

— Você está atrasada. Onde se meteu? Nós ficamos uma hora conversando no grupo e você nem leu as mensagens.

Fiz uma careta e joguei meu moletom em cima dela, que me lançou uma expressão tediosa.

— Não estou a fim de ver todo mundo falando sobre o treinador novo. — Seu semblante transformou-se em um zombeteiro e continuei: — Não me olhe assim, o cara é insuportável.

Emma revirou os olhos e jogou o moletom de volta para mim, no mesmo segundo em que coloquei a mochila nas costas.

— Você fala dele com tanta raiva. Já conversaram antes? — soou desconfiada, semicerrando as pálpebras.

— Já te falei que não.

— Hmmm... — murmurou. Depois, mudou de assunto, para a minha sorte: — Você não acha que ele vai melhorar ao longo das semanas?

Não, eu não achava. Já tinha conhecido pessoas como ele o suficiente para saber que não existia nada, nem ninguém, capaz de mudar aquele comportamento.

Ignorei sua pergunta, saindo do quarto e ouvindo seus passos atrás.

Emma era minha vizinha em um dos prédios do Jordan Hall, o complexo de dormitórios da universidade. Cada apartamento possuía um quarto, um banheiro, uma sala dividida por um balcão de uma cozinha e uma sacada. Os alunos do terceiro, quarto e quinto ano tinham o privilégio de morarem em apartamentos individuais, mas nos dois primeiros anos fomos roommates em outro bloco. Apesar de sermos de cursos diferentes — Emma estudava arquitetura e eu economia —, sempre conseguíamos passar um tempo juntas fora do ginásio.

Cheering Beside You: vol. 1, parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora